"Provida de beleza"

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Klaus Hans

- Aonde tu estavas?

- Oi minha vida. Tudo bem? - Ela olhava-me como se fosse inocente. Talvez naquele momento não fosse. Não foi.

Levantava meu olhar sanguíneo e ela franzia o cenho receiosa.

- Aonde estiveste depois das aulas?

- Estava com a minha amiga-

- Shh. - Me aproximava idólatra dela e segurava seu rosto macio e bonito pra caralho.

- Felina...- Erguia sua face.

Ela me olhava confusa, culpada, mas calada.

- Tu estiveste mesmo com a tua amiga? - Sorria fanático.

- S-sim.

Respirava tão fundo que sentia meus pulmões se afogarem de ar.

- Tu sabes que eu não gosto de mentiras. - Alisava sua face.

- Eu sei vida, eu posso explicar. Ele...

E tudo se apagava e cortava para cenas mórbidas, até ver seu corpo desacordado em meus braços e me perguntar o que havia acontecido.

O que acabava de fazer.

Acordo repentinamente a suar frio.

Levanto-me e corro para a casa-de-banho e abro rapidamente a cartela de comprimidos e os consumo com certa voracidade.

O tal efeito colateral.

São 6h00 e impeço-me de apanhar sono. Na verdade depois de vivenciar meu derrame novamente não pude voltar a dormir.

Minha cabeça começa a latejar e oiço ruídos tão próximos quanto distantes.

Está tudo na minha cabeça. Faz efeito, caralho!

Olho para a cartela de comprimidos que foi atirada para um canto aleatório da casa corrosiva.

Desafio-me a entrar no quarto dela.

A verdade é que não durmo no mesmo, recuso-me a fazer o mesmo sem ela. Sou quebrado e ela me completaria.

Mal entro e o que resta do que foi electriza-me por completo. E suas fotos espalhadas pelo quarto trazem-me luz.

E não há dosagem no mundo que a supere.

Invariavelmente minha mais eficaz droga.

Fico por cá bebendo das lembranças dela. Será que consigo dessa vez? Será que a mereço?

Embora minha razão sentencie-me, minha existência chama a sua dona. Eu sou completamente imerso à ela.

...

Começo a me aprumar para o encontro.

Que desculpa arrumaria agora para não buscar-lhe de carro? Aqueles médicos deram um jeito de tirarem-me a carta de condução, desde então ando muito à pé.

Minha então família havia sugerido a contratação de um motorista que usaria meus carros de modo a que me sentisse mais normal mas eu recusei. Preferi deixar todos eles perfilados na minha garagem da casa em Berlim.

Intento usar minhas roupas escuras mas fui repreendido por minha mente.

"É tudo sobre as primeiras impressões" - Como o doutor Bastian costumava dizer.

Nem de longe seria a primeira.

Nala Angela Quinn....minha felina.

Recordo-me de como a chamava e porra! Há quanto tempo que não há chamo assim. Há tanto que não faço muita coisa, na verdade.

Kla-us Ha-nsOnde histórias criam vida. Descubra agora