47. When it comes, period

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C h e r r i e

Eu odeio, odeio me odiar, e odeio manter uma relação de amor e ódio comigo mesma. Minha mãos estão suando, e essa aula de matemática não acaba nunca.

Faz uma semana que eu não falo com Carter. Eu não queria ter feito aquilo, e isso me mata. Mas tenho medo de que ele descubra e não entenda. Não consigo imaginar problemas com autoestima e comida afetando garotos tanto quanto afeta garotas. Pode ser um preconceito meu, mas e se eu contasse para Carter e ele não levasse à serio?

É nisso que eu penso até a aula acabar. Eu estava decidida a não comer nada além do necessário antes dos treinos de vôlei. Assim, talvez eu conseguiria de fato perder peso.

Mas eu estava errada. Meu estômago ronca como nunca na hora do almoço, e não consigo ficar no refeitório vendo as outras pessoas comendo sem poder fazer o mesmo.

Na verdade, meu estômago não ronca apenas. Ele dói. Acontece que eu não sei se é de fome, ou de cólica.
Decido ir ao banheiro antes que o intervalo acabe. As cabines parecem estar vazias, e eu entro na última.

Não obstante minha situação atual, sou presenteada com minha menstruação que por pouco não vazou no meu jeans branco. Eu estou longe do meu armário, onde está minha mochila, e mesmo que estivesse, sei que não tenho absorventes porque troquei de bolsa hoje de manhã e pensei que não fosse precisar.

Cherrie do passado, você é uma tonta.

Pego o máximo de papel higiênico que consigo e forjo um absorvente temporário. Não consigo puxar muito, pois logo o rolo acaba. Vou nas outras duas cabines, mas nenhuma delas tem papel.

O que está comigo então, precisa ser suficiente até eu sair daqui e encontrar Ashley ou alguém que possa me ajudar nesse momento tão oportuno.

O sinal toca assim que eu abro a porta do banheiro que dá para o corredor e me assusto ainda mais quando bato de frente com alguém.

Eu ouço os anjos e minha fada madrinha tocando as sete trombetas do paraíso quando vejo os olhos pacificamente azuis e acalentadores de Carter.

— Foi mal — ele olha para a porta. — Achei que fosse o banheiro masculino.

— Não, espera — antes que ele pudesse dar meia volta eu o puxei para dentro do banheiro e tranquei a porta. Eu ia dizer o que precisava mas antes me toquei que eu seria uma egoísta se ignorasse tudo o que aconteceu. — O-oi.

— Oi — ele diz simples.

Eu respiro pesadamente. Não sei o que dizer.

— Eu sinto muito pelo o que aconteceu semana passada. Eu não queria brigar, eu só fiquei com medo e...

— Não, eu sinto muito. Eu não deveria ter te pressionado, ou ficado irritado. Eu não preciso saber de tudo que acontece com você. Não devia ter me insistido tanto.

Nesse instante, sinto mais raiva ainda de mim mesma. Ele está se desculpando por se preocupar comigo. Eu queria poder voltar no passado e evitado que isso acontecesse. Eu devia ter contado tudo para ele. Eu preciso contar tudo pra ele.

— Eu não vou mais me intrometer, eu prometo. Eu não quero saber de nada.

Ah.

𝙍𝙚𝙙 𝙇𝙞𝙠𝙚 𝙔𝙤𝙪𝙧 𝙃𝙚𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora