Museu

Era sábado de manhã, os pássaros voavam pelos céus observando o homem loiro abrir a porta de sua casa. Tenave queria respirar um pouco de ar puro. Ficava infurnado dentro do escritório todos os dias que não trabalhava na universidade e quase não tinha a chance de sair e aproveitar a atmosfera do local onde vivesse - por mais que fosse considerado que a cidade de São Paulo tivesse um ar um tanto poluído - Se escorava no pequeno muro que cercava sua casa e lá ficou por um momento, em paz, até sua vizinha, a senhora Dilma, aparecer em sua frente.

- Eh... sr. Tenave? - chamou. A idosa aparentava ter por volta dos 70 anos, tinha cabelos grisalhos presos e vestia um vestido branco. - posso falar com o senhor?
- Claro senhora - respondeu Tenave. - o que deseja.
- Ontem, um homem procurava por você.
- Um homem?
- Sim. Eu disse a ele que o senhor estava na universidade.
- E o que ele disse?
- Ahm... - a senhora procurava na mente. - ah, sim. Ele disse que voltaria hoje as 4 da tarde.
- Pois é uma pena - Tenave saiu de dentro do muro para melhor interagir com a idosa. - irei sair uma hora antes. Bem, quando ele chegar, pode dizer a ele que estarei no museu da USP?
- Claro, posso sim.
- Obrigado, dona Vilma. Tenha um ótimo dia.

A idosa se virou de costas e entrou na casa ao lado. Tenave voltou para dentro de sua casa e trancou a porta da frente. As plantas nos vasos da sala balançavam com o vento surgindo das janelas abertas. Ele se sentou no sofá púrpura com uma perna em cima de outra, então pegou o controle remoto ao seu lado e ligou a televisão. Estava passando um noticiário que falava ainda sobre os estranhos relatos. "Parece que não se fala mais em outra coisa" era o que Tenave pensava.

Mudava de canal para tentar encontrar alguma coisa de interessante para ver. Mas, entre todos aqueles comerciais e jornais ao vivo, a única coisa que lhe interessou mesmo foi um documentário sobre a savana africana. Mostrava animais nativos do continente, o suficiente para lhe deixar sonolento. Então o sono lhe veio aos olhos que se fecharam lentamente. E ele dormiu.

O relógio marcava 14:51 quando acordou se espreguiçando. O susto que levou ao olhar o relógio foi como se tivesse um fantasma em sua frente. Rapidamente, ele correu para o quarto, já trocando de roupa. Uma jaqueta xadrez e calça jeans não poderia combinar mais.

Não hesitou em saír sem comer algo, já estava bem atrasado, e sabia bem que nenhum dos seus alunos tolerava atrasos. As vezes sentia que ele era o aluno na frente de vários professores.

Tenave se encontrava no carro já a caminho do museu onde encontraria Vinícius. Dirigia debaixo de uma fina chuva que engrossava cada vez mais. O céu já escurecia pelas nuvens tardias.

Chegou no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e Vinícius já o esperava na entrada debaixo do peitoril que o protegia da chuva. Tenave saiu do carro e seguiu até a porta do museu, onde encontrou o aluno.

- É bom vê-lo, professor - disse Vinícius. - embora esteja um pouco atrasado.
- Bem, ao menos estou aqui - respondeu o professor, entrando no prédio. Ele apontou a cabeça para cima, avistando o cartaz longo e pendurado ao teto. - "novas exibições"?
- Sim, estão exibindo novos esqueletos de animais antigos aqui.

Vinícius pôs a mão no ombro de Tenave,  como se o direcionace para frente. Entraram na sala a direita onde vários fósseis eram exibidos nas paredes e um enorme esqueleto é exibido no centro. Tinha um crânio estreito e andava sobre as duas patas traseiras.

- Esse aí do meio - Tenave apontou para o esqueleto. - é um alossauro?
- Acho que sim - Vinícius se aproximou dos fósseis pendurados na parede ao seu lado, eram marcados em rocha e possuíam formas espiraladas de diferentes tamanhos e formas. - moluscos?
- Sim, como amonites.
- Disseram que há um esqueleto de irritator aqui.
- Mesmo?
- Sim, vamos procura-lo

O professor seguiu para outra sala, com várias esculturas de animais do cenozoico. Vinícius, que vinha atrás dele, se posicionou na frente da escultura de um gliptodonte, ele sempre o chamava de castor-tartaruga por seu crânio de um mamifero e um casco arredondado protegendo o interior do corpo. Ao lado da escultura, havia um casco fossilizado comparando com o modelo.

Tenave passava observando outros animais esculturados. Um smilodonte, um namute lanoso e uma ave do terror, cujo bico tinha sua comparação de um outro fossilizado. No centro, uma escultura em tamanho real de um paraceraterium, chamado de rinoceronte-girafa. Tinha o corpo robusto e encouraçado e um longo pescoço sustentando uma grande cabeça.

Assim seguiram para próxima sala. Essa tinha esqueletos montados de muitos dinossauros, grandes e pequenos. Nos cantos da sala haviam exposições de partes de esqueletos incompletos e replicas totalmente montadas pelo centro, tais como a de um carnotauro e de um picnonemossauro, ambos com cabeças chatas e braços bem curtos.

- Vinícius - chamou o professor. - pergunta rápida, qual a família do picnonemossauro?
- Eu acho... - pôs a mão no queixo, de modo que viesse a pensar. - é abelisauridae, como o carnotauro.
- Muito bom.

Seguiram agora para o outro lado onde finalmente conseguiram finalizar sua busca: uma réplica do esqueleto de um irritator se encontrava montado ao lado de um crânio fossilizado. Ele tinha seu focinho comprido e garras pontiagudas nos polegares.

- Aqui está - Tenave cruzou os braços, admirando o crânio fóssil. - finalmente o trouxeram de volta.
- Agora que está aqui, nenhum gringo pode pegar de novo, não é?
- Bem, se passarem a segurança eles podem leva-lo sem que alguém saiba.

Vinícius riu da fala do professor. Após isso eles se sentaram para descutir assuntos do curso universitário, quando foram interrompidos por homem vestido com um terno preto portando uma maleta de couro.

- Professor Tenave? - o homem lhe chamou a atenção. - gostaria de lhe falar.
- Sobre? - Tenave se levantou e Vinícius fez o mesmo.
- Algo de grande importância.

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