Capítulo 1

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Duzentos anos depois...

O ritual diário de Korafane era se levantar assim que o sol nascia, depois de comer ele arrumava sua humilde casa que ficava na fronteira entre Aqualor e Kaelcair. Era uma necessidade deixar tudo arrumado, pois a casa era pequena e Korafane era do tipo que odiava começar a trabalhar com tudo fora do lugar. Tudo bem ficar desarrumado ao longo do dia, mas ninguém merece objetos importantes fora do lugar. Mesmo que ele não admita, Korafane acabou criando manias de arrumação e gosta de tudo na sequência, seja de números ou cores.

    Ao se aproximar da janela para passar um pano no vidro, ele parou por um momento para observar o horizonte. As nuvens acinzentadas que se aproximavam lentamente de sua casa deixava claro que a tempestade de hoje não seria agradável. O brilho dos trovões acima das nuvens era um espetáculo à parte, e também, intimidante. Tempestade não é um sinal bom, de maneira inevitável, o que controla o clima por região é o estado emocional dos Deuses. Sulhaul, Deus de Aqualor simulava terríveis tempestades antigamente, mas elas pareceram ficar mais amenas. Isso dependia muito, e era complexo. Já faziam bons 160 anos que Korafane não via o Senhor criador de sua existência.

     Respirando fundo, o elfo de cabelos vermelhos e se pôs a terminar sua tarefa diária. Em menos de trinta minutos tudo estava pronto, e então, arregaçando as mangas ele abriu o seu livro de medicina e pegou tudo o que precisava. Medicina não era sua especialidade primordial. Korafane por ser um elfo de fogo entendia de pedras preciosas e metais, antigamente, e coloque antigamente nisso, ele era um ótimo ferreiro. Acontece que para um elfo que vive por tanto tempo, nunca é tarde para começar novos estudos. Longe das espadas e das pedras preciosas, ele começou a estudar medicina natural por necessidade própria.

    Bem, melhor começar a trabalhar logo e aproveitar a luz natural, disse o elfo para si mesmo. Apesar de Korafane não ser um mestre em medicina natural, hoje em dia ele tem conhecimento o suficiente para tornar a prática agradável. Amassar folhas, separar elementos, ferver líquidos...Existia algo nessa prática que era tão detalhista que simplesmente era muito bom e satisfatório, e no final das contas, aquelas poções e remédios podiam ser de grande utilidade para alguém.

    Hoje em dia a relação entre humanos e criaturas mágicas tornou-se complicada. Nem todos os humanos e criaturas mágicas se odeiam, geralmente longe das cidades principais a relação podia ser até boa, as pessoas pareciam ter a mente mais aberta. Já no centro das cidades, as criaturas mágicas tinham altas chances de serem tratados como forasteiros.

    Passaram-se três horas e o dia claro se tornou noite devido à tempestade. Ainda era possível trabalhar, mesmo com pouca luz e todo aquele barulho. Naquela tempestade qualquer louco que tivesse a coragem de atravessá-la deveria ser por motivos urgentes, e realmente foi naquela tarde que a urgência surgiu.

     Entre o som de trovões e gotas de chuva, o som de cascos de cavalo se misturaram no ar. Imediatamente Korafane se aproximou da janela. Aquele cavalo e manto eram conhecidos. O cavalo alto marrom escuro com manchas brancas e o manto azul índigo com detalhes de folhas douradas nas bordas usava o capuz. Havia mais alguém, uma criança! A mulher que montava o cavalo desceu e segurou a criança nos braços, e de forma natural, o cavalo procurou um abrigo por perto. Sem demora, Korafane abriu a porta, e ele nem precisou perguntar.

— Korafane, rápido, ele foi envenenado por uma das Pragas Terrenas.

— Coloque na mesa. — Respondeu o ruivo.

   Uma vez na mesa, Korafane pôde analisar a criança, à primeira vista, por conta de seus traços, parecia ser uma menina de tão delicado que era o rosto, e o cabelo longo ondulado cobre não ajudava em nada a fácil identificação.

A Jornada de Korafane e RucaOnde histórias criam vida. Descubra agora