capítulo cinquenta e oito

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Eu não gosto de você,
sorrio ao te ver
Não quero te ver jamais”
— ME DESCULPA JAY Z,
BACO EXU DO BLUES.


Talibã

Minha.

A Sofia é minha. E pensar nisso me atrai, mas ver o olhar de outro sobre o que é meu, me faz pensar se eu deveria ter me tornado tão próximo dela. Me questiono sobre isso, porque, se eu matar cada um que olha pra ela de um jeito diferente, ela vai achar muito ruim. Eu não acharia, principalmente esse em específico, principalmente pelo jeito filho da puta que ele está a olhando. Mas o corpo dela está marcado por mim, ela é minha, e, porra… Ele pode tentar. Antes de conseguir chegar nela, ele chega em mim, vai bater de frente comigo e voltar, porque se ele quer tanto assim me provocar, vou dar o que ele quer. Desde o começo eu sabia como ficaria obcecado por ela, desde o começo eu sabia que só a Sofia tomaria a minha atenção e a minha força, mas eu continuei. Mesmo não sendo bom pra ela, mesmo não chegando aos pés dela, eu continuei.

Mesmo sabendo que fiz tanta merda que até hoje carrego nas costas, eu continuo. Mesmo tendo noção de que ela é luz perto das coisas ruins que estão cravadas na minha pele, ela não parece se importar com essa diferença. E é isso que fode mais a minha cabeça. Sofia não tem mesmo a noção da intensidade que posso a destruir, mas também não tem noção de até onde posso ir por ela, ou de como eu cometeria as piores atrocidades por ela e, que nessa história, eu não sou o seu herói e nem irei a oferecer um conto de fadas como o nosso final. Eu sou a sua destruição. E ser a ruína dela me leva ao caos, insanidade, à loucura, ao fracasso e, no final, depois de tantos anos, ao medo da perda. Medo. Medo do que não posso controlar quando o assunto é ela, medo de que tudo atinja a Sofia, medo de ver ela chorando como hoje ou até pior, medo da sua vulnerabilidade e de como ela tenta se controlar quando acha que eu não vejo, que não percebo. Medo de finalmente a tornar minha e tudo acabar, porque nada de bom se mantém na minha vida por muito tempo.

Me transformei no Talibã e, junto com isso, vieram as consequências pra mim. Aceitei ser a destruição de cada pessoa que estaria no meu caminho sem pensar ruas vezes, a ser o último rosto a verem antes da morte, mas me tornei o caos da minha vida, e provavelmente serei na vida dela também. Eu não posso me achar diferente ao lado dela, não posso me permitir prolongar algo que não vejo algum futuro. Não posso continuar ao lado da Sofia sabendo que ela é a minha distração no meio de todo caos, a minha fraqueza, e se eu quiser continuar com os meus objetivos e acabar com o império do Guzman, preciso ficar o mais longe possível dela. Errei desde o momento em que me aproximei e deixei que vissem, com isso coloquei a vida dela em perigo e os meus medos expostos. Vão usar ela contra mim. Guzman vai querer me ferir como fiz com ele. Tirar eles de mim enquanto eu senti prazer em cortar a garganta do fodido que ele chamava de filho.

O Dom, a irmã da Sofia e o moleque chato foram lá fora conversar sobre alguma bagulho que aquela doida da irmã dela insistiu. Não tenho saco pra lidar com adultos, agora com uma garota de dezessete anos que eu vejo mais como uma criança é foda. Eu não nasci pra ser babá de ninguém, e mesmo que na maioria das vezes a Sofia tenha a curiosidade de uma criança e o paladar infantil de um, é só o jeito dela de sempre. E percebi que as duas são falantes igualmente, na aparência não são nada iguais, mas até pra ter a boca grande e a disposição de falar o tempo todo ou a animação sobre tudo é parecida. Porra. Eu vou ter que conviver com as duas por quanto tempo?

Sofia: Por que seu rosto é tão lisinho e sem espinha nenhuma se, provavelmente, você não faz nada nela? - Junto as sobrancelhas ao ver o rosto dela tão próximo ao meu. Suas mãos pequenas contornam meu rosto com cuidado, concentrada em analisar cada parte da minha pele com muita atenção, bufando em frustração uns segundos depois. Sofia revira os olhos, semicerrando-os ao perceber o meu olhar nela.- Tô começando a achar que Deus tem seus favoritos mesmo.

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