38- SEM SAÍDA

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Eu sei, mesmo estando no volante nem tudo está no nosso controle. Mas, talvez, se olhássemos as placas e parássemos no semáforo o fim poderia ser adiado. Era o que Annie pensava todos os dias, se tivesse feito alguma coisa diferente não estaria naquela situação. Elias não teria morrido, como ela pensava, não estaria presa no meio do nada com o homem que um dia lhe mostrou o paraíso e depois a levou ao inferno.

- Bom dia, meu amor! - Theo entrou no quarto que ela estava com a bandeja de café da manhã. - Estava ansioso pra você acordar. Trouxe tâmaras que eu sei que você ama!

Ele colocou a bandeja sobre a mesinha de centro e depois sentou ao lado dela na cama.

- Você demorou a acordar hoje, está ficando mais à vontade na nossa casa nova? - Ele perguntou acariciando os cabelos dela.

- Essa não é a minha casa. - Annie respondeu sem olhar pra ele.

- Eu sei que você preferia voltar para o Brasil, mas não podemos agora, meu amor.

- Por favor, Theo, me deixa ir embora. Eu sei que você não é mal assim, só está numa fase ruim, eu sei que você é bom! - Ela implorou virando pra ele.

- Ei, ei! Calma. Que tal tomarmos café e depois te levo pra conhecer o resto da casa? Você não tem se comportado bem e só fica nesse quarto, mas vai amar como eu pedi pra decorarem os outros cômodos pra você.

- Por favor, Theo! - Ela disse com as primeiras lágrimas caindo. - Eu preciso ir embora, essa não é a nossa casa.

- Você vai se acostumar, eu te amo! Eu te amo e o meu amor é suficiente pra nós dois. - Ele se levantou se afastando um pouco dela.

- Nem tudo basta no amor, Theo. Do que adianta amar, sem saber como se ama? - Annie perguntou o desafiando outra vez e ficou de pé também, próximo a ele.

- Eu sei amar você! Eu sempre faço tudo pensando em você! Você é ingrata, Helena! Até comecei a te chamar pelo nome fantasioso que você criou, mas já chega disso!

- Se você me amasse me deixaria ir embora! Me deixaria em paz!

Ele empurrou a bandeja com o café da manhã derrubando tudo no chão, seu lado tão conhecido estava aparecendo, Annie sabia que não demoraria muito.

- Tá vendo o que me fez fazer? Você sempre faz isso comigo! - Theo disse irritado e quando olhou pra trás a viu com cara de espanto se tremendo. - Mais tarde peço pra trazerem outra coisa pra você comer. É melhor aceitar que essa é a nossa vida agora, vamos ficar juntos aqui ou no inferno!

Ele saiu batendo a porta do quarto e Annie se encolheu ao lado da cama, precisava sair dali, precisava ir embora. Depois de um tempo que Theo saiu do quarto ela começou a sentir um mal estar, devia ser a fome já que acabou não comendo nada depois que ele derrubou tudo o que tinha levado pra ela. Sentiu as forças deixarem seu corpo aos poucos e acabou desmaiando. Quando a cozinheira entrou 20 minutos depois a encontrou descordada no chão e gritou alto, fazendo Theo correr no mesmo instante. Ele se desesperou ao vê-la daquela forma e chamou um médico, não correria o risco de tirá-la dali.
O médico local fez o primeiro atendimento e depois que Theo colocou bastante dinheiro nas mãos dele, ofereceu sua clínica particular para atende-la de forma segura e sem levantar suspeitas. Annie acordou na maca da pequena clínica, estranhando aquele ambiente, imaginou que tinha sido encontrada e quando levantou pra ir em direção a porta a mesma foi aberta e Theo entrou sorridente.

- Oi, meu amor! - Ele a abraçou. - Me deixou tão preocupado! Vou chamar o médico e já volto, tá bom? Deita aqui.

Ele a direcionou de voltou a maca e chamou o médico que veio rápido.

- Como está se sentindo? - O doutor perguntou a ela colocando o aparelho de pressão no braço de Annie.

- Estou bem, só tive uma tontura.

- Nessa fase é normal, ainda vão vir os enjoos mas é só até o primeiro trimestre passar. - O médico disse a deixando assustada. Aquilo não podia ser verdade, não naquela situação. - Parabéns, vocês serão papais!

Annie sentiu o coração acelerar parecendo uma escola de samba. Olhou para Theo que sorria aparentando estar muito feliz com a notícia.

- Ouviu, meu amor? Vamos ser pais! Isso é maravilhoso não é? - Ele perguntou pegando nas mãos dela. - Vou lá fora rapidinho ligar pra prepararem um macarrão à bolonhesa pra você do jeito que gosta, precisa se alimentar por dois agora!

Ele saiu a deixando sozinha com o médico e ela entrou em pânico.

- Onde nós estamos? - Annie perguntou.

- Na minha clínica, mas jaja você vai pra casa.

- Não, em que cidade?

- Você não sabe? - Ele perguntou achando ainda mais estranho ele ter lhe pago tanto dinheiro. - Olha, seu marido já vai voltar.

- Por favor, o senhor precisa me ajudar! Eu fui sequestrada, esse homem não é meu marido e não é pai do meu bebê, por favor me ajuda!

- Eu sinto muito moça, acho que você bateu a cabeça muito forte quando caiu. Mas vai melhorar, tá bem?

- Não, você não está entendendo! - Ele tocou no ombro do médico. - Liga pra polícia, eu imploro! Me ajuda a sair daqui, eu não posso continuar naquela casa!

Em um movimento rápido Annie pegou a caneta que estava no bolso do jaleco do médico e anotou o número de Nathan na mão dele, ele ficou em silêncio lutando internamente mas antes que ela pudesse insistir Theo entrou no quarto e a levou. Agora mais do que nunca Annie precisava fugir, ainda não sabia como, mas ela daria um jeito.

SECRETÁRIA DO ANOOnde histórias criam vida. Descubra agora