A PERDA DE UM

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“ O mistério da existência humana não reside apenas em permanecer vivo.
Mas em encontrar algo por que valha a pena viver

Fiodor dostoievski”

                            
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                      Onze anos antes.




Os dedos suaves tocavam o instrumento com delicadeza de uma alma, a Harpa dançava em um sinfonia esplêndida, deixando seu doce som atravessar o peito de quem a ouvia. Helaena repete seus movimentos com graça,  causando o efeito divino entre o som e os toques, tão melancólico e harmônico. A curva de seu cabelo desceu de seu ombro quando estava fazendo um movimento mais agressivo contra as linhas.

Helaena suspira profundamente quando termina, sua mente se clareia como um rio de água doce. Era o que a princesa sempre fazia quando as vozes e imagens ficavam fortes demais, ou quando o estresse a tomava e só sua Harpa poderia a acalmar.

Um salve de palmas chamou sua atenção, no canto de seus aposentos estava seu querido irmão, Aemond, o garoto de dezessete anos a observava com seu único olho brilhando intensamente.

Helaena sorriu e o convidou para se sentar ao seu lado. – sente-se, querido irmão – Aemond não pensou duas vezes antes de acatar sua ordem. - me diga, o que lhe traz aqui? Vejo que o sol ainda não se pôs, certamente deveria está aprimorando suas habilidades na luta com espada.

Aemond parece pensar em suas palavras, Helaena tira esse tempo para observá-lo melhor. Olhando de perto, ela podia ver uma perturbação dança em suas expressões, como se uma luta acontecesse em sua mente e refletia em seu rosto. Helaena esperava paciente, não importava quanto tempo demorasse pois ela sabia que alguma hora ele iria contá-la.

– Você me considera fraco?  – murmura por fim, evitando seus olhos.

Helaena para, pega de surpresa pela pergunta. Aemond deixou os ombros caírem com o peso de seu olhar. – por que se perturbar com tais pensamentos, meu irmão? – argumentou contra, substituindo a pergunta dele com a sua.

Obviamente ele não esperava por isso, seu olho se dirige a ela com a mesma velocidade que sai. Havia algo de errado nele, seus ombros estavam tensos como pedra e ela podia ver o remexido nas unhas já machucadas.

–hmn…– outro murmuro seguido de um suspiro forte, Aemond se recompõe e a olha nos olhos, sua boca ligeiramente treme antes de prosseguir. – O que pensa sobre um montador roubar o dragão de outro montador que já havia declarado o dragão como seu?

Helaena se pega pensando seriamente sobre a pergunta. Dependendo da situação, poderia ser irracional, mas, uma declaração não era um vínculo. O dragão se permitiu ser dominado por aquele que considera igual a si ou…

– não há resposta.

O cheiro azedo de hortelã a preenche quase de imediato mesmo que Aemond tentasse mantê-lo baixo. – o que quer dizer?

Quando ele tenta levar seus dedos para a boca, Helaena o pega a tempo e segura firme enquanto leva sua outra mão para tocar o rosto do irmão com ternura, seus dedos dançam até a cicatriz debaixo do tapa olho e sem aviso, o arranca fazendo Aemond agarrar seu pulso por impulso.

Mas ela continua, traçando linha por linha, por um momento eles ficaram assim até seus lábios se moverem. – não há lei nos livros que lemos sobre um montador roubar o dragão de outro, Mesmo que um aponte e grite entre os pulmões: este dragão será meu. – Helaena move a palma até que fique perigosamente próximo da safira, Aemond não tentava a impedir, mesmo que ainda segurasse. – não, os dragões não funcionam assim. Eles escolhem, escolhem quem é digno e não nós, montadores.

–queimam e sangram, choro de dor e amor, rugido pelo aroma e lágrimas de uma criança, caminho separados retornaram a andar juntos como uma ligação.

A princesa puxa seu irmão batendo suas cabeças, um resmungo de dor passa de seu irmão para ela. Aemond ainda permite seu toque, o aperto de sua mão aumentando cada vez mais. – o mesmo aconteceu com você e Vaghar…

–para conseguir um dragão, ele terá que fechar um olho – Aemond repete suas palavras anteriores.

–mas dessa vez… você perderá algo que quase o consumirá. Entretanto, ganhará algo maior, o motivo que continuará pisando nessas terras. Por quem irá lutar incansavelmente e não descansará… – a princesa disse com seus olhos fechados, ela sentia o olhar intenso que recebia, porém as vozes soavam cada vez mais altas, acompanhadas pelas imagens fortes.

Ela viu Aemond mais velho, cabelos tingidos o suficiente para camuflar o branco, vestido em trajes de origens humildes.

Mas, também tinha uma criança pequena o acompanhando. Cabelos pretos com uma mecha branca quase invisível, Helaena o viu virar e sorrir para o menino com rosto desconhecido, um sorriso que ela nunca viu antes no irmão.

– tudo dependerá de suas escolhas, cada passo que tomar lhe enviará para um caminho.

Quando seus olhos se abrem, uma visão horrível a toma. Helaena segura sua boca para evitar que um grito saísse. Diante dela estava Aemond, não tão velho, quase como se fosse o garoto de dezessete anos que ela vira.

Porém o sangue de terceiros o consumia, a loucura dançava em seu rosto, mesmo que seu olho não tivesse vida. Aemond parecia um boneco, apenas seguindo comandos.

Um ar frio a consome e um alfa atravessou o cenário se aproximando do irmão e passando seu braço sobre o ombro dele. O homem sussurrou em seu ouvido com um sorriso vitorioso nas curvas, Aemond assentiu e se aproximou do corpo jogado no chão e puxa a espada.

Antes que ela visse o ato sanguinário, sua mente a puxa para o presente em um golpe. Sua respiração estava ofegante e seus nervos alcançaram o estopim, ela imediatamente solta o rosto do irmão assustada demais para continuar e isso o preocupa.

–Helaena?

–Dragões lutam e sangram. Choro e dor latejante os consumiu e lágrimas o perseguiu. A perda faz a falta e a raiva sobressai sobre. Alfa e ômega, travando batalhas.

Aemond a largou e buscou alcançar sua Harpa, tendo-a em mão, começou a seguir os movimentos que ela uma vez viscera. Ele lutou para se concentrar e ignorar os ruídos doloridos que vinham dela, um suspiro o toma e o som fica mais forte, não havia delicadeza ou sutilidade nele, entretanto serviria.

O som a alcançou tranquilizando sua mente. Aemond continuou, alheio dos movimentos suaves que ela fazia para segui-lo. Helaena colocou o queixo em seu ombro e passou a tocar junto a ele, causando um ruído estranho que aos poucos foi-se tornando agradável.

–não, não há resposta para algo que só acontecerá se você o tornar realidade. – sussurrou baixinho – Aemond, se por acaso está pensando em fazer algo, peço por favor que me conte. Sou sua irmã mais velha e me preocupo com o que se passa em sua mente, então não me deixe de fora, por favor…

Helaena pode sentir o corpo dele endurecer, ele se vira para olhá-la, a dando a visão completa da dúvida. – irei fazê-lo, Helaena. Eu aprecio sua preocupação…

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N/t

Parte um!

E já estou terminando a outra!

Resolvi dar um gostinho do que está por vir, já aviso que terá alguns saltos do passado!

Bjs e curtem se gostarem!

   

O FILHO DO BASTARDO Onde histórias criam vida. Descubra agora