Sempre Foi Você - Malila

14.

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POV MARAISA

Para minha sorte, quando cheguei em casa naquela noite, Fabiano já estava dormindo. Me troquei em silêncio, tirei a maquiagem e voltei a ser a Maraisa que ele queria que eu fosse, ou pelo menos fingir ser essa pessoa.

A noite havia sido ótima! Nossas conversas me fizeram extremamente bem. Inclusive, ver Maiara e Marília conversando como se fossem melhores amigas foi incrível, até mesmo os assuntos que eu não dominava, como por exemplo, coisas acadêmicas ou papos mais cabeças.

Ver Marília falar sobre a paixão que sentia pela sua profissão, sobre pautas sociais e a maneira como ela enxergava o mundo, era delicioso e apaixonante. Ela era apaixonante! Marília era tão inteligente e tão complexa, e esses eram alguns dos motivos pelos quais eu estava encantada por aquela mulher.

Além disso, flertar mais uma vez com a loira havia sido inebriante e renovador, como se aquele flerte me desse mais uns dez anos de vida. Mas claro que, no inferno que era a minha cabeça, essas sensações logo passaram e só sobrou a culpa. Adormeci com culpa.

~•~

Quatro dias depois, fui ver a Maiara no hotel, já que Fabiano provavelmente arrumaria uma cena logo após a ruiva ir embora lá de casa, caso sua visita viesse a acontecer. Eu preferia evitar esse tipo de situação, aliás, muitas coisas eu preferia evitar.

Dobrei mais uma blusa e a coloquei dentro da mala. A cama da Maiara estava simplesmente um caos, como se essa garota nunca tivesse dobrado uma peça de roupa na vida. Eu estava tentando lhe ajudar a organizar suas coisas e as bugigangas que ela havia comprado, já que a ruiva voltava pro Rio de Janeiro em dois dias.

Assim que terminei, caminhei até uma espécie de cômoda que havia no quarto e passei também a organizar alguns itens que Maiara havia deixado ali, como por exemplo, potes de cosméticos e jóias. Eu estava tão distraída na minha atual tarefa que tomei um susto quando a voz da minha irmã soou.

-Irmã, o que rola entre você e a Marília?

Imediatamente, minhas mãos soltaram o pote de creme que eu segurava, ele caiu na cômoda e esbarrou em outros potes. Tentei não deixar que aquilo virasse um caos, mas minha mão acabou esbarrando em outras embalagens e todas elas viraram em cima da cômoda num efeito dominó, o que causou um barulho terrível. No mesmo instante, paralisei, de vergonha e choque.

Da onde ela tirou isso? Por que está perguntando isso?

-Do que você tá falando? -minha voz saiu esganiçada.

-Vocês são amigas com benefícios, ficantes, namoradas ou amantes?

Paralisada de novo.

-Levei menos de vinte minutos pra perceber. -continuou. -Inclusive, quando sugeri que você se relacionasse com uma mulher, estava me referindo justamente a Marília. Aliás, aquela ali cheira a couro.

Silêncio.

-A maneira como vocês se olham, com cumplicidade, como se dividissem um segredo que só as duas sabem. Como você a admira de um jeito intenso, como a Marília te come com os olhos, e não tô falando de: "Nossa, como ela é gostosa!", mas sim de: "Eu amo essa mulher, ela me fascina!".

Deixei meus ombros caírem e me sentei na cama.

-Tá tão óbvio assim?

Ela assentiu e se sentou do meu lado.

-E tá tudo bem, irmã. -me abraçou e eu deitei a cabeça no seu ombro. -Quer me contar?

-Acho que sim.