Eugênio estava deitado na cama com roupa e tudo. Abriu com dificuldade o olho. Identificou apenas um vulto: sua mãe inclinada sobre ele. Estava em casa e era noite.
- Não quer vestir o pijama?
- Sim, senhora.
O garoto se levantou com muita dificuldade. Seu corpo estava mole, dolorido, obedecia
com atraso. Nunca tinha sentido tanto cansaço em sua curta vida. Logo que ficou de pé,
perguntou:
- Que horas são?
- Onze e meia. -Já?
- Voltei mais tarde, hoje. Muito trabalho no consultório. Que horas você chegou?
- Umas oito; oito e meia.
- Jantou?
- Não. Cheguei e fui direto pra cama.
- Vou esquentar a comida.
- Não estou com fome; estou com sono.
- Precisa se alimentar. Qual foi o seu almoço?
- Esfiha fechada no pão francês.
Dona Clara não conseguiu disfarçar o sorriso.
- É. Acho que você já se alimentou para o resto da vida. Mesmo assim vou trazer um
copo de leite.
Eugênio tentava entender por onde enfiar o braço na camisa do pijama. Parecia bêbado.
Fazia pontaria. E errava. Fazia pontaria. E errava.
- Preciso tomar banho? - perguntou o garoto depois de cismar um instante.
- Ainda não tomou?
- Não, senhora.
A mãe olhou para Eugênio. Estava no meio do quarto, balançando, tentando se manter
em pé. Tinha enfiado a camisa do pijama ao contrário: os botões ficaram nas costas.
- Hoje vamos fazer um feriado - brincou a mãe.
- Feriado... - resmungou o garoto. - Quero só ver quando minhas aulas começarem à
noite.
Essa era a principal preocupação de dona Clara. Doutor Ignacio ainda não conseguira
vaga para Eugênio no colégio noturno. Mas isso não demorava. Será que o garoto ia agüentar
tanta responsabilidade ao mesmo tempo?
Dona Clara deixou o filho se ajeitando e foi buscar o copo de leite. Logo que ele
conseguiu terminar de vestir o pijama, apanhou sua máscara de dormir. Servia para tapar os
olhos, vedando a luz. Mas ele a usava porque lembrava óculos de aviador.
Eugênio se enfiou por baixo das cobertas. Costumava gastar horas, elaborando as
aventuras de Eugène Flammarion - o aventureiro desiludido. Naquela noite, no entanto, caiu
num sono profundo logo que se deitou.
Quando dona Clara encontrou o filho dormindo, não quis acordá-lo. Apenas ficou olhando
para o garoto.
E sentiu um orgulho enorme dele.
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Office-boy em apuros - Bosco Brasil
Ficção AdolescenteO cotidiano cheio de encrencas de um office-boy que tem de aguentar a perseguição do chefe e descobrir qual das garotas gêmeas é sua verdadeira paixão. Com suplemento de atividades.