Situação difícil de explicar e de entender

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Eugênio vinha pela alameda arborizada onde ficava a Doceria Rebolo. Engraçado como
já se locomovia com mais desenvoltura pelas ruas da cidade, pensou. Só agora tinha se dado
conta disso.
Muita coisa se passara na última semana. Agora, era essa história com a namorada de
Plínio e Edmundo. Por um instante lhe passou pela cabeça a idéia de que tudo isso estava
acontecendo porque quisera chatear o primo.
Ia assim pensando quando avistou a entrada da doceria. Tinha chegado um pouco
adiantado. Aproximou-se devagar. Pensava no que dizer à Maria Isabel, quando a viu sair para a rua. Seguida por ela mesma!
Eugênio apurou a vista. Não estava com visão dupla. Havia mesmo uma dupla de Marias
à sua frente. Se não sabia o que dizer a uma garota, pensou, quanto mais a duas!
— O que está esperando aí? — perguntou Maria Paula, ao avistar o boquiaberto e
estático Eugênio. — Pode chegar mais perto! Tem umas coisas que você precisa saber, se
ainda não percebeu.
Difícil dizer o que era mais complicado naquela situação: explicá-la ou entendê-la. De
qualquer modo, o embrulho todo foi esclarecido. O esforço logo se concentrou em fazer Maria
Isabel — já perfeitamente identificada — colaborar na solução final.
— Mas precisa ser agora?! — resmungou Maria Isabel. — Eu tenho encontro com Plínio.
Ele já devia ter chegado.
— Não custa nada — implorou Maria Paula. — É só mostrar sua cara e o Edmundo vai
entender toda a bagunça. Vai ser rápido.
— Foi você quem meteu sua irmã nesta confusão — argumentou Eugênio, ainda um
pouco zonzo com as revelações.
— Eu? — respondeu indignada Maria Isabel. — Quem ligou querendo me encontrar?
— E quem aceitou?
Nesse instante, Plínio e sua turma dobram a esquina, de automóvel. Ao ver o primo entre
as gêmeas, sua primeira reação foi diminuir a marcha. Não queria que Eugênio flagrasse o
carro da firma nas suas mãos. Encostou o carro num ponto escuro da rua e passou a observar
os três discutindo e gesticulando, ao longe.
— Como conversam, hein? — provocou Fraguinha.
O rapaz não tirava os olhos de sua namorada. Queria saber o que se passava.
— Amigos íntimos os três... — apimentou Odacir.
Os amigos não paravam de provocar. Debochavam do namorado enciumado. Sorrindo
ironicamente, trocando olhares.
— Vou acabar com essa conversa — disse Plínio, nervoso.
Exatamente nesse momento, Maria Isabel saiu com a irmã e Eugênio na direção da
avenida principal. Nem perceberam que estavam sendo seguidos por Plínio.
— Será que ele já foi embora? — atormentava-se Maria Paula, aflita por encontrar
Edmundo.
Eugênio e as gêmeas desceram até a passagem subterrânea sob a avenida, onde
sempre se reuniam Calixto, Jó e Arnaldão. Haviam inaugurado uma nova exposição de fotos e
os três boys se entretinham com as imagens.
— Viram o Edmundo? — foi logo perguntando Eugênio. Calixto se virou para dizer alguma
coisa, mas parou no meio ao ver as irmãs. Cutucou Jó e Arnaldão. Que se viraram. E ficaram
olhando. Pasmos.
— Nunca viram? — resmungou Maria Paula.
— O que está acontecendo?! — quis saber Calixto. Eugênio usou todo seu poder de
concisão, mas só conseguiu explicar parte do problema. A história realmente era muito
confusa. Desanimou. Na certa, Edmundo nem vinha mais. Foi quando Maria Paula gritou:
— Olha lá! É ele!
Edmundo descia a escada, cabisbaixo. Quando viu Maria Paula vindo na sua direção, deu
meia-volta e subiu.
A garota foi atrás. Encontrou Edmundo um pouco mais abaixo na avenida, sentado no
pára-choque de um carro. A iluminação pública dava um tom melancólico ao lugar.
— Não precisa explicar — disse o boy, sem tirar os olhos do chão. — Tem certeza? — perguntou Maria Paula.
— Numa boa. Sei como são essas coisas.
— Ah, é? E como são?
— No fundo, Eugênio é legal. Escolheu bem.
— Do que é que você tá falando?
— Se liga, Maria — falou Edmundo, levantando o rosto. — Olha aí! O Eugênio tá
chegando com... você...
Edmundo arregalou os olhos. Surgindo da passagem subterrânea, subiam Eugênio e
Maria Isabel.
— Vocês formam um belo casal — conseguiu murmurar.
Num salto, o boy se levantou. Olhou para uma gêmea. Olhou para outra. Sem saber o
que dizer, deixou escapar:
— Eu sabia...
O pobre do Eugênio teve de explicar tudo de novo. Pior: cada vez que contava, ele
mesmo começava a entender menos a história. E demorava mais nas descrições.
— Muito bem! — berrou Plínio, que tinha se aproximado sem ser percebido. — Em qual
das duas eu tenho de dar a bronca?!
As gêmeas se entreolharam. A prepotência do rapaz amorteceu o susto. Quase em
uníssono, responderam:
— Em nenhuma das duas!
Plínio ficou sem ação. Logo atrás, seus amigos apenas observavam. Os mesmos
sorrisos irônicos nos lábios.
— Então vai sobrar pra esse pirralho! — disse Plínio, avançando sobre o primo.
Edmundo esticou a perna, e o chefe dos boys caiu de queixo no chão.

- Se liga, Maria – falou Edmundo

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- Se liga, Maria – falou Edmundo.
- Olha aí! O Eugênio tá chegando com...você...
— Meu dente!
Antes mesmo que o próprio Plínio pudesse reagir, seus amigos fizeram um cerco.
— Menino mau... —- debochou Odacir.
Tilão e Nilo agarraram Edmundo por trás. Fraguinha empurrou Eugênio para o chão,
sentando-se sobre ele.
— Sai de cima de mim!
Maria Paula e Maria Isabel começaram a distribuir tapas e caneladas.
— Faz alguma coisa, Plínio. Segura essas peruas!
— Perua é sua mãe — respondeu Maria Paula, sempre a mais estourada.
À custa de uns arranhões no rosto, Plínio conseguiu segurar as gêmeas. Odacir se
aproximou de Edmundo. Cerrou o punho e mostrou para o garoto, dizendo:
— Está vendo isto aqui, boy? Já ia dar o soco, quando ouviu uma musiquinha. Parecia
uma corneta anunciando a carga da cavalaria. Era Jó, tocando pente. Como um raio, Calixto
passou em seu skate. De passagem enfiou um tapa na cara de Odacir. Tilão e Nilo largaram
Edmundo para socorrer o companheiro. — Quem foi? Quem foi? — perguntava Odacir, tonto. Calixto voltou e acertou Fraguinha.
No ouvido. Atordoado, acabou deixando Eugênio escapar. O garoto avançou sobre Plínio para
soltar as gêmeas, que saíram correndo atrás de um guarda que pudesse ajudá-las.
As duas turmas se encararam: eram cinco contra quatro.
Só quatro?
— Hum-hum — pigarreou alguém. Odacir se voltou. Era Arnaldão.
— Que foi, gorducho?
— Só estou apreciando a briga, meu filho!
— Então fica queitinho aí.
— Pode deixar.
Odacir reparou que a outra turma começou a se afastar muito. A arma secreta de
Arnaldão Vinte e Duas começou a surtir efeito...
— Que fedor!
Tentando escapar do mau cheiro, os agressores se dispersaram. Os outros
aproveitaram para escapar.
— E agora? — perguntou Fraguinha, meio zonzo.
— Vamos pegar o carro — decidiu Odacir. — Me dá a chave, Plínio.
— Não! — reclamou Plínio. — O carro da firma, não.
Odacir fez que nem ouviu. Arrancou a chave da mão de Plínio. Chamou os outros e
correram para o carro que estava na outra esquina.
— Por favor! O carro do titio, não! — choramingava Plínio. Fraguinha, Tilão e Nilo
entraram no automóvel. Odacir sentou-se ao volante. Plínio ficou na janela, implorando:
— Me devolve a chave.
— Presta atenção — disse Odacir. — Agora você vai ver o que é um piloto.
Engatou a primeira. Acelerou. Soltou a embreagem. O carro deu a arrancada. E bateu no
poste logo em frente...
Plínio sentou no chão, abaixando a cabeça.
A turma dos boys veio voltando devagar. Não podiam acreditar no que estavam vendo. A
parte da frente do carro da firma de doutor Ignacio estava totalmente destruída.
Não aconteceu nada com Odacir e os outros ocupantes. Mas ficaram paralisados de
susto por um bom tempo. Olhando para frente de olhos esbugalhados.
Até que Fraguinha murmurou:
— Sujou.

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