Nesta manhã, resolvi que seria diferente. Decidi levantar ao amanhecer e tomei a decisão de começar a mudar a rotina. Embora fosse algo difícil a se fazer.
Após procrastinar por algumas horas encarando o chão e refletindo se valia mesmo a pena começar a tentar mudar a rotina, decidi fazer uma caminhada. Mesmo sem um destino ao certo, caminhar seria uma forma de sair de casa e largar a cama por pelo menos algumas horas.
Tomei o caminho que me levou até percurso que eu sempre seguia com meu pai, quando íamos a uma quadra de vôlei. Apesar de saber que não era meu forte, eu amava jogar. O prazer de estar com ele ali, era maravilhoso.
Eu me distraia até mesmo com seu jeito de tentar me explicar cada movimento.Ao entrar, sentei no chão mesmo e as memórias tomaram minha mente, todas elas estavam vivas em minha mente, poderia sentir o calor dele, poderia sentir o cheiro de seu corpo perto do meu enquanto tocava meu braço me ensinando a tocar na bola.
Sua risada ainda era tão audível que eu poderia garantir que ele estava ali, bem ali pertinho de mim. É claro que minha consciência me trouxe de volta a realidade, nossas risadas não se faziam presentes e nem mesmo seu cheiro era possível sentir, já que ele não estava ali e nem estaria.
Não consegui soltar sequer uma lágrima, mas permaneci encarando o chão buscando por respostas. Não para a morte, afinal, ela não tem uma resposta. Eu estava buscando por respostas que solucionassem minhas interrogações sobre: "Porque eu ainda o sinto? Porque eu ainda acho que ele está aqui? Porque ele ainda se faz tão vivo e presente mesmo já estando morto há quase um mês?"Precisei me retirar dali antes que a vontade chorar viesse, eu já não poderia me dar a tortura de me entregar novamente.
No caminho de volta, enquanto meus dedos brincavam no bolso moletom que eu estava usando, ouvi o barulho de águas movimentando, estava passando em uma ponte.
Eu tinha lembranças daquele lugar. Meu pai e minha irmã sempre faziam pedidos em papéis e jogavam ali, era como se as águas levassem aqueles pedidos ao além e desejando com tanta vontade, eles seriam concebidos. Eles nunca me contaram se alguma vez deu certo, mas faziam isso pelo menos uma vez ao mês.Parei encostando no parapeito de concreto, e fiquei observando a correnteza que estava calma, poderia notar que ao fundo da água haviam pedras, sendo elas grandes e pontiagudas.
Sentei-me no parapeito com as pernas balançando para baixo e fiquei sentindo a brisa me atingir, o frescor que vinha da água me fez fechar os olhos e me permitir sentir aquele frescor que vinha dos ventos das primeiras horas matinais.Notei alguém se aproximar lentamente e mesmo assim, acabei me assustando ao notar uma mulher me observando com o rosto assustada.
- Está tudo bem? - Ela me perguntou se aproximando o que me levou a ter um sobressalto e soltei um leve grito por impulso
- Meu deus , você quase me matou - Disse pondo a mão em meu peito
- Não era minha intenção, mas... É sério, você está bem? - Ela disse ainda assustada
- Está... Está tudo bem...
- É que você está aí, sentada no parapeito de uma ponte a essa hora... - Ela disse coçando a nuca
- Eu só estou refletindo mesmo...
- Desculpa atrapalhar - Ela disse subindo no parapeito e sentou ao meu lado - Costuma refletir aqui ?
- Na verdade, não... É a primeira vez que faço isso. - Eu disse ainda observando a água
- Sabia que dizem que aí no fundo tem um tesouro da época das navegações? Alguns dizem que é um grande tesouro europeu, outros dizem que é um tesouro africano... Não sabemos, mas alguns malucos já pularam aí em busca desse tesouro.

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Pétalas
Fanfiction"Viver é todo sacrifício feito em seu nome..." Quando a vida perde o sentido, do que vale se manter viva? Quando somos feitas de interrogações, porque não se deixar ir? Quais os seus propósitos? Porque ainda permanece...? Esses questionamentos se...