Obsessão (Girafa) G!P

06

Rafaella
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Fiquei mais uma hora no lar carioca, conversando e resolvendo quebra-cabeças com Catarina. Nós migramos para a sala da comunidade depois que eu controlei minhas emoções, e passamos o resto do nosso tempo juntas montando uma paisagem montanhosa de quinhentas peças. Eu teria ficado mais tempo, mas precisava me preparar para a festa de arrecadação de fundos. Eu já estava ficando sem tempo; quando cheguei em casa, eu tinha pouco menos de duas horas antes de Gizelly me pegar. Uma onda de nervos bateu contra minhas entranhas e abafou a melancolia persistente da minha visita à Catarina. Esta noite seria a primeira vez que passaria uma noite inteira com Gizelly. O jantar da Lâncome não contava, pois não havíamos conversado muito durante o jantar em si. Liguei o chuveiro e entrei sob o jato de água quente, tentando não entrar em pânico com o que estava à minha frente. Gizelly Bicalho era apenas uma mulher.
Não uma rainha, mesmo que fosse mais rica do que uma, e também não era uma deusa mesmo que se parecesse com uma. Eu não tinha nada para ficar nervosa.

Como eu estava sem tempo, lavei meu cabelo na ducha, me depilei e me esfoliei com velocidade recorde, em vez de demorar no banho como eu queria.
Mas apesar da minha pressa, eu ainda estava fazendo minha maquiagem enrolada no meu roupão quando a campainha tocou. Gizelly não deveria aparecer por mais meia hora. A menos que... Meu batimento cardíaco acelerou quando o arrepio inquietante que
experimentei no trem passou pela minha mente.

Pare com isso Rafaella. Não é ele. Eu não sabia por que estava me preocupando tanto quando ele ficou em silêncio por dois anos, mas a última coisa que eu precisava era manifestar meu perseguidor de volta à minha vida, concentrando muita energia nele.

Eu pulei quando a campainha tocou novamente.
Sempre foi tão alta?

Tampei meu rímel e corri para a sala de estar enquanto meu coração batia o triplo.

Não é ele.
Não é ele.

Desacelerei até parar na porta da frente e espiei pelo olho mágico com o coração na garganta. Um segundo depois, o alívio esfriou meus pulmões e abri a porta. Gizelly estava no corredor, parecendo ainda mais devastadora do
que o habitual em um macacão preto cheio de pedras de brilhante. Com seu cabelo perfeitamente ondulado e soltos, ela poderia se passar por uma estrela de cinema a caminho do Oscar. Um formigamento de consciência se espalhou pela minha pele,misturado com curiosidade pela caixa branca em suas mãos. De tamanho médio e plana, amarrada com um laço dourado sedoso que tampava o logotipo. Afastei meus olhos da caixa e cruzei os braços.

Não se distraia com o objeto brilhante, Rafaella.

— Você está adiantada..- A arrumação era a minha parte favorita de um evento. Às vezes, eu gostava mais do que o evento em si. Eu não gostava de ser apressada, mesmo que fosse minha culpa por não ter saído do Lar de idosos mais cedo. Ainda assim, pensei que tinha meia hora para mim.

— Você não está vestida.- O olhar de Gizelly passou do meu rosto semifeito para os meus dedos dos pés nus e pintados com uma frâncesinha. Algo inescrutável passou por seus olhos por uma fração de segundo antes de desaparecer.

— Porque você está adiantada.
Ela ignorou minha fala. — Posso entrar? Fiquei tentada a responder não e dizer a ela para voltar no horário combinado, mas como ela tecnicamente era a dona do apartamento, abri mais a porta e dei um passo para o lado. O ar mudou no minuto em que Gizelly entrou. Tornou-se mais pesado, mais quente, como a primeira flor abafada do verão depois de uma estação de chuvas de primavera. O calor penetrou através do tecido felpudo grosso do meu roupão e
enrolou no meu estômago enquanto seus olhos varriam a sala, observando a tigela de cristais na porta da frente, a planta de bambu no peitoril da janela e o canto aconchegante de um mini estúdio  que eu configurei para sessões de foto de estilo de vida. Ela parou na Girafa felpuda apoiada nas almofadas do meu sofá. A diversão encheu seus olhos.