ONDE HÁ OLHOS

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“Há uma rachadura em tudo. É assim que entra a luz”
Leonard cohen

As ondas chocam na praia elevando seu cheiro. Aerys abre seus olhos, respirando profundamente o cheiro da água salgada com o odor de sangue seco como lembrete constante. Vaghar tinha um odor insuportável, mas que com o tempo passou a tolerar.

Desde a primeira parada para descansar o seu pai vem o colocando para fazer um treinamento mais rígido, alegando que o cheiro de Porto Real seria mil vezes mais pior.

O que resultou com ele parado sobre as escamas do corpo verde por várias vezes. Não era agradável, não, Aerys tinha quase certeza de que os dragões não tomavam banho, pois o cheiro de peixe morto, fumaça imaculada nas escamas junto com o sangue seco, era uma combinação perfeita para a definição de “cheiro ruim”

Sem contar com o resto que ele vinha ignorando, por aventura, virou seu rosto para o lado onde ficava o resto do corpo da dragão. Vendo por assim,  que ele parecia uma ervilha sob doze colchões, se ela quisesse matá-lo só bastaria se virar um pouquinho e já estaria feito sem problemas.

Cansado de dar frutos para sua imaginação, voltou a olhar para o pai que descansava perto de uma fogueira que eles montaram quando chegaram. Aemond estava penteando seus cabelos com os dedos antes de fazer uma enorme trança para mantê-lo preso, segundo o pai, era mais fácil fazer vôo sem que o cabelo atrapalhe com ele estando preso. Ele não duvidou pois seu próprio cabelo parecia um ninho de pássaros, ele até tentou arrumá-los mas falhou terrivelmente.

Aerys percebe que o cabelo do pai estava mais grisalho. Há semanas que ele vinha parando o uso constante de alecrim nos fios. Como suspeitou, o branco deixava seu pai mais belo, a cor combinava com seu tom de pele o enriquecendo e mostrando sua beleza.

Vendo por esse lado, Aerys percebe que não tem nada do pai. Seu cabelo era marrom, com apenas uma pequena mecha branca que se perdia no mar escuro, sua pele era mais bronzeada e cheia de sardas no rosto, pontinhos beijados pelos deuses, como seu pai insistia em dizê-lo.

Nada dele tinha a beleza descrita nos livros valirianos, ele era normal. Qualquer um que o olhasse, não pensariam duas vezes ao pensar que era só mais um menino de cabelos marrom.

Ele balança a cabeça, tenta tirar aqueles pensamentos. Então puxa fôlego antes de gritar. – KEPA, JÁ POSSO SAIR?! – por causa da distância colocada entre eles pois Vaghar era grande demais e precisava de mais espaço para descansar, porém, se ela quisesse se aproximar deles, bastaria só esticar seu enorme pescoço e os alcançaria.

Aemond o observa por um tempo e depois balança a cabeça. Aerys correu até ele rapidamente, podendo enfim respirar normalmente, ele colocou a mão no peito sentindo seus pulmões agradecendo. Seu pai está a todo momento o observando com o rosto franzido.

– tem certeza de que consegue suportar? Seja sincero, Porto Real é bastante grande e tem um cheiro insuportável. Não quero que se sobrecarregue. – seu olho o encara buscando por algo, mas Aerys nega.

–tenho certeza de que consigo. Se esse lugar fede mais do que aquele corpo fedorento de dragão, posso ter certeza que sim. – ele escuta o bufar chateado de Vaghar logo atrás dele, quando se vira para vê-la, vendo-a mesma o encarando. – sem ofensas, é claro.

–não seja bobo – Aemond começa encarando o filho com um sorriso. – há piores por aí… – brinca recebendo um rugido chateado da fera – mas, eu diria que Vaghar é bastante limpa, talvez vaidosa, pois diferente dos outros dragões ela tomava banho no mar a cada um mês.

O FILHO DO BASTARDO Onde histórias criam vida. Descubra agora