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POV MARÍLIA

Observei todos os objetos destroçados pelo chão do quarto e, imediatamente, me senti mal. Após desligar a ligação com a Maraísa, acabei tendo um acesso de raiva e arremessei qualquer coisa que encontrei pela frente. Eu não era assim, nunca fui, e me detestava por ter agido dessa maneira, mas as coisas que escutei haviam me tirado o chão. Maraísa sempre havia me tirado o chão, mas infelizmente, dessa vez, não foi de um jeito bom.

Por que isso está acontecendo comigo? Eu não fui boa o suficiente? Eu não lhe tratei bem o suficiente? Eu não lhe amei da maneira correta?

Há tempos, Maraísa tinha problemas emocionais e alguns dias eram mais complicados do que outros, mas isso não era desculpa. Nada era desculpa para ela brincar com os meus sentimentos, nada lhe dava esse direito!

No início, não acreditei no que Maraísa dizia. Eu tinha certeza absoluta de que ela sentia algo por mim, pois via isso nos seus olhos. Mas depois, tudo começou a fazer sentido. Aquele papo de que não tínhamos um futuro juntas e de que ela sempre seria do marido começou a fazer sentido. Todas as vezes que ela flertava comigo e depois voltava atrás começaram a fazer sentido. E o fato dela não querer se separar do Fabiano para ficarmos juntas, também.

Tudo sempre esteve ali, na minha frente, na minha cara, e eu não quis ver, eu não quis enxergar. Eu estava cega demais, apaixonada demais para perceber que Maraísa havia me usado como válvula de escape, como uma fuga do seu relacionamento, ela havia me usado como uma experiência para se sentir bem. E depois, desistiu e me descartou como lixo ao perceber que o que fazia sentido era estar para sempre nas garras do marido.

O sentimento por parte dela podia até haver existido, mas não era concreto, era algo mínimo e simples, talvez apenas prazeroso. Seu sentimento era pequeno perto do meu amor, perto do grandioso envolvimento que sempre esteve dentro de mim.

Um erro, foi isso que ouvi. A nossa relação havia sido apenas um erro pra ela. E agora, após aquela noite em claro, pensando em absolutamente tudo, eu também conseguia enxergar isso. Cometi um erro quando pensei que Maraísa largaria a falsa segurança que Fabiano lhe proporcionava, para ficar comigo. Cometi um erro quando pensei que ela me amava da mesma maneira que eu a amava.

Senti tanta dor e tristeza, me afoguei em sentimentos ruins, incluindo raiva, muito raiva. Acho que nunca cheguei a odiar tanto uma pessoa como odiei Maraísa naquela noite e em muitas noites seguintes.

Confesso que, apesar de tudo, nos dias que se seguiram, tentei ligar. Eu pretendia argumentar e pedir uma explicação que doesse menos. Mas Maraísa não me atendeu, ela não deu nenhum sinal de vida ou de consideração para com os meus sentimentos. Maraísa não se importava, ela não sentia nem compaixão, nem pena de mim, agora estava claro como água.

Pensei em desistir do projeto na Bolívia, por dor, desânimo e tristeza, mas também porque cheguei a pensar que Maraísa podia ter me falado tudo aquilo por estar em perigo. Conversei sobre isso com a Evelin.

Evelin e eu já estávamos nos dando melhor após a merda que eu havia feito com ela, por isso, decidi desabafar. Suas palavras me mostraram que existiam pessoas ruins e que brincavam com os sentimentos dos outros e, infelizmente, Maraisa era uma delas. Além disso, Evelin finalizou dizendo que Maraísa era uma grande de uma filha da puta. Eu sabia que todas as suas palavras podiam ser tendenciosas, mas diante de tudo que havia acontecido, faziam sentido.

Já uma outra amiga, pediu para que eu não desistisse e que pensasse mais em mim, na minha vida, na minha carreira e nas crianças bolivianas que estavam dependendo do nosso projeto. Disse também que, caso Maraísa estivesse em uma situação ruim, nada aconteceria, afinal, ela tinha conseguido se virar nesse casamento durante anos, então porque não conseguiria fazer isso por pouco mais de um mês?

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