capítulo cinquenta e seis

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Sofia

Enquanto o meu Bryan lindo e todo gostoso desce a escada comigo no colo, falo sobre tudo que eu vejo de interessante e também sobre o que acho de legal pelo morro. É boa a sensação de ser ouvida, e principalmente perceber que o Talibã tem toda atenção até nas mínimas coisas que eu falo. Pelo jeito dele, sabendo o que ele é, é estranho ter a atenção dele pra mim, porque no começo o fato de chegar perto dele já era uma grande conquista. Bryan parece desinteressado no que eu falo, se eu fosse outros vendo nos dois assim, eu diria o mesmo sobre isso, mas pelo jeito que ela olha pra tudo que eu aponto e até sorri de lado quando digo algo besta, confirma que eu tenho toda a sua atenção.

Sofia: Aquele desenho lá foi o que fizeram de homenagem pra mim - Falo com todo o meu orgulho, sorrindo largamente ao ter o dedo apontado para o desenho. Como falo todas as vezes, o desenho divide opiniões e, apesar de não ter sido pra mim, falo que foi em minha homenagem - mesmo sendo mentira -, sempre que posso, até porque se eu não me homenagear, aparentemente os meus fãs não irão fazer por mim. Todos eles são muito ingratos. Olho para o rosto do Bryan que está muito próximo, vendo a expressão dele.- Que foi? É inveja porque a mais amada do morro tem um desenho de homenagem e o mais temido não tem?

Uma coisa louca demais pra mim que eu descobri recentemente e que torna tudo entre a gente mil vezes melhor é a mais pura provocação ou sarcasmo. Sei o jeito que o Bryan tem pra me provocar, bom, eu posso dizer que agora sei mesmo. E até o momento não acredito que esse gostoso sorriu abertamente e riu pra mim de um jeito que nunca fez antes. Ele riu pra mim, e foi o motivo do meu maior colapso.

Talibã: Tenho quase certeza que isso foi em homenagem pra uma mulher aí doida que morreu - Escuto sua voz rouca junto a sua respiração calma bater sobre a minha bochecha que está gelada. Seus dedos são firmes na parte da minha coxa, mantenho o meu corpo mais próximo o possível do seu que me esquenta.- Tu é essa porra aí?

Gargalho sem conseguir conter. Ele toma um susto e é justificável, já que a minha risada é alta demais. Bryan me encara por uns longos segundos com uma expressão muito mais que estranha, porque nunca vi ele me olhar assim. Acho que as pessoas só seriam capazes de entender o jeito dele se estivessem perto do Bryan, ele é muito mais do que mostra, e isso é fato. As vezes me pergunto se pra ele é mais fácil o verem como alguém ruim do que enxergar apenas o mínimo do Bryan que ainda existe nele. E a resposta é óbvia pra mim, eu sei todos os motivos para o Talibã ter crescido e até ter se alimentado dele, Bryan me contou parte das coisas que sofreu na mão da mãe dele, só queria entender o motivo do Bryan tentar ser comigo um pouquinho do que ele tanto odeia. Talibã odeia muito o meu Bryan e, é provável que o meu Bryan odeie o Talibã também.

Sofia: Eu tô vivíssima e não sou doida, me respeita - Paro de rir aos poucos, tocando o pescoço atraente dele com a pontinha da minha unha, especificamente a tatuagem de onça que ele tem ali. Engulo a seco ao sentir e saber que sinto algo muito mais do que apenas carnal por ele. Não sei, é quase que um pedido pra ter ele por perto, mesmo depois de transar. Eu não me prendo desse jeito a ninguém, e o Bryan está sendo, de novo, o primeiro em alguma coisa quando o assunto são os meus sentimentos e até as minhas atitudes burras. Contorno a cicatriz que ele tem ali em cima da tatuagem linda, sentindo-a mais grossa à medida que meus dedos passeiam pela sua pele ao redor dos meus dedos, vendo como ele tornou o seu corpo no próprio templo. Não sei descrever a beleza do Bryan em palavras, mas o vejo como alguém dolorosamente lindo.

Talibã: Você não vai tirar nenhuma cicatriz do meu corpo só por tocá-las tanto - Ouço o seu tom calmo, mas é ríspido. Não preciso de muito pra perceber o quanto ele odeia as suas cicatrizes. Quando éramos pequenos, Bryan esfregou a pele dele com muita força incontáveis vezes até que ficasse vermelho, ele odiava também o fato de todas crianças apontar e sempre dar um significado ruim e diferente, distorcendo o real sentido daquilo como se ele não fosse uma criança que foi abusada psicologicamente e fisicamente. E eu sabia a sua história de vida com a mãe ruim demais e o pai que o abandonou junto da Claudia vagabunda, todos os motivos das suas cicatrizes que cobriam parte do seu corpo esguio, de suas dores, de todos os choros de surtos no meio da noite por sonhar com o homem de barba branca, os traumas... Eles não sabiam, mas isso não dava o direito de uma criança ser ruim com a outra.

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