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Rafaella
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Evitei Gizelly com a determinação de uma fugitiva correndo do FBI na semana que antecedeu a Nova York. Foi surpreendentemente fácil, considerando o quão cedo ela saía de manhã e o quão tarde ela voltava à noite. Suspeitei que ela pudesse estar me evitando também, e meio que esperava que ela desistisse de me acompanhar até a seção de fotos.
Sem essa sorte. Na manhã do meu ensaio com a Lâncome, encontrei-me a 10 mil metros de altura, sentada em frente a uma mulher que parecia tão
determinada a me ignorar quanto eu a ela. Exceto por uma simples troca de bom-dia, não tínhamos nos falado desde que saímos de casa.

Bebi minha água com limão e dei uma espiada em Gizelly. Ela estava trabalhando em seu notebook, sua testa estava franzida em concentração. Seu sobretudo estava no assento ao lado dela, e ela havia levantado as mangas de sua camisa social, que por sinal estava linda. Para revelar seu relógio e antebraços bronzeados.

Como eu não tinha percebido o quão sexy os antebraços eram até agora?
Olhei para onde seu relógio brilhava contra sua pele bronzeada. Manu estava certa. Havia algo sobre a Gizelly usando relógios...

— Algo em sua mente?.- Gizelly não ergueu os olhos de seu notebook.

Eu não estava fazendo nada de errado, mas meus batimentos cardíacos colidiram como se ela tivesse me pego roubando.

— Só pensando na seção de fotos.-  Menti.

Tomei outro gole de água.  Entre a tensão no avião e meu ensaio com a Lâncome naquela tarde, fiquei surpresa por conseguir manter qualquer coisa, mesmo líquidos, no estômago.

—... O que você vai fazer enquanto eu estiver no set?.-  Perguntei. — Vai para o escritório de Nova York?
A GBHair e a GB Security estava sediada no Rio de Janeiro, mas tinha escritórios em todo o mundo.

— Eu não vou voar com você para Nova York para que eu possa me esconder em outro escritório.- Gizelly digitou algo em seu teclado. — Eu vou acompanhá-la no set.

Surpresa explodiu em meu peito, seguida por uma pontada de
ansiedade.

— Mas a sessão de fotos pode levar horas.

— Eu sei.

Esperei por uma elaboração que nunca veio. Eu segurei um suspiro. Gizelly era mais volúvel do que um termômetro quebrado. Por falta de algo melhor para fazer, acomodei-me mais profundamente em meu assento e examinei o luxo que nos cercava. O jato particular de Gizelly parecia uma mansão no ar. Assentos de couro creme amanteigado formavam áreas de estar íntimas, e um elegante tapete azul marinho abafava os passos das duas atendentes elegantemente equipadas que pareciam ter saído da última edição da Vogue.

Além da cabine principal, o jato também ostentava um quarto, um banheiro completo, uma área de triagem para quatro pessoas e uma mesa de jantar posta com pratos de fundo magnético e talheres projetados para permanecerem parados durante a turbulência.

Devia ter custado uma fortuna.

Gizelly parecia tão confortável com seu ambiente opulento quanto alguém que cresceu com uma colher de prata na boca, mas minha pesquisa me disse que ela veio de uma família normal de classe média alta. De acordo com a única entrevista pública que ela já havia dado, seu pai tinha sido engenheiro de software e sua mãe administradora de
escola.

— Por que você escolheu a segurança privada, além de produtos de cabelo?.- Perguntei, quebrando o silêncio. — Você poderia ter ido para qualquer ramo além desse. Gizelly se formou  na melhor universidade. Ela simplesmente poderia ter conseguido um emprego em qualquer lugar depois da formatura, mas em vez disso, ela escolheu construir suas próprias empresas do zero, sem garantias de sucesso, em um campo que poucos graduados tocaram.

Obsessão (Girafa) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora