O COMEÇO

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O fato de o mar estar calmo na superfície
Não significa que algo não esteja acontecendo
Nas profundezas.

-O Mundo de Sofia

O entardecer chegou com suas nuvens escurecidas pintadas por um laranja charmoso.

Aerys respirou fundo, recebendo profundamente o ar que vinha junto à ventania. O pequeno menino percebe a ameaça de uma chuva densa que logo cairia sobre sua cabeça, em poucos segundos pequenas gotinhas de chuva molham seu cabelo.

Era comum para o menino perceber tais mudanças com seu olfato aguçado, seu pai sempre o dizia que era uma habilidade extraordinária para um menino de tão pouca idade e o quão orgulhoso se sentia.

Ele sentiu no ar o quão orgulhoso seu pai estava, isso o motivou a continuar a treinar incansavelmente para aprimorar o quão longe poderia ir e quantos cheiros poderia distinguir.

Mas sempre acompanhado por seu pai, obviamente.

Aemond era bastante protetor com ele, em hipótese nenhuma o deixando ir tão longe. Mas, Aerys queria ir o quão longe pudesse, queria sentir cada fragrância que as flores poderiam proporcionar, cada árvore, cada feromônio e emoções que seu pai soltava para ajudá-lo distinguir o que são, não importava qual seja, ele só queria sentir.

Mas por respeito ao pai, sempre quebrou as regras de vez em quando.

Ele estava correndo de volta para o caminho de casa para não se molhar com a tempestade que vinha. quando chegou perto, sentiu o aroma azedo de hortelã envolver a casa.

A primeira coisa que seu pai ensinou era que: os cheiros das emoções não eram tão fortes, mas por ser sensível, tornava agressivo e difícil de lidar.

Ele entrou desorientado na casa, acabando por ter a visão do seu pai sentado pertinho da janela com cabeça escorada na palma da mão enquanto a outra segurava um livro velho e desgastado entre os dedos pálidos, seus olhos pareciam vagos e vazios, parecendo estar em outro lugar.

-Kepa? - a pergunta soa fraca enquanto tenta desesperadamente controlar a tosse, mas como já esperava, ele falha e acaba chamando a atenção do Pai. - está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

-Taoba Nuha... - um murmuro sai de seus lábios, seu olhar encontrar os do filho que estavam lacrimejantes por causa do odor de hortelã, percebendo por fim que era ele mesmo e então reprime dando espaço para seu habitual feromônio doce. para enfim ver o suspiro aliviado sair do seu menino. - não há nada para se preocupar, Aerys. Só acabei pensando demais.

-tem certeza papai?

-volto a repetir que não, não aconteceu nada...- Aemond sorrir vendo o estado preocupado do filho - não está muito cedo para ter voltado, querido? Pensei que queria brincar por mais tempo.

-sim eu queria, kepa. Mas percebi um aroma diferente no ar e senti que seria uma chuva vindo.

-uma chuva?

-sim!

-isso é esplêndido, Aerys. Cada vez mais vejo o quão habilidoso está se tornando e o quão forte será - os cantos da boca se transformaram em sorriso amoroso, seu olhar doce encheram o peito do pequeno filhote. - em pouco tempo, temo que até possa prever cada clima de vilavelha...

-eu teria que treinar muito! - ele afirma, parecendo mais empolgado com a ideia do que Aemond preferiria.

Aemond deixa seu livro repousar na cadeira e caminha em passos leves até o pequeno filhote que esperava ansiosamente por ele. Aerys era tão pequeno para sua idade e suas feições relutantemente o favoreciam para tal idade, tendo oito anos mas com a aparência de quando tinha cinco, O que dificultava a imagem de um menino crescido que ele era.

Aemond sente um desejo profundo enraizado na alma, tão egoísta e mesquinho, de que seu filhotinho nunca mais crescesse e fosse pra sempre um garotinho doce, mas sabia que o tempo não funcionava assim e que em poucos anos ele se tornaria um homem esbelto. Aerys era lindo, seus fios castanhos claros com pequenas ondas nas pontas, uma mecha branca por debaixo do mar marrom, rosto pintado pelos deuses, pele esbranquiçada, nariz achatado e seus olhos com um lado marrom escuro, e no outro um marrom claro que só poderia ser notado se olhasse com bastante atenção nas íris.

Aerys era um alfa, algo dentro dele gritava que sim, seria um alfa forte e gentil. Aemond não poderia estar mais orgulhoso.

Ele ouviu o barulho da chuva se aproximando, confirmando que seu filho estava certo sobre ela. Aemond sorriu apertado, alcançou o menino e o trouxe em seus braços e deu um beijinho na testa dele vendo seu rosto colorir em vermelho.

- é uma possibilidade, mas lembre-se que não pode passar do limite. Não sei exatamente o por que de ser tão sensível, entretanto, posso ajudá-lo a chegar longe - Aemond endureceu o olhar - se seguir corretamente minhas explicações sem desvios fúteis. Posso contar com sua participação?

O olho de seu pai encarou seu rosto, Aerys suspirou e concordou, seria mais fácil aproveitar enquanto ele ainda deixava.

Aerys recorda da última vez que passou dos limites e ficou de cama por uma semana inteira após sentir o cheiro de sangue de um homem morto que fora jogado por perto, ele ficou tão mal e seu nariz ficou entupido pelo resto dos dias doente.

Por todo esse tempo seu pai ficou do seu lado contando suas histórias da antiga valíria, preparando chás curativos e rezando firmemente para que os deuses o curassem de qualquer doença.

Sempre que abria os olhos via o sorriso acolhedor do pai, que rapidamente o alimentava com uma sopa sem gosto, mas que ele dizia que fazia bem para o corpo, então Aerys comeu cada colherada sem reclamar.

Quando chegava a noite e o sono caísse sobre ele, seu pai prepararia seu banho, iria arrumar a cama e o colocaria pra dormir com as histórias sobre os dragões saindo de seus lábios como uma canção de ninar, ele repetiria quantas vezes fosse necessário para o ver sorrir.

E quando seus olhos pesavam e fechavam para enfim dormir, as últimas coisas que sentia eram o cheiro doce de hortelã cair e ser substituído por um aguado, o fungar lento e dolorido sair dos lábios do pai.

Desde aquela trágica semana, prometeu aos deuses que nunca iria ultrapassar o limite para não ver o pai chorar.

-Aerys..

-sim kepa, prometo de dedinho que não vou! - Aerys levanta a mão e deixa seu dedo mindinho no alcance do rosto do pai.

-Puff... então será um jogo de dois - Aemond sorrir docemente e solta seu braço do corpo do filho o levando até a altura de seu rosto e deixa seu mindinho se entrelaça com o do filho. - prometo não ser tão duro nos ensinamentos-

-e irá me deixar chegar mais longe!

-tudo bem, e irei deixá-lo ir só um pouquinho longe... - seu filho faz bico, mas aceita a oferta e entrelaça os dedos firmemente. Ele ri e beija a bochecha rechonchuda ganhando dessa vez um beijinho em sua própria.

Enquanto o embala na cama para aproveitar o tempo chuvoso juntos, Aerys se conforta no pescoço do pai pegando da fonte o cheiro de hortelã.

Aemond se concentra em pentear os fios castanhos claros do menino com os dedos, um pensamento o ocorre porém rapidamente o empurra para baixo, não permitindo que interrompa seu momento com o menino.
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N/t

Eu fiz um post em que expressava o meu anseio em fazer uma história voltada a Aemond sendo um ômega com um filhote vivendo por anos longe de Porto Real.

Muitas pessoas gostaram da ideia e eu pensei: por que não?

Enfim, espero que gostem, comente suas opiniões e o que mais gostaram.

Lembrando que essa história será mais vista do ponto de vista de Aerys, mas haverá seções!

E essa é minha primeira vez fazendo uma fic omegaverso, céus, eu estou nervosa!

O FILHO DO BASTARDO Onde histórias criam vida. Descubra agora