9. When you kiss me

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C h e r r i e

🍒

O tic tac do relógio é simplesmente infernal e só me faz desejar que o tempo passe mais rápido. É a segunda aula que tenho hoje — de matemática, que não é minha matéria favorita, nem de longe, mas talvez seja uma das que menos me desagrada.
Porém, o que me irrita mais é a companhia ao meu lado.

Maxine está sentada do meu lado esquerdo e Jane no meu direito. Consigo sentir uma onda de raiva e um olhar sobre mim, como uma carga invisível que me encara e tenta me intimidar; disfarçada com um rosto sardendo e cabelos ruivos.

Antes da semana passada, se eu estivesse mesma nessa aula, tenho certeza que não as notaria aqui. E
las seriam totalmente imperceptíveis para mim. São quietas, não fazem muitas perguntas ou se pronunciam — não que eu também o faça, mas a quantidade de pessoas que falam comigo acabam me distraindo sem mesmo que eu queira, apesar de com certeza não serem amizades concretas.
Na verdade, sei que o único motivo para perceber essas duas meninas aqui, principalmente Max, é o nariz quebrado que lhe dei de presente para a semana.

Minhas pernas cruzadas, queixo apoiado na mão e o lápis que bato contra as folhas do livro em uma batida aleatória são poderosos porque logo o sinal toca, me liberando para o intervalo, mas quando estou na porta da sala, uma mão puxa meu braço.

— Preciso falar com você — a voz de Jane se faz presente atrás de mim.

— Se for pelo o que aconteceu na segunda...

— Você deixou seu uniforme jogado no vestiário, foi embora sem me ouvir e não apareceu no dia seguinte.

— Como você acha que eu apareceria de novo depois do que Max disse? — hesito em falar o nome dela, mas por sorte ela saiu antes de mim.

— Então tudo o que aconteceu foi culpa dela? Ela não arremessou uma bola no próprio nariz, Cherie.

— Não, foi exatamente por isso que eu não apareci de novo para os treinos, sei que fui eu que fiz isso. Eu estou fora do time do mesmo jeito, ouvir um sermão seu ou não, não vai fazer diferença.

— Então você quer sair do time?

— Eu presumi que estava expulsa...

— Cherie, não está expulsa — finalmente tenho paciência para escutá-la. —, apesar de haver sangue seco no chão da quadra por sua causa, não era direito dela dizer aquelas coisas para você. Estão quites.

— Então posso voltar a jogar?

— Na verdade, acho que você não tem outra opção. — ela começa a procurar algo dentro da mochila pendurada em suas costas, tirando uma blusa segundos depois. — É a sua camisa do time. Oficialmente. Se jogar no chão de novo, não estará mais para você na próxima vez.

Ela sai andando pelo corredor como se nem houvesse falado comigo, me deixando com a blusa pendurada na mão enquanto olho para o nada.

Não estamos quites — penso.
A bola ter batido no rosto de Max foi um acidente. Eu ainda estava aprendendo a jogar. Mas as palavras dela não foram por acidente — ela as disse porque quis.
E doeu.

Não, não posso ser assim.
Obrigo-me a apagar esses pensamentos da minha cabeça. Não vou ser a pobre menina dessa história toda; não combina comigo.

Guardo o uniforme que segurava dentro do meu armário, para usar no próximo treino. Ela quer me derrubar, mas vou ser resiliente.

Passo na cafeteria da escola, como de hábito, pego uma maçã, mas dessa vez vou para o lado de fora evitando a multidão dentro do prédio, até ignorando Andrew quando me chama para sentar na mesa com ele e seus amigos. Ao invés de ficar com um grupo de pessoas, escolho uma mesa vazia no gramado, aproveitando apenas a minha companhia. Acho que tenho um pouco de fobia social hoje.

𝙍𝙚𝙙 𝙇𝙞𝙠𝙚 𝙔𝙤𝙪𝙧 𝙃𝙚𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora