28 - QUEDA LIVRE

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O café que ela iria levar acabou esfriando por tanta demora, resolveu passar outro quando ouviu os passos de alguém entrando na copa.

- Já estava indo levar o café, a máquina deu um problema e por isso demorou tant...- Annie mentiu para disfarçar achando que era seu namorado, mas para a sua infelicidade não era.

- Por um momento eu cheguei a acreditar que você realmente podia estar morta. - Theo falou com os braços cruzados enquanto observava o medo nos olhos de Annie. - Porque armou tudo aquilo? E de quem foi a ideia idiota de jogar seus documentos no rio para pensarmos que tinha caído da ponte e morrido? Meu Deus, Helena! Eu quase fiquei louco.

Ela estava completamente travada, não conseguiu mover um dedo, nem piscar ela conseguia.

- Eu nunca desisti de você. - Ele continuou e relaxou os braços ao lado do corpo. - Agora que encontrei você vamos finalmente voltar para casa, para o lugar de onde você nunca devia ter saído. - Ele falou por fim como se estivesse aliviado.

- Eu não vou a lugar nenhum com você. - Annie respondeu com o corpo tremendo de pavor. - Como você me achou?

- Como assim? Seu lugar é ao meu lado e você sabe disso. - Ele deu alguns passos se aproximando dela e Annie deu alguns para trás, encostando na pia. - Nós somos uma família, Helena. Já chega dessa brincadeira, você me tirou 3 anos, não posso mais ficar longe de você, meu amor!

- Não somos família há muito tempo e meu lugar é aqui. Já falei que não vou a lugar nenhum com você.

- Eu mudei, meu amor. Me perdoa pelo que te fiz, mas eu mudei. Fiz terapia, tratamento, quando você sumiu eu quase enlouquecei. Eu mudei por você!

- Que bom, mas não estou mais afim de testar viver com o Theo bondoso. Acabou, ok?

- O que você quer que eu faça pra entender que estou disposto a tudo para ter você de volta? - Ele deu mais um passo largo ficando muito próximo dela.

- Não chega perto de mim! - Ela pediu e estendeu a mão fazendo o sinal para ele parar.

- Tudo bem! Não precisa ter medo de mim. - Ele parou percebendo o pavor no olhar dela. - Mas eu não vou desistir de você, eu sei que aí dentro você ainda me ama também.

As lágrimas nos olhos dela já estavam se formando, como pôde ama-ló algum dia?

- Por favor...- Ela pediu na tentativa de fazer com que ele parasse.

- Tudo bem, vou me retirar. Seu chefe está esperando o café, ou devo dizer o seu namorado? - Ele deu ênfase a palavra "namorado" com um tom de sarcasmo.

Ele se virou sem deixar que ela respondesse e saiu na direção oposta a sala do Nathan, ela o viu entrar no banheiro e correu para a sala do seu namorado. Abriu a porta de uma vez e Nathan estava olhando para o computador, completamente por fora de toda a situação.

- Oi, você demorou. - Ele viu que ela não tinha nada nas mãos. - O que aconteceu? Acabou o café? - Perguntou levantando da mesa e colocou as mãos no bolso.

- Nós precisamos conversar. - Ela falou sem esboçar nenhum sorriso.

- Tudo bem, que tal eu te levar pra jantar hoje? - perguntou um pouco preocupado ao ver a expressão séria dela.

- Nós precisamos conversar agora!

Nathan abriu a boca para responder, mas a porta foi aberta por Theo, sem nenhuma educação.

- Olá, perdão ter entrado assim. - Ele disse parando ao lado de Annie e ela sentiu um calafrio. - Vou precisar ir agora porque tenho algumas coisas de urgência para resolver, mas você me manda o contrato por e-mail para eu ler e a gente marca outra reunião para a assinatura, pode ser? - Ele perguntou para Nathan que estava em êxtase de felicidade.

- Claro! Você não vai se arrepender em ter nos escolhido. Obrigada pela confiança. - Ele respondeu com um sorriso no rosto e estendeu a mão pra Theo, que apertou no mesmo instante.

- Espero não me arrepender mesmo. Até mais, com licença! - Ele lançou um último olhar para Annie e quando Nathan se virou para ir até a sua mesa Theo aproveitou para falar no ouvido dela. - Você é minha.

Ele falou baixinho pra que só ela ouvisse e Annie sentiu seu estômago embrulhar enquanto ele saia daquela sala. Por fora ela parecia uma estátua, parada, sem reação, mas por dentro estava uma confusão de sentimentos e pensamentos.

- Nós conseguimos, meu amor! - Nathan disse arrumando alguns papéis sobre sua mesa. - Ele vai fechar conosco e vamos dar a voltar por cima! Vou fazer o meu pai engolir cada palavra que me disse.

- Parabéns. - Annie respondeu sem animação nenhuma.

- Isso é maravilhoso, não é? - Nathan se aproximou dela e a abraçou. - Eu ia ligar para marcar o jantar mas ele disse que estava perto e acabamos indo almoçar logo. Não quis interromper seu almoço por isso não te chamei, mas vou te mandar por e-mail tudo o que conversamos. Estou tão feliz, meu amor!

- Eu também. - Mentiu com um aperto no coração, como poderia contar pra ele a verdade agora?

- E então, o que queria conversar comigo?

- Não é nada de mais. Vou buscar seu café, acho que acabou esfriando já!

- Obrigada. - Ele a beijou de forma suave. - Vamos comemorar hoje a noite.

Ela nem respondeu de volta, saiu e foi ao banheiro pra ficar alguns minutos sozinha. Se trancou em uma das cabines por 10 minutos e depois foi pegar café para o seu namorado.
Passou o resto da tarde em agonia, pensando em uma forma de contar pra ele e como não atrapalhar a empresa.

Tentou ir embora quando deu o seu horário, mas Nathan estava tão animado pra sair e comemorar que ela não conseguiu dizer não.
Foram ao bar do Joe e a noite pareceu durar uma eternidade, Annie disse que estava com dor de cabeça quando ele a questionou porque estava tão distante, por isso não demoraram muito para ir embora.

- O que acha de dormir comigo na casa nova? O corretor entregou a chave hoje. - Nathan sugeriu quando estava no carro a caminho da casa dela.

- Na verdade estou afim de ficar em casa, eu estou bem cansada. - Ela respondeu sem tirar os olhos da estrada.

- Tudo bem, posso ficar com você.

- Eu estou afim de ficar em casa, mas sozinha, Nathan. - Ela falou séria. - Eu só quero dormir.

Ele diminuiu a velocidade do carro e estacionou debaixo de uma árvore.

- Annie, os boatos são verdadeiros? - Ele perguntou olhando para ela com preocupação.

- Que boatos?

- Você está...? - ele olhou em direção a barriga dela.

- Oh meu Deus, não! Não estou grávida. Não acredite no que estão falando na empresa, foi a Maddie que espalhou por ter me visto passando mal.

- Então o que está acontecendo? Vou marcar uma consulta com o meu médico pra você. Não é normal sentir tanto mal estar e não ser nada.

- Não precisa.

- Você insistiu em me levar para o hospital quando bati o carro, agora eu insisto em te levar.

Ela sabia que era melhor não ir contra, assim talvez ele pararia de perguntar o que estava acontecendo enquanto ela não conseguia contar a verdade, por isso concordou.
Ele a deixou em casa e quando Annie chegou na porta do apartamento tinha uma caixa com um cartão direcionado para ela.

"Um presente pra te lembrar do nosso amor. Com carinho, seu marido."

Ela olhou para os lados rápido com medo de estar sendo observada, pegou a pequena caixa onde tinha chocolates e uma xícara com uma foto do casamento dos dois estampada e entrou no seu apartamento. Afastou o sofá até a porta como uma forma de deixá-la mais segura, mas no fundo ela sabia que não importava o que fizesse, não estaria segura com ele por perto.

SECRETÁRIA DO ANOOnde histórias criam vida. Descubra agora