1. When everything begins

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C h e r r i e

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Às vezes, quando minha mente voa para fora da realidade que estou vivendo e me excluo em meus sonhos, gosto de imaginar que minha vida é parte de uma trama adolescente trágica dos anos oitenta e, se eu fosse uma personagem de algum desses filmes joviais atemporais, tenho certeza que eu seria a "vilã".

A Regina George da Cady Heron, Sharpay Evans em "High School Musical", Cher Horowitz de "Clueless", ou até a Claire Standish de "The Breakfast Club".

O estereótipo da menina popular demais, ou talentosa demais, arrependida de ter terminado com o galã da escola na semana antecedente à que ele se apaixona pela nerd quietinha da sala ou, simplesmente não se arrepende.

Eu sei disso porque ano passado meu ex namorado me trocou por uma intercambista da Coréia do Sul. Eu terminei com um par de chifres e eles dois parecendo o Peter e a Lara Jean.

Essa é a pior parte. Nós, "vilãs", sempre levamos a culpa de tudo.

Somos nós que fazemos o filme acontecer, e no final ainda ganhamos fama de vadia. Somos reduzidas ao gloss labial que usamos e aos brincos de argola ou até as botas caras que quase não reparam.

Mas essa é só mais uma peripécia de ser eu.
De qualquer jeito, prefiro acreditar que sou muito mais interessante do que pareço, apenas para segurar a audiência por mais tempo.

Eu tinha exatamente oito anos quando percebi que a minha família não era como a das outras crianças da minha sala. Se minha mãe já não era tão presente antes, não lembro, mas com certeza não é diferente agora, já que sou sortuda se consegui vê-la duas ou tres vezes no final do mês.

Negócios. Negócios. Negócios.

Minha mãe é uma mulher de negócios, pulando sempre de um avião para o outro e, no final das contas acho que nem sei realmente o que ela faz.
Sua ausência desde tão cedo — e sendo mãe solo — fez com que ela não tivesse outra opção senão contratar uma babá.

Lauren — aquela que chamo de segunda mãe.
Ela faz o melhor que pode, mas às vezes minha ira adolescente anseia por algo a mais — simplesmente pelo fato de poder.

Ainda me lembro de quando roubei um batom vermelho de uma gaveta da minha mãe e passei a semana inteira me maquiando escondida. Foi quando descobri que vermelho era minha cor favorita. No final das contas, Lauren achou o batom, guardou de volta no lugar, mas não brigou comigo; ela é boa em não me fazer sentir culpada por ser quem eu sou.

Os "meus negócios" são outra parte: eu sou modelo e faço propagandas de publicidade, principalmente através das redes socias.

Quando eu era mais nova, passava muito tempo sozinha. Lauren é um amor, mas não sabia brincar comigo. Então eu pegava as roupas e as maquiagens da minha mãe, desfilava e me sentia a garota mais bonita da quinta série.
Fui ficando mais velha e comecei a compartilhar tudo que eu fazia. Depois disso, tudo aconteceu por si só.

Com os seguidores, veio também a popularidade. No meio da nona série tudo mudou.

Pessoas que nunca tinham falado comigo antes, de repente sabiam até meu sobrenome, então, a minha ficha caiu, e a minha vida escolar nunca mais foi a mesma.

Eu passei de uma zé ninguém sem personalidade nenhuma para a menina popular que faz propagandas, anda com botas curtas de salto grosso evernizadas e fica com os caras mais gatos do Ensino Médio.

Essa sou eu. Cherrie James. Com "ie" no final. E não "y". Por favor.







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𝙍𝙚𝙙 𝙇𝙞𝙠𝙚 𝙔𝙤𝙪𝙧 𝙃𝙚𝙖𝙧𝙩Onde histórias criam vida. Descubra agora