12 - DIA SEGUINTE

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Durante os 3 anos da sua "nova vida" Annie construiu um muro a sua volta. Vivia sempre recolhendo cacos pelo caminho, encontrando uma nova forma de reviver o passado e inaugurar uma nova ferida que às vezes ela mesma causava. A cicatriz que existia em sua alma nunca fechava porque ela levava o fim de muitas coisas para um futuro onde não precisavam estar.

Passou o resto do fim de semana pensando no breve momento que teve com Nathan, no beijo leve e gostoso, no contato dos lábios macios, no quanto seu corpo gritou e agonizou por ele e como ela o afastou pelo medo e insegurança de se machucar, de ser usada, anulada.
Ela sempre encontrava um jeito de se fechar e impedir que alguém bom entrasse em sua bolha.
No domingo ela hibernou no sofá lendo vários livros para ocupar sua mente, torcendo para o dia se arrastar para não ir trabalhar no dia seguinte. Como ela queria poder ligar para Clara naquele momento, sua amiga com certeza teria o melhor conselho para dar e acalmaria o coração dela.

Na segunda pela manhã ela estava pontualmente em seu posto, não sabia como seria o clima com seu chefe depois do que aconteceu em sua casa, mas seria profissional e demonstraria que aquilo não significou nada para ela.
Quando o viu sair do elevador ficou nervosa, segurou na sua cadeira com força atrás da mesa para se controlar.

- Bom dia, Nathan. - Ela o cumprimentou quando ele estava passando em frente a mesa dela.

- Bom dia. - Respondeu evitando trocar olhares com ela e foi direto para a sua sala.

Ela sentiu um pouco de frieza no tom de voz dele, mas não podia culpa-lo. Mal sabia que ele passou a noite inteira pensando nela também, sonhando em ter o contato da boca dela outra vez, sem saber como prosseguir e que aquele tom de voz frio e melancólico não tinha nada a ver com ela.

Como todas as segundas feiras, com meia hora depois que ele chegou ela foi preparar o café para levar até a sala dele. Bateu apenas duas vezes como de costume e então entrou.
Ele estava concentrado em seu computador mas fraquejou e a olhou por mais de 5 segundos, fazendo com que sentisse um frio na barriga por vê-la tão linda daquele jeito.

- Com licença, primeiro café sem açúcar do dia chegando e com sua agenda semanal. - Ela falou assim que colocou a bandeja sobre a mesa dele.

- Obrigada, mal tive tempo de tomar em casa hoje. - Ele pegou xícara e tomou um gole, voltando sua atenção para o computador. - Pode passar a agenda, por favor.

- Ok! Hoje terá reunião com equipe gráfica às 11h, depois...

- Cancele. - ele a interrompeu. - Nesse horário quero o Wilson da contabilidade aqui na minha sala.

- Tudo bem. - Ela começou a escrever na agenda a alteração solicitada.

- Pode continuar. - Ele pediu sério.

- Amanhã terá um almoço com o Sr e Sra Davis para confirmar os últimos detalhes do lançamento e para entregar a cópia oficial do livro deles. A tarde terá outra reunião...

- Cancele tudo o que tiver agendado após esse almoço. Na verdade da semana inteira, a única coisa que não dá para adiar é o lançamento desse livro, mas de resto cancele tudo e depois veremos uma nova data.

- Tudo bem, farei isso. - Annie respondeu com um alerta acendendo na sua cabeça, alguma coisa devia ter acontecido.

- Ligue para o senhor Miller, ele é o advogado da empresa, diga que venha a minha sala a partir das 14h.

- Como quiser. - Ela falou e ele não disse mais nada de volta. - Nathan?

Chamou o nome dele e o fez desviar os olhos do computador para ela novamente.

- Oi, tem mais alguma coisa?

- Não. Só queria saber se está tudo bem, aconteceu alguma coisa com a empresa?

- Nada que não conseguiremos resolver. - Respondeu sério e passou a mão nos olhos. - Agora pode ir, Annie. Qualquer coisa te chamo.

Ela se virou e saiu, voltou para sua mesa para finalizar a organização da festa de lançamento do livro "Amor, Eterno amor" que seria no final de semana seguinte, mas algo a incomodava. Nathan não parecia bem e com certeza alguma coisa seria devia estar acontecendo com a empresa. No horário de almoço encontrou Elias, não o via desde o dia da festa caótica, só se falaram por mensagem depois que ela chegou em casa porque ela lembrou de avisa-lo que estava bem.

- Me conta tudo! - Ele falou assim que sentou ao lado dela na mesa.

- Contar o quê? Não tem nada para contar.

- Ah não vem com essa, o jeito que o chefinho foi buscar sua bolsa, estava ofegante e ansioso, com certeza já tinha começado a rolar ali mesmo não é?

- Não rolou nada do que vocês está pensando! - Ela respondeu revirando os olhos pra ele. - Quer dizer, não exatamente...

- Eu sabia! - Ele falou entusiasmado a fazendo rir e chamando a atenção das pessoas ao redor.

- Nossa como você é discreto, não é? Fala baixo ou eu não conto nada! - Elias colocou uma mão na boca fingindo fechá-la. - Não aconteceu nada na festa, ele só me defendeu e socou o rosto de um cara idiotia.

-  Você chama isso de nada? Como aconteceu?

Annie contou toda a história do casal que brigou e ele ficou chocado em cada pedacinho daquela conversa, depois ela contou o que aconteceu na casa dela e isso o fez repreendê-la por ter interrompido.

- Você é a única pessoa no mundo que faria uma coisa dessas! Eu largaria até o Ian se o chefinho me quisesse. - Elias falou completamente indignado pela reação da amiga.

- Eu não podia, Elias. Não posso.

- Você tem namorado e eu não sei?

- Não.

- Você é lésbica?

- Não. - Ela riu da pergunta dele.

- Você tem alguma doença sexualmente transmissível ou vai morrer semana que vem?

- Não! Ta doido?

- Então não vejo porque você não pode. - Ele falou a encarando sério. - Eu nunca ultrapassei a linha que você estabeleceu de te perguntar sobre sua vida desde que nos tornamos amigos, sempre respeitei o pedido "não me faça perguntas pessoais demais porque não me farão bem". Você evitou o fotógrafo que estava interessado em você no seu segundo mês aqui, ignorou o entregador de livros gatinho que vinha na editora todo dia só pra te ver, não deu a mínima para o meu amigo no dia do meu aniversário, coitado. Porque você evita coisas assim? Beijar na boca é tão bom, ter alguém é bom, sexo é bom...

- É complicado, Elias. Eu não tive uma boa experiência no passado e não estou pronta pra viver aquilo de novo. - Ela respondeu sentindo um nó na garganta.

- Você sempre diz isso e nunca me contou o que realmente aconteceu, a única coisa que já saiu da sua boca foi que já foi casada. - Ele segurou nas mãos dela. - Mas você disse bem, no "passado". Se não quiser o chefe gatinho, tudo bem, mas tenta dar uma chance pra alguém. Nem que seja só pra dar uns pegas e tirar as teias de aranha.

Ela começou a rir e soltou as mãos que ele segurava.

- Nossa, eu estava quase me emocionando, você é péssimo! - Annie falou ainda rindo.

- É mais forte que eu! Mas é sério, você precisa se permitir um pouco mais.

- Eu sei. Vou amadurecer esse conselho na minha mente!

Os dois continuaram seu almoço e ela questionou se ele sabia se alguma coisa de errado estava acontecendo na empresa, mas dessa vez o sabe tudo não sabia de nada, para a infelicidade dela.

SECRETÁRIA DO ANOOnde histórias criam vida. Descubra agora