"Esperando por você,
mesmo da forma que me trata
Você é meu amor
mesmo quando me larga"
STUCK ON YOU - GIVEONSofia
Talibã: Me abraça, Soso.
O homem de quase dois metros que sempre exalou toda confiança do mundo em só um olhar, agora está agachado à minha frente, com os olhos de gaviões em cima de mim, aparentemente cansados. Engulo em seco, sentindo meu coração idiota errar todas as batidas que praticamente gritam o nome do Bryan mais alto a cada segundo. Apesar dele achar meu jeito esquisito, eu sei que posso ser com ele quem sempre fui, eu sei que ele não vai me julgar - e isso não é nem por ter feito coisas horríveis, tipo matar -, mas por ter sido assim desde sempre. Eu não estou e nunca estarei acostumada com isso, minha boca ainda está no chão. Quando, com um cuidado que eu nem esperava vindo dele, Bryan me puxa devagar, na sua direção, como se soubesse que eu estou chocada e paralisada com o seu pedido, me encolho. Senti urgência e necessidade no seu peito, esse qual eu não consegui raciocinar direito porque estou muito boquiaberta. E triste.
Normalmente não sou uma pessoa sensível a tudo, mas as coisas estão me atingindo com mais força do que o previsto. Agora me vejo no meio de um caos formado, chorando duas vezes por dia como se fosse uma coisa que eu fizesse todos os dias desde quando nasci, mas não. Não é que eu odeie chorar, só não faz parte muito de quem eu sou, apesar de ver como um conforto na maioria das vezes que estive triste com algo. Ser forte não é ser implacável ou invencível, é saber lidar com os problemas da vida sem virar o coringa. Eu tive que ser forte, e aprendi com tudo que me aconteceu. Eu me via mal, mas logo limpava as lágrimas e dava um jeito de me reerguer. Minha mãe nunca me privou de demonstrar a minha tristeza desse jeito, e por mais que o Rogério tenha virado um maníaco que tentou me privar até de chorar, eu não me importava com o que ele dizia e chorava bem na frente dele pra demonstrar que eu não tinha medo das suas ameaças e reclamações sobre algo normal do ser humano. Chorar é necessidade do ser humano, é tipo beber água e, sei lá... Fazer cocô!
É só o meu jeito. E, com isso, eu ganhava vários hematomas, ódio acumulado por ele e piadas maldosas de crianças idiotas. Se elas soubessem o inferno que é passar por isso calada, certamente não abririam a boca para se dar o trabalho de ofender outras crianças que vivem em realidades completamente diferente da delas. Mas o Bryan me traz um sentimento diferente. Eu sei que ele é esse insensível maior que uma porta que não se importa com nada, aquele que sempre tem uma resposta ignorante para tudo, mas é... diferente. Ele me lembra o meu passado, as partes boas de tudo que vivemos, e esse olhar em mim é capaz de estremecer até as menores partes do meu corpo. Não é como ele me olha quando eu falo algo muito óbvio, quando tá me fodendo, quando digo algo pra provocar ou implicar, é cuidado; necessidade, e algo que eu não consigo identificar por inteiro. São vários sentimentos que não precisam ser verbalizados, só sinto. Sentimos.
E, depois de tanto tempo não me deixando proporcionar o carinho que ele acha que não merece, Bryan toca a minha cintura com a ponta dos dedos, afundando ali. Não do jeito possessivo que ele faz, mas diferente. Sinto o meu rosto queimar completamente, e todas as lágrimas continuam descendo de um jeito que me irrita. Toco no seu ombro, onde tem um machucado que provavelmente foi feito por uma faca. Desvio o meu olhar para o outro braço, vendo uma camisa presa ali, e, como sempre acontece quando estamos perto, uma avalanche de sentimentos toma conta de mim. Passo as mãos por baixo do seus braços, aconchegando meu rosto na sua barriga, fechando os olhos e não me importando como ele está ou se vai me sujar também. Ele tá machucado. Tem sangue pra caralho pelo corpo dele, eu tô em pânico, eu vou surtar, eu...
Sinto sua mão tocar meu cabelo, brincando com os cachos que se formam na raiz. Meus olhos ardem mais ainda, engulo em seco, me lembrando exatamente da primeira vez que ele fez isso. Sinto seus dedos afundarem ali, nem parece a mesma mão, não quando o toque é leve e cuidadoso. Aperto minhas mãos ao redor do seu rosto, respirando com força. Ele lembra de tudo. Porra, ele lembra de tudo mesmo, até a porra do jeito que eu gostava que ele movia os dedos. Até o jeito que...
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Santo Forte.
Non-FictionO desejo tá explícito nos meus olhos e a cada toque meu sobre teu corpo que arrepia, cada fala que treme, cada respiração descompassada que você tem perto de mim, você implora pra que isso seja apenas uma noite, assim como eu. Até ver que seus olhos...