FAREMOS COM SANGUE

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“Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela…
Exatamente porque nunca são as mesmas flores.

Clarice Lispector “
                                                         

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O vento no seu rosto diminuiu com Vaghar aterrissando perto das colinas. Aerys abriu seus olhos observando os arredores com desconfiança, a distância poderia ser vista uma carruagem se movimentando em direção a eles.

O menino apenas permanece quieto, esperando seu pai terminar de desatar as cintas. Algo o pega de surpresa, trancando seu ar nos pulmões, ele tenta buscar ar e é recebido com o odor de sangue misturado com esgoto, cheiro de hormônios e tudo de pior.

Aerys sente seu pai puxando seu corpo entre a escada enquanto ele lutava para respirar. Quando desce, coloca o menino perto da pele quente de Vaghar, ele sussurrou baixinho. – Vamos, meu querido, respire e inspire bem fundo. Permita o cheiro de Vaghar entrar, foque nela e deixe seu corpo superar.

O menino segue o conselho do pai rapidamente afundando seu nariz achatado nas escamas do dragão respirando desesperadamente o aroma familiar.

Aemond em algum momento se aproximou dele e tocou seus ombros, o corpo do pai cai e ele volta a murmurar. – agora tente mesclar os cheiros, faça isso até ter certeza de que está bem. Prometo que será rápido – Aerys segue seus comandos sem questionamentos, confiando cegamente no pai.

Decidido em segui-lo, ele retira o rosto do corpo velho e desgastado do dragão para enfim engolir o cheiro de podridão que vinha de Porto Real, mas rapidamente volta a cheira-la como um filhote recém-nascido.

Ele queria voltar atrás, isso era mil vezes pior, como uma sentença de mortes sendo introduzida à força sobre ele.

Mas não desistiu, Aerys repetiu o processo várias vezes, colocando e tirando, sentindo a garganta entalada e seu nariz tão seco que uma pequena tira de sangue começou a descer, a qual Aemond rapidamente limpou.

–isso, está indo tão bem, meu menino… – Aemond passa a manga de suas vestes para limpar o sangue que insiste em descer, seu doce menino o encara com ternura, seus olhos brilhantes eram uma chama fresca do passado. – Aerys, preciso que me escute com atenção. Está tudo bem continuar? Tem certeza que pode aguentar? – quando questionado, o menino balançou a cabeça afirmado veemente. Aemond sentiu no ar a mudança de seu aroma. – caso contrário… vamos subir em Vaghar e iremos recomeçar em outro lugar, para pentos, não importa onde, seremos só nós três. Então me diga, Aerys.

O menino encarava seu pai com olhos de amêndoas castanhas arregalados. O único olho dele brilhava intensamente, fazendo o lilás se destacar. Aerys o puxou para perto, descansando suas mãos nos lados do rosto dele – mostre que não é a mesma pessoa que caiu do colo da mãe, mas sim, um dragão que lutará pelo bem do filho…

Aemond fica surpreso por suas palavras, se lembrando de quem as havia dito com um peso. Todavia, Aerys não parou, o brilho nos olhos se voltaram para uma determinação vibrante, algo que Aemond nunca viu no filho. – Estou decidido desde o dia em que eles invadiram o local onde trabalhava e submeteram todos. O perigo que te colocou e colocou nossos amigos me assombrar, não desejo que algo assim volte a acontecer com quem amamos. – pequenos dedos rodaram em suas bochechas, um carinho sensível que demonstrava a dor que o filho guardou.

Aerys se lembra do medo que sentiu quando um morador veio correndo alertar a todos que haviam ladrões circulando pelo vilarejo. O quão desesperado se sentiu quando soube que todos se reuniram onde seu pai estava, Aerys chorou lutando contra a vovó para ir buscar o pai, nenhuma palavra vinda dela lhe trouxe conforto.

O FILHO DO BASTARDO Onde histórias criam vida. Descubra agora