42- ZOE

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Ninguém irá avisar que você está vivendo momentos que precisa guardar bem no fundo da memória, os quais nunca mais irão se repetir. Você precisa perceber só. E este é o grande problema, porque nunca chegamos a perceber.
O cheiro do perfume, a forma como o toque fazia a pele arrepiar, o fim de tarde no sofá, o sorriso que transmitia paz. E de repente tudo isso passou como um filme na sua de Annie, como um borrão de felicidade que pareceu escapar dos seus dedos, enquanto seus olhos derramavam lágrimas olhando o sangue pelo chão.

- NATHAN! - Annie gritou e correu em direção aos dois homens que acabaram de ter uma briga.

Ela empurrou com força o peso do corpo do Theo que estava sobre seu namorado e caiu em lágrimas ao perceber que o tiro não acertou o amor da sua vida.

- Ah, meu Deus! - Ela tocou em seu rosto como se conferisse se ele realmente estava ali, vivo.

- Eu estou aqui, meu amor. Acabou. - Nathan respondeu a puxando pra um abraço.- Acabou!

- MÃOS PRA CIMA! - O policial que acabara de estacionar gritou apontando uma arma e os dois não conseguiam se separar daquele abraço. - Coloquem as mãos em um lugar que eu possa ver!

O policial insistiu e Nathan e Annie obedeceram, levantaram as mãos e um dos polícias foi até eles os revistando.
Depois de explicarem toda a história foram levados até o hospital mais próximo, Theo foi encaminhado até a sala de cirurgia, seu estado era crítico.

Annie descobriu que Elias não tinha morrido e seu choro de dor se transformou em um choro de alegria.
Eles não contaram a polícia quem ela era no passado, não contaram que ela mudou de novo e documentos porque seria considerado crime, a história foi basicamente que Theo a achou parecida com a ex esposa que morreu e ficou fora de si, por isso a perseguiu e a raptou.

- Esse aqui é o bebê ervilha de vocês, você está com 6 semanas! - A médica falou apontando para a bolinha na ultrassonografia.

Annie não conseguia segurar o choro, muito menos Nathan que sempre sonhou em ser pai, ainda mais com a mulher que ele amava.

- Oi, ervilhinha! - Annie falou tocando a barriga.

- Oi, meu amor! - Nathan disse se aproximando da barriga da sua namorada. - O papai te ama muito e está ansioso pra conhecer você. Sabia que você tem a melhor mamãe do mundo? Ela lutou muito por você.

Os dois não demoraram muito, após darem todos os depoimentos necessários compraram duas passagens de volta. Theo não resistiu e acabou indo a óbito na mesa de cirurgia, a bala se alojou em lugar muito perigoso e de difícil acesso. Annie chorou ao descobrir, não por amá-lo, mas por lembrar do homem que ele já foi e principalmente pelo alívio de finalmente estar livre.
Clara foi quem mais sentiu, não foi fácil aceitar a perda do irmão, mas sabia que ele só havia colhido o que plantou. Finalmente conseguiu se encontrar com a melhor amiga e as duas mal podiam acreditar.

- Você está tão linda! - Clara falou depois de abraçar a amiga no aeroporto. - Meu Deus, como senti sua falta!

- Eu também! - Annie respondeu. - Obrigada por não desistir de mim, por lutar por mim. Eu sinto muito pelo Theo.

- Eu também sinto. Mas não vamos falar mais dele, tá bem? Agora acabou. A culpa do que aconteceu foi única e exclusivamente dele. Você está livre, amiga. Vocês estão!

- Eu te amo muito. - Annie pegou a mão da amiga e colocou em sua barriga. - O Gabriel teve a melhor dinda que poderia, e com certeza esse neném aqui também vai ter. Aceita ser madrinha?

- Ah, meu Deus! Está falando sério?

- Com toda certeza!

- É claro que eu aceito! - Clara disse sem tirar o sorriso do rosto.

Logo o marido dela apareceu com a vitória, sua filha e afilhada de Annie. Aproveitaram cada momento juntas pra matar a saudade.
Em menos de 1 mês Elias apresentou sinais de melhoras e saiu da UTI, sem perder tempo Ian lhe pediu em casamento e ele quase levantou da sua maca pulando de alegria.

Michael, com a ajuda de Abby e Nathan finalmente descobriu tudo o que a Karen fez e planejava fazer. Ela foi presa e o dinheiro que conseguiram reaver foi a salvação da editora.

Nathan e Annie finalmente passaram a morar juntos, a barriguinha dela logo apareceu e descobriu que estavam esperando uma menina, que chamaram de Zoe.

Annie perdeu as contas de quantas noites disse pra si mesma que era o fim, e na manhã seguinte estava de pé, sobrevivendo.
Alguma coisas não são o fim do mundo e ela provou isso, viveu mais finais do que qualquer um poderia viver, e no final das contas, ainda estava ali. Diferente do começo, agora estava cheia de esperança sobre o futuro.
Mesmo que os ossos da sua alma ainda estivessem em processo de cura, agora entendia o motivo de ainda estar ali. Não era mais só por ela, mas pelo bebê que carregava em seu ventre e pelo homem que a amava mais que tudo, pelas pessoas que surgiram em sua vida e cuidavam dela.
Não sei ao certo a quantidade de finais que alguém pode suportar, quantas vezes vai precisar recomeçar, ou quantas vezes terá que se deixar permitir de novo, mesmo que isso machuque. Só sei que ela estar ali significava muito, mostrava que não existia nada que ela não conseguia suportar.
Algumas coisas não são o fim do mundo, e ela estava ali, provando exatamente o que eu estou dizendo.

SECRETÁRIA DO ANOOnde histórias criam vida. Descubra agora