2 - VIVENDO O PRESENTE

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3 ANOS DEPOIS...

Estava um dia de muita chuva e frio em Boston quando seu carro decidiu lhe deixar na mão como sempre fazia quando ela estava com pressa.

- Não, não, não! - Annie bateu no volante chateada. - Vamos lá lindinho, coopera comigo!

Tentou fazer com que sua picape de segunda mão pegasse por três vezes, mas sabia que seria inútil. Tinha menos de 25 minutos para chegar ao trabalho e era um dia que ela não podia se atrasar. Estava trabalhando na editora Johnson há 6 meses como recepcionista e naquele dia o CEO da empresa marcou uma reunião importante com todos os funcionários. Ninguém sabia do que se tratava, Annie estava com medo de demissão em massa para corte de gastos e não podia dar motivos para ser uma das pessoas com o nome na folha de corte.
Desistindo de fazer o carro funcionar ela o deixou estacionado e se abrigou debaixo de uma barraquinha de cachorro quente enquanto chamava um táxi.
Em 10 minutos o carro amarelo parou e ela correu debaixo da chuva em direção a ele, mas quando entrou outra pessoa fez o mesmo pela outra porta.

- Ei, esse táxi é meu! - Ela falou fechando a cara para o homem de terno que sentou do seu lado. - Você pode sair por favor?

- Eu também chamei um táxi, quem me garante que esse não é o meu? - o homem respondeu e então olhou para ela pela primeira vez.

- Eu garanto! Estou com pressa, moço!

- Eu também estou. Qual o seu nome? - Perguntou admirado pela beleza dela.

- Quer saber o meu nome? É sério? Não te interessa! Agora sai logo do carro, por favor!

- Se você está incomodada então você é que tem que se retirar. - Ele disse dando de ombros decidido a não sair do táxi. - Pode ir em frente motorista, para o centro.

- Ele não vai não, você tem que descer! - Annie falou cruzando os braços e encarando o homem que acabou rindo da sua atitude.

- Vocês dois não podem dividir? Preciso sair daqui ou serei multado, essa área é proibida pra ficar parado enquanto vocês decidem quem sai e quem fica. - O taxista interviu tentando encontrar uma solução para os dois.

- Só preciso chegar até o Centro, tudo bem para você se dividirmos? - O homem perguntou a ela. Não estava tudo bem, mas ela estava atrasada demais para continuar batendo boca com um desconhecido.

- Tudo bem. - Respondeu contrariada. - Mas só porque o centro também é o meu destino.

O taxista deu partida aliviado saindo daquela avenida e foi em direção ao destino dos dois passageiros.
O homem engravatado até tentou puxar uma conversa falando do clima e da escassez de táxis aquele horário, mas ela não lhe deu abertura ignorando tudo o que ele falava até que ele parou de insistir, de vez em quando virava para olhar pra ela enquanto Annie não parava de olhar o relógio preocupada, chegar atrasada já era um fato, só estava torcendo para não ser a única.
A uma quadra do seu destino o trânsito começou a parar, um engarrafamento fez todos andarem de forma lenta a deixando ainda mais atrasada.

- Eu vou descer aqui e continuo andando! Quanto ficou a corrida? - Ela perguntou se dirigindo ao motorista.

- $12 dólares. - Ele respondeu mostrando o taxímetro.

- Não precisa pagar, é por minha conta. - O homem com quem dividia o táxi falou colocando a mão no bolso. - Droga!

- Não vai me dizer que esqueceu sua carteira, engomadinho. - Annie disse revirando os olhos.

- Não só a carteira como o celular também. - Ele respondeu batendo a mão na testa se sentindo um completo idiota.

- Desculpa mas não faço corrida sem pagamento não moço, preciso receber! - O motorista falou olhando pra eles pelo retrovisor, já impaciente com toda a troca de farpas entre os dois desde o início.

- Toma aqui senhor, fique com o troco! - Annie ofereceu 14 dólares ao taxista. - Da próxima vez se certifique que tem dinheiro pra pagar antes de fazer alguém dirigir pra você, engomadinho.

Foi a última coisa que ela falou antes de sair e correr debaixo da chuva cobrindo a cabeça com sua bolsa. A saia lápis já estava amassada, a blusa que tinha uma certa transparência por ter um tecido fino ficou ainda mais transparente por pegar os respingos de chuva. O homem até tentou alcançá-la, mas não conseguiu. Quando ela adentrou o prédio em que trabalhava correu com cuidado até o elevador e agradeceu aos céus por não estar cheio. Desceu no oitavo andar onde ficava o auditório de reuniões e viu quase todos os seus colegas já presentes.

- Bom dia, meu raio de sol! - Elias, seu amigo mais próximo a cumprimentou beijando seu rosto quando a viu. Ele era um dos revisores mais antigos da empresa. - Já estava começando a ficar preocupado, o que aconteceu? Resolveu tomar um banho de chuva?

- Bom dia amigo, adivinha só?

- Sua lata velha de novo?

- Acertou em cheio. Mas não chama ela assim, gosto da minha latinha azul! - Ele riu, tinha perdido as contas de quantas vezes já falou pra sua amiga vender aquele carro, mas ela falava sempre do seu apego emocional pois foi o primeiro carro que conseguiu comprar quando se mudou para os Estados Unidos. - E pra completar minha sorte do dia um homem idiota entrou no meu táxi, acredita? Me fez dividir com ele lá do Back Bay até aqui e ainda estava sem dinheiro pra pagar, paguei a corrida sozinha. É cada uma que acontece comigo!

- E o dia está só começando viu! - Ele respondeu a puxando pela mão até as cadeiras que deixou marcado.

Em menos de 15 minutos o auditório já estava completo com os funcionários, todos ansiosos e preocupados esperando o pronunciamento, até que começou.

- Bom dia. - Michael, o dono e diretor da empresa falou no microfone. - Pelos rostos de vocês acredito que estejam muito preocupados com o motivo dessa reunião, mas fiquem calmos, não iremos demitir ninguém ainda. - Todos riram um pouco mais aliviados em saber que não teria demissão. - A editora Johnson existe há exatos 34 anos no mercado, comecei na garagem da minha casa enquanto minha esposa esperava nossa primeira filha e hoje somos a maior editora de Boston e a terceira dos Estados Unidos, com inúmeras obras publicadas. Grandes nomes já passaram por aqui e vocês tiveram o prazer de acompanhar alguns.

Todos estavam atentos e ansiosos para ouvir aonde ele queria chegar afinal.

- Bom, indo direto ao que interessa, a empresa passará por uma mudança importante. Eu estou ficando velho e cansado, não consigo mais acompanhar tantas mudanças e novidades. Então estarei me aposentando e uma nova pessoa assumirá a presidência da editora a partir de hoje. - Os funcionários começaram a cochichar uns com os outros. - Tenho o prazer de apresentar a vocês o novo diretor da Editora Johnson, o meu filho Nathan Alexander Jonhson!

Um homem de terno azul levantou da última cadeira e caminhou até a frente ficando ao lado de Michael no pequeno palco onde ele estava.
Quando os olhos de Annie o viram seu coração quase saiu pela boca, como podia ter tanto azar assim?

- Puta merda! - Exclamou baixinho, mas no volume suficiente para Elias ouvir.

- Puta merda mesmo! Que homem gostoso é esse? Não sabia que o filho do sr. Michael fosse tão gato, gente!

- É ele, Elias! O homem com quem dividi o táxi, o engomadinho.

Elias abriu a boca em choque e a atenção dos dois voltou para os homens que falavam ao microfone.

- Como alguns sabem meu filho passou o último ano em Londres, estudando bastante, teve ótimas experiências e está mais do que preparado para assumir a editora. Tenho certeza de que ele honrará nossos valores e tudo o que defendemos aqui. Passo a bola pra ele com muito orgulho, pois sei que estará em ótimas mãos!

Todos bateram palmas quando eles se abraçam e Nathan pegou o microfone.

SECRETÁRIA DO ANOOnde histórias criam vida. Descubra agora