O Paleontólogo
- E o que o senhor diz sobre isso? - disse a reporter para o rapaz de cabelos loiros e de óculos redondos a frente.
- Bem - assentiu. - os relatos do pescador não podem, de jeito algum, se tratar de algum animal real. Eu pensei que pudesse se tratar de um azarado crocodilo-de-água-salgada, mas não teria como um dessa espécie surgir lá assim de repente. Pensei, também, no crocodilo-do-orinoco, que é a espécie mais próxima da região, mas não iria bater com a descrição do tamanho.
- Então o relato é falso?
- Provavelmente - ele ajeitou os óculos em seu rosto. - quero dizer, as investigações feitas pela marinha não resultaram em muita coisa, não é?
- Essa é sua declaração final, sr. Tenave?
- Bem... é sim.
- Certo. Muito obrigado pela entrevista, professor.
A reporter finalizou genéricamente a transmissão na frente das câmeras que gravavam o cenário. Tenave, o rapaz loiro, foi até a reporter e a cumprimentou. Depois pegou seu chapéu e saiu do estúdio. Pelo corredor, ficava pensando se deu as corretas informações, ou se elas foram muito vagas.
Agora saira do prédio da emissora de TV, na qual dara uma entrevista sobre os avistamentos na pôlemica ilha San Jose. Se aproximou de seu carro, um onix preto, e abriu a porta do motorista singelamente. Sentado no assento, fechou a porta e deu partida. Trocando para marcha 1 e, depois a marcha 2. Acelerando e desacelerando a cada vez mais que devia.
Dirigia direto para sua casa, afinal ele daria aula na Universidade de São Paulo no dia seguinte. Ele era conhecido por ser um ótimo professor para os seus alunos, e para os outros professores também.
Chegou em sua casa, tinha azulejos cobrindo todas as paredes de tijolos e a porta da frente ficava entre duas janelas retangulares. Saiu do carro o travando e foi direto para porta da frente. A destrancou e a abriu expondo uma pequena sala de estar. Um sofá e uma tv em cima de um raque eram os únicos móveis que compõem sua sala, além de muitos vasos de plantas no chão e pendurados no teto.
Fechou a porta jogando a chave em cima do raque e andou direto para uma outra porta, seu escritório ficava lá. Já abriu lentamente a porta e se sentou na cadeira em frente a mesa. Uma expressão de alívio veio ao seu rosto antes sonolento.Olhou o relógio eletrônico em seu pulso, 20:57 estava marcando. Não queria dormir agora, mas também não fazer nada. Estava em sua cadeira, de braços cruzados, apenas ouvindo o vento balançar os galhos das árvores fora de sua casa.
Ele desarmou seus braços e abriu a gaveta da mesa, retirando de dentro um fichário. Ele pôs o fichário na mesa e o abriu. Apenas as 2 primeiras páginas estavam escritas.Tenave tornou-se paleontólogo há mais de 13 anos, e desde então, sempre tentou escrever um livro sobre as grandes descobertas da paleontologia, sobre os comportamentos dos animais pre-históricos e suas classificações. E começara a escreve-lo há dois dias, mas não tinha ideia do que pôr em cada página pálida. Então, sem saber o que escrever, se levantou da mesa e, com passos pesados, saiu do escritório e subiu as escadas ao lado para o seu quarto, um cubículo com apenas uma cama e um criado mundo. Ele se jogou de bruços á cama e lá permaneceu até a quietude cobrir seus olhos. Acordou num pulo ao ouvir o tremendo e irritante barulho do dispertador. Agora iria se arrumar para o trabalho.
Desceu as escadas para o banheiro e, depois de se banhar, vestiu uma camiseta abotoada e uma calça bege. Ele pôs o relógio eletrônico no pulso e foi até a cozinha. Esperava uma cafeteira no fogo, que já tinha começado a balançar. Tenave a retirou do fogo e apontou para uma chicara, derramando o líquido escuro
Terminou de tomar o café e pegou uma pasta, colocando debaixo de seu braço. Abriu a porta da casa e saiu, a trancando novamente. Os vizinhos o observavam correr para a praça na frente de sua casa onde estava o carro.
Correu para o carro e entrou, dando partida. Dirigiu pelas ruas da cidade de São Paulo até a USP, onde lecionava. Segurava no volante, sempre observando as estradas por onde passava. E olhando, também, seu relógio: estava atrasado.
Estacionou perto de outros carros e saiu para o grande prédio a sua frente, caminhando rápido para as portas. Entrou na recepção, onde não havia ninguém. Subiu as escadas e virou em corredores até chegar na sala onde ensinava. Ao abrir a porta, foi recepcionado por vários olhos curiosos.
- Muito bem - disse ele, indo para frente da lousa. - me desculpem o atraso, mas agora podemos começar.
O resto da aula fora tranquilo, o prof. Tenave falava sobre os ambientes nas eras paleozoico, mesozoico e cenozoico. Também mostrava como se percebia que tipo de bioma era local antes dos dias de hoje. Até o fim do dia teria sido tranquilo. Perguntas eram feitas e respondidas com muito prazer pelo professor. Um aluno havia se levantado.
- Professor Tenave - ele o chamou. - o senhor acha mesmo que podia ter sido um crocodilo?
- Como? - Tenave perguntou confuso.
- Na entrevista, o senhor deu a possibilidade de ter sido um crocodilo.
- Ah, sim. Não, não tinha como ser um crocodilo. Provavelmente era só mais uma história de pescador.
- Mas o jeito que ele o descreveu... me lembrou um barionyx.
- Um dinossauro extinto a muito tempo? Eu acho que não, Vinícius.
- Bem, existem histórias de pescadores que se descobriram ser verdadeiras, não?Tenava pôs essas ultimas palavras na cabeça, mas mesmo assim voltou a dar sua aula sem mais tocar no assunto. A aula havia terminado e os alunos tinham saído da sala. O professor ligou seu relógio que marcava 17:04, e assim foi embora, seu dia deveria ter terminado mas se encontrou com Vinícius, o mesmo aluno que insistia na ideia do dinossauro.
- Professor - chamou.
- O que é, Vinícius?
- Veja, amanhã o museu de história natural vai estar exibindo vários fósseis. Por que não damos uma visíta lá?
- Amanhã? Não vai dar. Tenho compromisso.
- Compromisso? Com o que? Com a TV?
- Exatamente
- Ora vamos. Há quanto tempo o senhor não sai de casa?Tenave ficou calado. Desviou seus olhos do aluno para o chão, entregando a resposta óbvia.
- Está bem - disse Tenave. - eu vou.
- Ótimo - Vinícius se afastou, indo para a porta. - ás 3 da tarde.
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NeoMezo
Science FictionUm magnata, amante da vida selvagem, descobre o segredo para trazer animais extintos de volta a vida, pretendendo fazer com que o mundo saiba como esses viviam. Mas, quando inesperadamente começa a trazer atenção indesejada, a segurança desses anima...