IV

155 14 29
                                    

O percurso até o edifício não foi fácil, tentei não ter medo a cada vez que um carro passava por mim, mas era impossível.
Tentei me manter segura mas Thaísa logo percebeu minha inquietação.
Ao adentrar o prédio onde eu morava, o porteiro estava mais velho, seus cabelos estavam mais grisalhos do que me lembro... Como pode em um mês as pessoas simplesmente mudarem assim?

- Dona Priscila... Quanto tempo! - Ele disse assim que me viu

- Oi... - Eu disse e retribuí um sorriso

- Dona Thaísa... Deixaram algumas encomendas pra senhora, o seu Rafael recebeu mas como precisou sair, pediu que eu lhe avisasse. - O porteiro disse, achei estranho já que Thaísa não morava ali

- Obrigada, eu tinha esquecido completamente. Ele saiu?

- Sim, faz mais ou menos 30 minutos

- Ah ok... Vamos Pri - Eu segui a mais alta enquanto levamos algumas caixas com minhas coisas. Embora eu estivesse curiosa sobre o que o porteiro disse, outras coisas rondavam minha mente.

Agora no elevador, enquanto esperava chegar ao meu andar, Thaísa falava sobre como estava sendo o processo de convivência com Rafael e como ela esperava por um pedido de casamento, já que sonhava com festa, cerimônias e tudo. Embora eu estivesse presa a ideia de ter que enfrentar aquele cenário assim que cruzasse a porta, ouvir os sonhos de Thaísa estava me fazendo sorrir e acabar sonhando com ela.

- Pronta? - Ela me perguntou assim que as portas metálicas se abriram

- Pronta... - Respondi calmamente tentando não transparecer o turbilhão de emoções que estavam em mim.

Ao adentrar o local, notei que tudo estava coberto, o cheiro de poeiras era impregnante e até mesmo a iluminação estava baixa demais.

Passando pela sala, notei poeira em meus móveis e o sofá coberto por um tecido branco. O ar me deixava com certa agonia devido a tanta poeira.

- Como que isso chegou a esse estado? - Eu disse olhando em volta

- É que... Né, você estava fora...

- Um mês - Eu disse incrédula

- É... Bom, vou descer e pedir pro porteiro ou alguém me ajudar a trazer as outras caixas que estão no meu carro, o restante das coisas eu peço pra alguém pegar na casa da sua mãe, pode ser? - Thaísa disse

- Sim, eu vou tentar limpar isso aqui - Disse pondo a mão na cintura e analisando por onde iria começar.

Enquanto Thaísa voltava para o carro, eu fui até alguns porta-retratos que estavam sobre o racker, todos eles virados para baixo.

Ao virar o primeiro, era uma foto minha em minha formatura, outra era com meus pais e a última... A última não tinha foto, estava sem foto e achei estranho, eu não teria um porta-retrato sem uma foto.

Havia um papel, uma caligrafia que não era minha ou de alguém de minha família.

"Espero que leia isso um dia...
Como a terra anseia pela volta do sol para iluminar um belo dia
Eu aguardo a tua volta chamando-me de 'amor'
Até o fim de minha vida...

tua C"

Tentei lembrar de quem seria este bilhete, quem seria "C"  e porque anseia que eu volte a lhe chamar de amor?

A minha vida toda eu estive focada em meus estudos e em me manter estabilizada financeiramente e psicologicamente, um relacionamento ou qualquer relação que me tirasse de meu foco estava totalmente fora de cogitação.

PétalasOnde histórias criam vida. Descubra agora