XIV

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25 de Julho de 2004.
Manhattan, Nova York.

Quando a transmissão terminou e a tela ficou em branco, eu me virei lentamente para encarar Kelly, Michelle e Solange. Elas me observavam com um misto de preocupação e hesitação. Pelo olhar delas eu conseguia ver a dor que sentiam por mim. O silêncio era denso, como se o mesmo peso envolvesse a todas nós.

— O que você vai fazer? — Kelly finalmente quebrou o silêncio. Sua voz era tensa e baixa, quase como se ela temesse a minha resposta.

Olhei para ela sentindo meu olhar distante, apático, como se eu estivesse em um lugar muito longe daqui. A minha resposta saiu com uma frieza que eu não reconheci em mim mesma.

— Vou arrumar minhas malas. — Minha voz soou monótona. — Tenho um voo para pegar amanhã cedo.

Sem esperar por mais perguntas ou preocupações, virei e subi as escadas em passos firmes. O som dos meus passos firmes ecoavam pelo corredor vazio. Kelly, Michelle e Solange me seguiram, e eu podia ouvir suas vozes baixas e preocupadas atrás de mim, mas ao mesmo tempo eu não conseguia ouvir. A mente estava focada em uma única coisa: escapar daquela dor.

Nós voltaríamos para Los Angeles no dia seguinte de qualquer forma. Fomos em Nova York apenas para resolver algumas questões burocráticas do novo e último álbum das Destiny's Child, mas agora o que restava para mim era uma necessidade urgente de fugir, de deixar para trás aquele cenário, que agora se tornou uma um lugar de dor e traição.

Como pode um homem virar a minha vida de cabeça para baixo de forma tão fácil? Há meses atrás eu estava bem. Me recuperando de um término bem doloroso, mas que não chega aos pés da dor que sinto agora, com a hipótese de estar sendo traída.

Entrei no meu quarto como um furacão descontrolado. Antes que eu pudesse fechar a porta atrás de mim, sem olhar para trás, Kelly colocou a mão contra a madeira e entrou no quarto com Michelle e Solange logo atrás.

Comecei a tirar desesperadamente minhas roupas do armário, jogando cada peça dentro da mala sem me preocupar com a desordem. O caos externo era um reflexo do caos interno que eu sinto dentro de mim agora.

— O que você está fazendo, B? — Michelle perguntou, tentando se aproximar de mim.

Parei por um momento, olhando para elas enquanto segurava uma blusa branca na mão.

— Vou mata-lo. — Falei firme, antes de voltar a jogar as roupas na mala. Minha mente estava focada no que eu precisava fazer para confrontar aquele filho da puta que se diz Rei do Pop. Rei do Pop ele pode até ser, mas fiel? Pelo visto ele não é.

Com um olhar lateral, vi as meninas se entreolharam, talvez compreendendo que não havia nada que pudessem fazer para mudar minha decisão. A escolha estava feita, e o melhor que poderiam fazer agora era me apoiar, mesmo que fosse apenas em silêncio.

Mas, após alguns minutos, o cansaço emocional finalmente me dominou. Sentei na beirada da cama e apoiei os cotovelos nas coxas, escondendo o rosto nas mãos. Eu não podia chorar. Não agora.

Senti o peso de alguém sentando ao meu lado, e logo depois no lado oposto. Duas mãos começaram a acariciar minhas costas, uma em cada lado, em um gesto de conforto silencioso.

— B... — Escutei a voz suave de Kelly no meu lado direito. — Talvez você devesse conversar com Michael antes de tomar qualquer atitude. Pode haver uma explicação para isso. Talvez não seja o que parece.

Ergui o rosto das mãos, olhando para ela com olhos marejados, evitando derrubar qualquer lágrima.

— E se não for? — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro. — E se ele realmente me traiu?

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