pagina XI

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— Não foi só isso, Leen — Nick afirmou. — Me conta o que aconteceu. — Ele se aproximou e me abraçou de lado, enquanto Sophie nos observava atentamente.

Suspirei, percebendo que eles não aceitariam qualquer resposta. Sabia que me perguntariam o dia todo sobre o que aconteceu. Sophie não me deixaria respirar na sala de aula se eu não lhe contasse, e Nick encheria meu celular com mensagens, já que não estamos no mesmo ano. Pensei por um momento como dizer isso a eles, engoli em seco e finalmente criei coragem.

— Eu não sei o que fazer — confessei, com a voz embargada. — Minha mãe disse que nunca me quis, e meu pai não negou.

Sophie me abraçou novamente, enquanto Nicholas parecia perdido em pensamentos.

— Vamos superar isso juntos, Leen. Não importa o que aconteça, estamos aqui para você — disse Sophie, determinada.

— Sim, sempre estaremos aqui — concordou Nicholas, segurando minha mão.

Nicholas olhou para mim com uma expressão séria, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Sophie continuava me abraçando, transmitindo seu apoio silencioso.

— Eileen, talvez seja hora de conversar com seus pais. Tentar entender melhor o que aconteceu, por que sua mãe disse isso — sugeriu Nicholas, com um tom cuidadoso.

Aquelas palavras me assustaram um pouco. Eu não sabia se estava pronta para confrontar meus pais novamente, especialmente depois de tudo o que ouvi. Mas Nicholas tinha razão; eu precisava de respostas.

— Eu... eu não sei se consigo enfrentar isso agora — admiti, sentindo um nó na garganta.

Sophie segurou minhas mãos com firmeza.

— Você não precisa fazer isso sozinha, Leen. Estamos aqui para te apoiar, seja o que for que você decida fazer — disse ela com gentileza.

Nicholas assentiu, adicionando:

— Estamos juntos nisso. Quando você estiver pronta, estaremos ao seu lado.

Eu senti uma mistura de gratidão e medo. Saber que tinha amigos como eles ao meu lado era reconfortante, mas o desafio de lidar com meus pais ainda era assustador. No entanto, sabia que não podia evitar para sempre.

— Obrigada, Sophie. Obrigada, Nick. Vou pensar no que fazer — respondi, tentando não deixar transparecer toda a insegurança que sentia.

Eles me abraçaram novamente, e por um momento, senti um pouco de paz em meio ao turbilhão de emoções que me consumia. Por uns minutos pensei em dar meia volta e sair correndo da escola, correr para a clareira e ficar deitada lá observando as nuvens e tentando, só por um minuto, não pensar em tanta coisa. Talvez eu estivesse só exagerando, certo? Pessoas dizem coisas sem pensar o tempo todo, ainda mais em um momento de discussão. Pessoas são complicadas, emoções são complexas. É difícil carregar tanta coisa por tanto tempo, e minha mãe tentou; ela estava acumulando isso por muito tempo. Eu não devo ser tão dura com ela. Nicholas tem razão, o melhor a fazer é esperar as aulas terminarem e ir para casa falar com a minha mãe. Eu a amo, e ela certamente me ama. Ela tem que me amar, afinal, eu sou filha dela.

Fiquei tão absorta em meus pensamentos que só me livrei deles quando o sinal tocou, indicando o início das aulas. Nick se despediu de mim e de Soph com beijinhos nas bochechas e correu para seu grupinho de amigos do time da escola. Soph entrelaçou o braço no meu, e fomos em direção à nossa sala.

Ainda havia poucas pessoas na sala de aula. Era aula de literatura inglesa, minha matéria favorita. A professora Harriet Sinclair já estava na sala, arrumando seu material. Ela nos cumprimentou com um aceno de cabeça. Eu e Soph seguimos em direção aos nossos lugares habituais, no fundo da sala ao lado da janela que dá para o campus da escola. O dia estava lindo lá fora. Conforme os alunos foram chegando e se acomodando, a professora foi anotando na lousa o assunto do dia. Íamos falar sobre Shakespeare, meu escritor e dramaturgo favorito.

Enquanto a professora organizava a aula, eu me perdia por um momento na vista da janela, observando o verde do campus sob o sol da manhã. Soph sussurrou ao meu ouvido, quebrando minha distração momentânea.

— Você está bem? — ela perguntou, preocupada.

Balancei a cabeça afirmativamente, forçando um sorriso.

— Estou tentando ficar. Obrigada por estar aqui, Soph — respondi baixinho, sabendo que ela entenderia o peso das palavras de minha mãe.

Soph apertou levemente meu braço em apoio, e logo a aula começou. A professora Harriet Sinclair, uma mulher elegante com cabelos grisalhos e um ar de sabedoria, iniciou a discussão sobre "Romeu e Julieta". Sua voz suave preenchia a sala enquanto ela nos guiava pelo universo de Shakespeare, fazendo com que esquecesse momentaneamente os desafios pessoais que enfrentava.

Ao longo da aula, mergulhei profundamente na história de amor trágico de Shakespeare, absorvendo cada palavra da professora. Era um refúgio bem-vindo da confusão emocional que havia enfrentado mais cedo.

Ao final da aula, enquanto Soph e eu nos dirigíamos para o refeitório, eu me sentia um pouco mais centrada. A conversa com meus amigos e a aula de literatura haviam me dado uma perspectiva renovada. Sabia que teria que enfrentar a conversa com minha mãe mais tarde, mas agora sentia que poderia lidar com isso com mais clareza.

Soph olhou para mim com um sorriso encorajador.

— Eileen, estamos aqui para o que você precisar. Não hesite em nos chamar, ok?

Assenti com gratidão, sentindo-me reconfortada pelo apoio sincero deles. Entramos na fila do almoço e pegamos nossa bandeja para nos servir; a comida da nossa escola era realmente muito boa.Enquanto nos dirigíamos para uma mesa no refeitório, Sophie e eu continuamos conversando sobre como lidar com a situação em casa.

— Acho que você está certa em esperar um pouco antes de falar com sua mãe, Leen. Às vezes, é melhor deixar as coisas se acalmarem um pouco — sugeriu Sophie, escolhendo um lugar ao lado da janela, onde podíamos ver o sol brilhando sobre o campus da escola.

Concordei com ela, ainda pensativa sobre tudo o que havia acontecido. Sentar-me ali, sob o calor reconfortante do sol de primavera, trouxe um alívio temporário para minha mente tumultuada. Sophie percebeu minha distração e colocou a mão sobre a minha.

— Vai ficar tudo bem, Eileen. Nós estamos com você — disse ela com um sorriso gentil.

Nicholas se juntou a nós logo depois, carregando sua bandeja com um entusiasmo típico.

— Como vocês estão se sentindo? — perguntou ele, sentando-se ao meu lado.

Olhei para meus amigos e sorri sinceramente.

— Melhor agora que estou com vocês dois. Obrigada por estarem aqui por mim.

Sophie sorriu de volta, e Nicholas deu um tapinha reconfortante no meu ombro.

— Sempre, Leen. Sempre estaremos aqui.

Nosso almoço transcorreu em meio a conversas tranquilizadoras e pequenos momentos de riso. Como vim até a escola andando pela manhã, resolvi mandar uma mensagem de texto para o meu pai perguntando se ele poderia vir me buscar na saída. 

Ele respondeu quase que imediatamente, disse que não conseguiria vir me buscar, mas mandaria alguem. Aquilo me deixou um pouco triste, mas fiquei aliviada por não ter que andar um pouco mais até em casa. Terminei meu almoço e nos dirigimos para a aula de ciências, onde o professor Jenkins nos esperava com mais um daqueles experimentos malucos que ele tanto adorava. A tarde foi passando entre aulas e conversas com os amigos, e logo chegou o momento da última aula do dia: continuação da aual de literatura inglesa com a Professora Harriet Sinclair.

A sala se aquietou quando ela começou a falar sobre Shakespeare, meu autor favorito. Fiquei absorvida pela aula, tentando não deixar que os pensamentos sobre o que aconteceu com minha mãe me distraíssem. Soph, ao meu lado, parecia entender minha necessidade de focar na aula. O restante da tarde passou rapidamente, e logo o sinal anunciou o fim das aulas.

Soph, Nick eu caminhamos juntas até a saída da escola, onde fui pega completamente de surpresa Julian veio me buscar. Ele sorriu ao nos ver, entrei no carro e seguimos para casa.

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