12. When I see another part of you

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C h e r r i e

🍒

Foi ideia de Carter que viéssemos para a casa dele no fim de semana para começarmos o trabalho.

A tensão estranha também conhecida como ódio espontâneo e gratuito que permanecia entre nós já foi embora, ou pelo menos alguma parte dela, mesmo que ainda assim não haja um progresso muito grande, acho que estar no bairro em que ele mora já é um avanço.

Meu dedo indicador treme com o ar frio quando estendo a mão para tocar a campainha de sua casa, que tem uma pintura bege e simples do lado de fora, mas tem um jardim bem maior do que o da minha.

Pela vidraça ao redor da porta, mesmo que coberta por uma cortina branca e fina, consigo ver que alguém se aproxima e, quando a porta de entrada é aberta, tenho a visão de Carter com o cabelo bagunçado, vestindo uma blusa branca amarrotada mas com uma tigela de ceral na mão.

— Bom dia — falo ajeitando a mochila nas minhas costas.

— Não achei que fosse chegar tão cedo — sua voz é rouca mas atenta e, apesar de ser oito horas de um sábado, ele parece estar acordado há horas.

— Achei mais conveniente para o fim de semana — observo seu maxilar se mover enquanto mastiga. — Quanto mais cedo acabarmos, melhor, não é?

Ele balança a cabeça sem responder, mas faz um sinal para que adentre sua casa.
Sua mão livre pega a mochila das minhas costas e coloca sobre um baú de madeira logo na entrada.

Sigo-o por dentro da casa. Passamos pelo corredor, onde vejo a escada para o segundo andar e viramos à esquerda, indo para onde logo vejo ser a sala de estar.

A casa não parece ser muito maior que a minha por fora, mas por dentro é muito mais espaçosa.

Enquanto a minha é pálida por dentro, cheia de itens de decoração fúteis que minha mãe colecionou com o tempo — frios, de metal e minimalistas —, aqui o ambiente também tem peças em branco, mas há toques de madeira, cores mais escuras como o azul marinho na cortina da sala que nasce invisível no teto e acaba no chão; estantes cheias de livros na parede, cercando a televisão que fica logo de frente para o sofá de couro e as duas poltronas espalhadas sobre o tapete aconchegante que abraça meus pés dentro de minhas botas.

— Sua casa é bonita — digo quando sentamo-nos no tapete felpudo da sala.

— Ah, valeu — ele retribui colocando a tigela de cereal sobre a mesa de centro — Minha mãe é designer de interiores.

Olho ao redor ainda mais.

— Explica o bom gosto — falo ainda mais baixo, quase para mim mesma e ouço uma risada quase imperceptível de Carter.

— Acho que ela queria que nos sentíssemos confortáveis.

— E por que não se se sentiria confortável na sua própria casa? — franzo o cenho e de repente acho que não deveria ter perguntado.

— Talvez não tenha muito a ver, quero dizer, estar em casa e se sentir seguro, não acha? — essa é uma pergunta que não respondo, mas com certeza não esqueço. — Não sei, minha mãe deve achar isso, por isso se importou.

Respiro fundo e tento logo mudar de assunto, mas não é necessário, já que ele o faz primeiro.

— Hm, eu fiz uma pesquisa inicial sobre o nosso tema — finjo que presto atenção nos primeiros segundos que ele fala, mas depois percebo que não sei nada sobre nosso trabalho, muito menos sobre nosso tema, então corto-o.

𝙍𝙚𝙙 𝙇𝙞𝙠𝙚 𝙔𝙤𝙪𝙧 𝙃𝙚𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora