II

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Nesta manhã, resolvi que seria diferente. Decidi levantar ao amanhecer e tomei a decisão de começar a mudar a rotina. Embora fosse algo difícil a se fazer.

Após procrastinar por algumas horas encarando o chão e refletindo se valia mesmo a pena começar a tentar mudar a rotina, decidi fazer uma caminhada. Mesmo sem um destino ao certo, caminhar seria uma forma de sair de casa e largar a cama por pelo menos algumas horas.

Tomei o caminho que me levou até percurso que eu sempre seguia com meu pai, quando íamos a uma quadra de vôlei. Apesar de saber que não era meu forte, eu amava jogar. O prazer de estar com ele ali, era maravilhoso.
Eu me distraia até mesmo com seu jeito de tentar me explicar cada movimento.

Ao entrar, sentei no chão mesmo e as memórias tomaram minha mente, todas elas estavam vivas em minha mente, poderia sentir o calor dele, poderia sentir o cheiro de seu corpo perto do meu enquanto tocava meu braço me ensinando a tocar na bola.
Sua risada ainda era tão audível que eu poderia garantir que ele estava ali, bem ali pertinho de mim. É claro que minha consciência me trouxe de volta a realidade, nossas risadas não se faziam presentes e nem mesmo seu cheiro era possível sentir, já que ele não estava ali e nem estaria.
Não consegui soltar sequer uma lágrima, mas permaneci encarando o chão buscando por respostas. Não para a morte, afinal, ela não tem uma resposta. Eu estava buscando por respostas que solucionassem minhas interrogações sobre: "Porque eu ainda o sinto? Porque eu ainda acho que ele está aqui? Porque ele ainda se faz tão vivo e presente mesmo já estando morto há quase um mês?"

Precisei me retirar dali antes que a vontade chorar viesse, eu já não poderia me dar a tortura de me entregar novamente.

No caminho de volta, enquanto meus dedos brincavam no bolso moletom que eu estava usando, ouvi o barulho de águas movimentando, estava passando em uma ponte.
Eu tinha lembranças daquele lugar. Meu pai e minha irmã sempre faziam pedidos em papéis e jogavam ali, era como se as águas levassem aqueles pedidos ao além e desejando com tanta vontade, eles seriam concebidos. Eles nunca me contaram se alguma vez deu certo, mas faziam isso  pelo menos uma vez ao mês.

Parei encostando no parapeito de concreto, e fiquei observando a correnteza que estava calma, poderia notar que ao fundo da água haviam pedras, sendo elas grandes e pontiagudas.
Sentei-me no parapeito com as pernas balançando para baixo e fiquei sentindo a brisa me atingir, o frescor que vinha da água me fez fechar os olhos e me permitir sentir aquele frescor que vinha dos ventos das primeiras horas matinais.

Notei alguém se aproximar lentamente e mesmo assim, acabei me assustando ao notar uma mulher me observando com o rosto assustada.

- Está tudo bem? - Ela me perguntou se aproximando o que me levou a ter um sobressalto e soltei um leve grito por impulso

- Meu deus , você quase me matou - Disse pondo a mão em meu peito

- Não era minha intenção, mas... É sério, você está bem? - Ela disse ainda assustada

- Está... Está tudo bem...

- É que você está aí, sentada no parapeito de uma ponte a essa hora... - Ela disse coçando a nuca

- Eu só estou refletindo mesmo...

- Desculpa atrapalhar - Ela disse subindo no parapeito e sentou ao meu lado - Costuma refletir aqui ?

- Na verdade, não... É a primeira vez que faço isso. - Eu disse ainda observando a água

- Sabia que dizem que aí no fundo tem um tesouro da época das navegações? Alguns dizem que é um grande tesouro europeu, outros dizem que é um tesouro africano... Não sabemos, mas alguns malucos já pularam aí em busca desse tesouro.

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