XIX

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Então, era isso... Eu estava perdendo mais uma pessoa da minha vida.
Que irônico, alguns dias atrás eu estava torcendo para que ela desaparecesse da minha vida e agora, ela realmente se foi.
Não consigo sentir nada além de raiva, como ela pode fazer isso? Sair como vítima da história? Peso na consciência?
Minhas lágrimas secaram quando todas as palavras dela voltaram à minha mente. Me senti culpada por não sentir totalmente a dor de perder uma mãe, mas sabia as coisas horríveis que ouvi dela.
Apesar de tudo, durante o tempo em que não me lembrava do que havia acontecido, ela foi uma boa mãe. Bom, pelo menos eu achei que fosse... Ela me tratava bem, cuidava de mim e sempre se fazia companhia. A verdade é que eu estava sendo a filha que ela queria, a que não lembrava de suas palavras e nem lembrava do quanto a odiava.
Durante o caminho até a casa de meus pais, o silêncio era gritante no carro. Plak por diversas vezes alternava seu olhar entre o trânsito e meu rosto, sabia que estava preocupada apesar de não achar necessário.
Sua respiração sempre pesava a cada vez que nossos olhares se encontravam, era perceptível sua tristeza.
Eu estava concentrada em não me descontrolar e descontar nos vidros daquele carro toda minha raiva, toda minha tristeza e tudo o que ela me causou.

Como ela pode fazer isso? Essa sempre será a pergunta que irá me rondar.

- Tem certeza que quer ir até lá? - Plak perguntou pela segunda vez, já que a primeira foi quando ainda estávamos em nossa casa.

- Eu preciso que você passe na clínica antes, preciso falar com o Rafael... - Disse sem olhar para ela, mas sabia que estaria confusa.

Eu precisava dar um jeito de lidar com os meus problemas.

Ao chegarmos à clínica eu desci do carro e pretendia entrar sem ao menos explicação para minha namorada, mas fui interrompida por seu braço forte me puxando para si.

- Ei, calma... Eu sei que você precisa conversar e com certeza o psicólogo é uma ótima opção. Mas está muito recente... Ainda temos que ir até lá e...

- Eu não vou conversar com o Rafael como psicólogo. Eu preciso ter uma conversa com o meu sócio.

- Você não tem condições de falar de trabalho agora, Priscila! - Ela disse em um tom mais firme e isso foi apenas um impulso para que eu fosse até lá

- Não são condições, são necessidades. Ele mesmo disse que eu precisava seguir em frente... Agora é hora de seguir em frente. - Me soltei de seus braços e segui até a clínica.

- Pri... - Júlia veio até mim com o rosto entristecido

- Por favor, não... - Fiz sinal para que ela parasse e não se aproximasse, tudo o que eu menos queria era a pena das pessoas por conta da morte de minha mãe. - Eu preciso falar com o Rafael

- Claro... Eu vou avisar ele que você está aqui - Ela seguiu até a sala onde estaria Rafael e não demorou para que voltasse - Pode entrar, ele está te aguardando.

Segui até a sala e Rafael me esperava encostado na mesa com um semblante entristecido.

- Pri... - Ele disse em tom preocupado

- Por favor, não... Não faça isso. Não quero ouvir seu discurso de pêsames. Eu preciso que você me escute, não é isso que você faz?

- Sim... - Ele disse e respirou fundo

- Eu preciso que cuide da minha clínica, eu não posso voltar... Eu preciso ir embora daqui.

- Espera, ir embora pra onde?

- Eu não sei, eu preciso sair desse poço de tristezas. Eu não aguento mais olhar para os lados e tudo ser um motivo para que eu desista de tudo, que tudo me lembre das pessoas que eu já perdi e aquelas que eu fiz sofrer... Eu não aguento mais isso aqui. Eu preciso ir embora e esquecer tudo isso que tem acontecido comigo. - Senti um nó em minha garganta e  Rafael respirou fundo

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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