Resolvi parar de escutar atrás da porta e ir em direção à sala. Eu sabia que minha mãe não era exatamente o tipo de mãe que fazia festas de aniversário, que ia a reuniões da escola ou que preparava lancheiras para o almoço na escola, mas ela estava lá quando eu precisava dela, trabalhava duro para dar um bom futuro para mim e me amava do jeito dela, eu imagino. Mesmo ela não gostando de cozinhar, faria o bolo para mim pois sabia que isso me deixaria feliz.
Sentei no sofá e coloquei na minha serie de tv favorita. Meus pais ainda estavam no escritório, imagino que discutindo detalhes da festa, confirmando a presença de seus colegas de trabalho que viriam com seus filhos e outras coisas. Confesso que meu pai estava bem mais animado que minha mãe, mas ele sempre foi mais espontâneo que ela. De repente, meus pais saem do escritório e minha mãe vem em minha direção.
- Anda, Elle, vamos fazer logo esse bolo para sua festa. - Ela me chamou e andou em direção à cozinha. Eu e meu pai apenas concordamos e seguimos. Eu estava tentando conter minha alegria, mas era inegável minha animação, já que fui saltitante atrás dela.
- Bom, já que minhas duas princesas estão ocupadas, vou dar uma passadinha no hospital para ver meus pós-operatórios. Não vou demorar, prometo. - Meu pai disse, dando um beijo em minha mãe e logo após me colocando em cima do balcão da cozinha e plantando um beijo em minha testa. - Divirtam-se, meninas. - Ele saiu em direção à porta da frente. Minha mãe apenas sorriu e começou a procurar os utensílios necessários para o bolo.
- Eu realmente estou muito feliz, mamãe. Não fazemos muitas coisas juntas, sabe. - Eu disse cabisbaixa, mais como um lamento do que qualquer outra coisa.
- Você sabe que eu trabalho muito, Elle. - Ela se mantinha focada seguindo a receita que achou na internet e se movendo rapidamente para fazer tudo.
- Eu sei, mamãe, mas eu sinto sua falta. - Eu disse balançando os pés no ar, comendo mais um morango.
- Pare de comer os morangos ou não vão sobrar para o seu bolo. - Ela tirou o morango da minha mão e colocou de volta na vasilha de vidro. - Quer me ajudar? Lave os morangos e tire os talos verdes.
Rapidamente, concordei sorridente e pulei da bancada pegando a vasilha e indo até a pia lavar os morangos. Eu realmente apreciava esses raros momentos com a minha mãe. Ela fazia tudo com delicadeza e maestria. Será que havia algo que ela não soubesse fazer? Eu fielmente acreditava que não. Para mim, ela era perfeita. Terminei de lavar os morangos e me virei com eles ainda molhados, pingando água no chão para entregá-los à minha mãe. Eu realmente deveria ter escorrido a água, pois a vasilha escorregou e caiu no chão, espalhando cacos de vidro e morangos pela cozinha. Minha mãe subitamente deu um pulo, olhando para o chão e depois para mim com uma cara definitivamente nada amigável.
- Eileen, pelo amor de Deus! Você não é capaz de se mover sem causar uma bagunça? Olha o que você fez, tem caco de vidro e morango por todos os lados. - Ela disse em um tom quase gritando, me puxando com força para fora da zona de perigo.
- Desculpa, mamãe, estava escorregando e eu não vi, eu não tive culpa e caiu tudo no chão. Eu vou limpar, eu juro. - Eu disse, me virando em direção à despensa à procura de uma vassoura, quando minha mãe me parou abruptamente.
- Você não vai fazer nada. Você só faz bagunça. É capaz de tentar limpar e quebrar mais alguma coisa. Vai procurar alguma outra coisa pra fazer longe daqui. Eu termino isso tudo. - Ela se virou ainda zangada e pegou uma vassoura e pá para limpar o meu estrago.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Corri para o jardim, minhas lágrimas escorrendo pelo rosto, e me joguei no balanço de corda que meu pai tinha feito. O jardim sempre foi meu lugar seguro, um espaço onde eu podia ser eu mesma sem medo de errar. Enquanto balançava, eu tentava acalmar meus pensamentos, mas a tristeza persistia. Por que minha mãe não conseguia me amar do jeito que eu precisava?
Fiquei lá fora por um tempo, observando as nuvens e tentando esquecer o que tinha acontecido na cozinha. O tempo passou rapidamente, e logo ouvi a voz do meu pai chamando meu nome. Ele estava de volta do hospital e parecia preocupado.
- Elle? Onde você está, querida? - Ele chamou, caminhando pelo jardim.
- Aqui, papai. - Respondi, minha voz ainda embargada pelo choro.
Ele me encontrou no balanço e, ao ver minhas lágrimas, se ajoelhou ao meu lado, me puxando para um abraço apertado.
- O que aconteceu, meu amor? Por que está chorando? - Ele perguntou, sua voz cheia de preocupação.
- Eu estraguei tudo, papai. Deixei os morangos caírem e a vasilha quebrou. Mamãe ficou muito brava comigo. - Expliquei entre soluços.
Ele suspirou, acariciando meu cabelo.
- Não se preocupe com isso, Eileen. Todo mundo comete erros. Tenho certeza de que sua mãe não quis magoar você. Ela só estava estressada, está bem? - Ele disse, tentando me consolar.
Eu assenti, ainda me sentindo triste, mas o abraço do meu pai sempre tinha um jeito de fazer tudo parecer um pouco melhor.
- Vamos voltar para dentro e ver como podemos ajudar sua mãe, ok? - Ele sugeriu, se levantando e me ajudando a levantar também.
Voltamos para a cozinha juntos. Minha mãe estava terminando de limpar a bagunça e parecia mais calma. Quando nos viu, suspirou novamente, dessa vez parecendo mais exausta do que zangada.
- Eileen, me desculpe por ter gritado com você. Eu estava muito estressada. - Ela disse, com um tom de voz mais suave.
- Tudo bem, mamãe. Eu só queria ajudar. - Respondi timidamente.
- Eu sei, querida. E eu aprecio sua ajuda. Vamos terminar esse bolo juntas, certo? - Ela disse, tentando sorrir.
Passamos o resto da manhã trabalhando juntas na cozinha. O bolo começou a tomar forma, e com a orientação do meu pai e um esforço conjunto, conseguimos terminar a tempo para a festa. Apesar do início difícil, ver o bolo pronto me encheu de uma sensação de realização.
Começamos então a arrumar a mesa com os doces e as decorações no jardim.
- Moranguinho, por que não vai se vestir para a festa? Suas amiguinhas já devem estar chegando.Eu amava quando meu pai me chamava de moranguinho, mesmo já tendo 14 anos, acho que vou amar essa apelido mesmo depois de adulta.
- Claro, papai.Mamãe, você me ajuda ?Tenho muitas opções - peguei sua mão querendo puxá-la até meu quarto para me ajudar a achar uma roupa perfeita.
- Eu já vou, está bem, querida? - Ela soltou minha mão. - Vou só terminar de ajudar o papai. - Ela sorriu gentilmente.
Entrei correndo em casa e fui direto ao meu quarto. Tirei todas as possíveis opções de roupas do closet e coloquei em cima da cama, todas em tons de verde. Minha mãe sempre disse que o verde realçava meus cabelos ruivos, então adotei como minha cor favorita. Fiquei saltitando pelo quarto à espera da minha mãe. Fui até a janela do meu quarto, que dava para o jardim, e pude ver meus pais conversando. Não parecia que estavam brigando, mas também não parecia que estavam completamente felizes.
- Elisa, vai me dizer o que aconteceu? - Eric colocava a bandeja com os cupcakes temáticos em cima da mesa.
- Sobre o quê? - Elisa franziu as sobrancelhas, deixando no rosto uma expressão confusa
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras e Segredos
RomanceNo mundo de Eileen Everhart, as sombras do passado são tão profundas quanto os segredos que ela desvenda. Órfã aos 16 anos, Eileen descobre um segredo devastador sobre sua mãe, lançando luz sobre uma relação marcada por mistério e complexidade. Cria...