16

300 37 4
                                    

Rafaella
-
Acordei com o sol e o leve cheiro de couro e especiarias. Esse foi o primeiro sinal de que algo estava errado, já que eu usava exclusivamente aromas de lavanda no meu quarto. O segundo sinal era a cor dos lençóis. Seda cinza ardósia, luxuosa em sua simplicidade e amarrotada com o sono, mas muito longe dos de cor creme macios que eu comprei dois anos atrás. A névoa do sono permaneceu enquanto eu olhava para o amassado no travesseiro ao lado do meu e tentava entender o que aconteceu na noite passada. Eu estava claramente no quarto de uma mulher. As cores escuras, o relógio e os portas retratos na mesa de cabeceira eram um sinal claro. Eu tinha saído para beber e ficado com alguém na casa dela?
Improvável. Eu tinha passado a noite na casa de Marcella? Mas seus quartos de
hóspedes não eram assim e...

— Você está acordada.
Um grito arranhou minha garganta com a voz inesperada atrás de mim.
Eu me virei, meu coração trovejando de pânico até que quem falou saiu do banheiro e entrou em foco.
Cabelo escuro. Olhos castanhos. Rosto esculpido.

Gizelly.

Este era o quarto dela. Por que diabos eu estava... As memórias de ontem bateram em mim tão rápido e forte que tiraram o ar dos meus pulmões. O bilhete no meu quarto, eu ligando para Gizelly, mudando-me para o apartamento dela, ela me dando banho ... Oh, Deus. Medo e mortificação coagularam em meu estômago. Eu teria vomitado se tivesse comido algo mais do que um croissant ontem.

— Você não queria ficar sozinha, então eu deixei você ficar no meu quarto durante a noite.- Gizelly endireitou a manga de sua blusa. Eram oito da manhã, mas ela já estava vestida com um de seus trajes sociais para o trabalho. Seu cabelo estava perfeitamente penteado, seu rosto perfeitamente maquiado.  — Isso foi uma exceção única, dado o que aconteceu, mas você vai dormir no quarto de hóspedes a partir de agora.

Está lá por uma razão. Eu fiz uma careta, tentando reconciliar a mulher  fria na minha frente com aquela que me carregou para seu quarto e cuidou de mim ontem. Um rubor percorreu minha pele quando me lembrei do calor de seu
corpo atrás de mim e do rastro de seu toque contra minha pele nua. Não tinha sido sexual, e eu estava muito em choque para reagir na ocasião, mas a memória acendeu uma queimadura suave que me aqueceu de dentro para fora. Os olhos de  Gizelly escureceram como se ela pudesse ver diretamente em minha mente. — O café da manhã será servido em meia hora. Vejo você lá então.

Ela saiu antes que eu pudesse responder. Achava que ela não era uma pessoa matinal, talvez ela fosse de lua ou só fosse bipolar mesmo.

Uma dor de cabeça latejava atrás da minha têmpora enquanto eu tentava entender as últimas vinte e quatro horas. Ontem de manhã, acordei na minha própria cama me sentindo
bastante otimista sobre a situação do meu perseguidor. Agora, eu estava morando na casa de Gizelly Bicalho porque o meu maldito perseguidor invadiu a minha. Quem quer que fosse, sabia onde eu morava e podia arrombar um dos prédios mais seguros da cidade.
O medo diminuiu as batidas do meu coração. Está bem. Você está bem, Rafaella. Talvez ele pudesse invadir o Malibu, mas não poderia invadir a
cobertura de Gizelly. Certo?! Ia pegar meu colar, apenas para perceber que não estava usando um. Gizelly tinha trazido apenas o essencial na noite passada, o que significava que meus cristais estavam no andar de baixo no meu quarto. A mordida de medo se intensificou com o pensamento de voltar ao meu antigo apartamento. Adorava aquele apartamento, mas não conseguia me imaginar voltando depois que o arrombamento destruiu sua santidade.
Eu odiava meu perseguidor por destruir aquela paz quase tanto quanto o odiava pelos bilhetes. Depois de todos esses anos, eu ainda não conseguia entender por que ele tinha me escolhido como alvo. Foi a minha presença nas redes
sociais? Minha aparência? Ou eu fui apenas azarada o suficiente para
chamar a atenção de algum idiota que tinha muito tempo em suas mãos? Forcei uma inspiração profunda em meus pulmões.

Obsessão (Girafa) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora