III

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Na manhã seguinte, eu fiquei encarando a janela ainda embaçada pela neblina da madrugada e me forcei a sair da cama. Eu havia instituindo um propósito: Eu iria recomeçar.

Levantei ainda sonolenta e mesmo assim, decidi fazer minha caminhada. Segui dessa vez com um fone, estava ouvindo músicas calmas para as primeiras horas do dia.

O percurso me levou até aquela ponte, aquela maldita ponte.

Notei que havia uma pessoa sentada no parapeito, era a "estranha".

- Dessa vez você tá estranha sentada aí - Disse subindo no parapeito e ela me recebeu com um sorriso

- Olha só! Eu falei que você iria voltar! - Ela disse me observando sentar ao seu lado

- É, eu voltei... Porque está aqui?

- Só pensando... Achei que realmente não viesse. - Ela disse encostando nossos ombros

- E não vinha... Mas acabei sendo forçada a vir até aqui

- Quem te forçou? - Ela perguntou olhando em meu rosto

- Minha curiosidade em saber se você estaria aqui - disse olhando para as águas que dessa vez, estavam com correnteza mais forte.

- Eu disse que estaria, estava te esperando... A propósito, eu tenho um nome, sabia? - Ela disse sorrindo

- E qual seria? - Perguntei e notei que seus olhos ainda estavam focados em meu rosto

- Celeste, Celeste Plak... - Ela voltou sua atenção para as águas e seus pés balançavam de uma forma fofa

- Diferente... É um lindo nome! - Eu disse observando seus pés que mais pareciam o de criança

- É holandês... Eu sou holandesa, me mudei pra cá há 3 anos mais ou menos

- Bem que eu notei um sotaque diferente mesmo...

- E você? - Ela perguntou

- Ah, eu sou daqui mesmo - Respondi em tom irônico

- Seu nome... - Ela disse sorrindo

- Priscila, mas pode me chamar de Pri.

- Pri... Muito bom te conhecer, Priscila... - Ela disse sorrindo e pude ver seus olhos brilharem. Eu retribuí com um sorriso e ela tocou em meu ombro - Você é muito legal, sabia?

- Eu sei, sei muito bem disso - disse e ela sorriu, notei uma lágrima em seu olho. Não faz sentido pra mim, mas por algum motivo seus olhos estavam marejados. - Está tudo bem?

- Está, você... Você me lembra uma pessoa, só isso - Ela disse voltando seu olhar para água

- Alguém? Me diga, quem vem a sua memória?

- Uma pessoa que eu amei, uma pessoa muito especial. Você adoraria conhecer... Você se parece com ela

- Você devia amar muito... Seus olhos brilham quando fala

- É... Mas não vamos falar disso, me diga Priscila, o que fazia nessa ponte ontem? - Ela disse agora me observando e seu olhar intercalava entre meus olhos e meu corpo

- Eu estava pensando, já disse. Esse lugar tem um significado pra mim... - Eu disse e pude sentir um nó em minha garganta

- Eu sei... Eu imagino - Ela disse em um curto espaço e notei seu nervoso - É estranho ver alguém tão cedo sentada assim, pensei que iria...

- Não! Não mesmo... Como você disse, eu sou inteligente demais pra isso!

- Ainda bem que eu estava certa.

PétalasOnde histórias criam vida. Descubra agora