capítulo sessenta e três

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“Me leve de volta
para noite que
nos conhecemos.”
Lord Huron - The night we met

2013
Complexo da Maré

Lila está muito brava.

Não por todos os problemas familiares que estão constantemente atormentando todos os seus pensamentos, mas por ver, novamente, o garoto à sua frente sangrando pelo nariz, a sua expressão de desconforto e dor é notável e aparente. Ela exala raiva ao escutar alguns garotos incentivando e comentando sobre a briga que ela não gostou de saber, e por ver Bryan machucado, a preocupação aumenta. Lila odeia ver o melhor amigo machucado e vulnerável desse jeito. Sente vontade de não só bater nele por entrar em uma briga, mas na pessoa que o machucou também.

Bryan é calmo, não se mete em brigas e tem medo da maioria. Então, por mais que a Lila esteja brava, ela está surpresa com a atitude do garoto à sua frente. Ele nunca se revoltou contra nenhum dos garotos que o zoava, e é um espanto vê-lo reagir de alguma forma. É óbvio que o Bryan nunca gostou das coisas ruins que as outras crianças falavam, mas ele nunca abriu a boca pra retrucar ou ser ruim de volta. Ele se cala, e se fere mentalmente pelas palavras lançadas, mesmo que nada ali seja a verdade. Por comentários da própria mãe, Bryan sofria sozinho, e se odiava por isso. Mesmo que esteja acostumado a estar em um cenário onde as pessoas o xingam, a dor ainda está ali. O que as crianças fazem é pouco perto do que sua mãe fazia com o seu corpo e mente. É assim que ele pensa.

Lila: O que você fez, Bryan? O que foi que aconteceu com você? - Sua voz, mesmo baixa, é firme e maternal, como se estivesse prestes a estapear Bryan sem parar. Lila sabe que ele aprontou algo ou respondeu a altura a todas provocações ruins, mas não sabe o porquê. Só escutou alguns garotos falarem sobre a briga entre ele e um outro garoto, e o outro garoto ficou com um olho roxo e várias mordidas. Bryan desvia o olhar, receoso e se sentindo patético, mas Sofia não desiste dele, ela nunca faria isso, então se agacha à frente dele com suas mãos levemente apoiadas no joelho, tornando seu tom mais ameno. Ela até tem vontade de gritar de desespero, mas não o faz, pois sabe que ele odeia gritos.- Me diz, pequeno Bryan. Você está sangrando.

Bryan: Tinha que ver o outro…- Ele para de falar, semicerrando os olhos ao tentar lembrar do que o seu pai, Rodrigo, o ensinou a falar depois de uma briga. Mesmo que não fosse adepto a violência, ele sabia algumas coisas básicas que os seus pais o ensinaram para se defender dos garotos que sempre enchiam o saco dele. Lila semicerra os olhos, negando com a cabeça ao entender o que Bryan quis dizer.- Não lembro o que ele me ensinou. Mas eu ganhei!

Lila: Por que ele diz como se eu tivesse que estar orgulhosa? - Sofia fala pra si, negando novamente. Um sorrisinho ladino aparece nos lábios do garoto, mas, imediatamente, faz uma careta ao movimentar o rosto e sentir a dor em seu nariz se alastrar aos poucos por seu rosto. É divertido pra ele ver os papéis invertidos, já que já se tornou normal o Bryan ser o responsável e evitar brigas, enquanto a Lila sempre corre atrás de alguma confusão. Ou a confusão vem atrás dela, certamente a garota é um ímã de brigas com algumas crianças. Mas, tirando isso, a maioria das pessoas do morro a conhecem e gostam dela.

Lila se afasta, correndo para longe. Bryan fica confuso com a sua atitude, mas não diz nada, só se mantém sentado no seu lugar, visto que ela pode voltar e ficar brava por ele ter ido embora. Chutando umas pedrinhas pelo chão, o garoto pressiona os lábios pela dor aguda, indo com a mão em direção ao seu nariz, tocando ali e sentindo o molhado do sangue. Lila logo volta, Bryan analisa toda a postura tensa da garota, percebendo alguns guardanapos em sua mão esquerda. Ele quis sorrir por isso, mas preferiu não fazer isso ou novamente seu rosto doeria por inteiro.

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