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(...)"Risos se calaram, corações se partiram, naquele dia que começou com esperança." - E.R

Acordei com o sol iluminando o meu rosto. Era a manhã do meu 14º aniversário e eu estava radiante. Tive uma ótima noite de sono, ansiosa por como seria minha festa e desejando que chegasse logo. Meu pai fez questão de que minha semana fosse inesquecível: almoços, jantares, cinema, compras... Não que precisasse de tudo isso; somente a presença dele fazia o meu dia transbordar de alegria. Ele sempre foi o meu farol, e eu nunca poderia desejar algo mais que isso. Eu estava na fase obcecada por Harry Potter, não que isso tenha mudado. Minha festa seria temática de Sonserina. Papai e eu passamos a noite anterior fazendo cupcakes temáticos e outras sobremesas para minha festa. Sempre tive festas de aniversário, mas essa era diferente. Minha mãe prometeu que faria meu bolo. Ela nunca cozinha para mim, então realmente é algo muito especial. E meu pai me prometeu um presente especial e inusitado.

Rolei na cama criando coragem para me levantar. Era cedo, 8 horas da manhã. Sentei na beira da cama, esfregando os olhos. Precisava de um banho e tomar café para começar o dia. Não que uma pessoa de 13 anos, quase 14, tivesse muita coisa para fazer. Queria colher morangos no jardim para ajudar a mamãe a fazer o bolo, também queria desenhar enfeites temáticos e me vestir com as minhas amigas antes da festa. Finalmente, levantei da cama e fui em direção ao banheiro. Tomei uma longa ducha, escovei os dentes e desci em direção à cozinha para tomar café com os meus pais. Minha mãe estava sentada na bancada ouvindo atentamente as histórias do plantão no hospital do meu pai enquanto ele fazia suas deliciosas panquecas. Eles formavam um lindo casal, sempre sorridentes, carinhosos e amorosos entre si. Raramente via minha mãe sorrindo; sempre que isso acontecia era na presença do meu pai. Ele era sua fonte de alegria e paz. Entrei na cozinha saltitante.

- Bom dia, papai! Bom dia, mamãe! - Plantei um beijo na bochecha de cada um deles e me sentei ao lado de minha mãe. - Vocês sabem que dia é hoje? - Sorri sorrateira, sabendo que eles sabiam exatamente do que eu estava falando.

- Sábado. - Minha mãe disse, voltando o olhar para mim. Sua expressão tinha mudado ligeiramente. Ela sabia que era meu aniversário e estava fingindo que não.

- Claro que sei. É o aniversário da princesa mais linda deste mundo que está crescendo muito rápido. - Meu pai disse sorridente, colocando panquecas no meu prato e bagunçando meu cabelo perfeitamente penteado e definido. - Não é mesmo, querida? - Seus olhos desviaram para minha mãe, que bebia um gole do seu café preto.

- Mas é claro que sim, só estava brincando. - Sua expressão suavizou. - Imagino que esteja animada, Eileen.

- É claro que estou! Estou fazendo 14 anos, sou quase uma adulta, não vejo a hora de crescer e ser como você, mamãe. - Abracei minha mãe, que retribuiu com um abraço não muito apertado. - Além do mais, minha festa de Sonserina vai ser demais. Meus amigos vêm, o papai e eu fizemos cupcakes e eu vou ter o bolo mais gostoso do mundo.

- Seu pai realmente cozinha muito bem. Seu bolo será ótimo. - Ela disse sem demonstrar muita animação com o assunto.

- Eu sou um excelente cozinheiro realmente, mas ela está falando do seu bolo, querida. Não se lembra que fará um bolo de morango com cobertura de chocolate? - Ele colocou a mão suavemente sobre a mão da minha mãe.

- Sim, claro, estava apenas fazendo uma piada. Bom, tenho que terminar umas papeladas do laboratório. Colha os morangos e faremos o bolo, querida. - Ela se levantou, deu um beijo na minha testa e foi em direção ao seu escritório.

- Ela vai fazer o bolo, não vai, papai? Ela prometeu que faria e que estaria na festa. - Olhei para meu pai como se suplicasse por conforto.

- É claro que vai, meu amor. Sua mãe não quebra promessas. Por que não vai colher os morangos enquanto eu limpo isso tudo, hein? Mas primeiro troque de roupa. - Ele sorriu, se virando para a pia para lavar os pratos.

Corri as escadas e fui direto ao meu quarto. Abri o guarda-roupa em busca do que vestir. Sempre fui muito vaidosa, sempre gostei de roupas, sapatos e acessórios, um gosto que adquiri observando minha mãe se arrumar e se cuidar todos os dias. Meu sonho era ser linda como ela ou pelo menos chegar perto disso. Vesti uma jardineira rosa com pequenos desenhos de cogumelos no shorts, coloquei meu bom e velho All Star, desci para a cozinha, peguei minha cesta e fui em direção ao jardim para colher morangos. Eu amava minha casa, mas principalmente meu jardim. Era lindo, grande e verde, tinha uma linda vista para o lago, um balanço e um lugar secreto que só eu e o papai conhecíamos. Atrás dos arbustos havia uma espécie de clareira. Ficávamos horas lá observando as nuvens e brincando de imaginar. Um dos hobbies favoritos do meu pai era a jardinagem. Ele fez questão de construir uma estufa para suas plantações, e lá estavam os morangos mais lindos, grandes e suculentos que já vi. Colhi o suficiente para meu bolo e mais um pote de geleia que meu pai fazia, ainda comi alguns secretamente e resolvi voltar para dentro de casa.

Meu pai já não estava mais na cozinha. A pia estava vazia e a bancada estava limpa. Deixei a cesta de morangos em cima da mesa e fui em direção à sala. Minha maratona de desenhos estava prestes a começar quando ouvi uma conversa vindo do escritório. Nunca tive a mania de ouvir atrás da porta, mas minha mãe parecia realmente incomodada. Fui na ponta dos pés até a porta do escritório e observei pela fresta da porta. Pude ver minha mãe encostada na mesa do seu escritório e meu pai em pé em sua frente. Eles pareciam zangados.

- Me diz quando foi que eu prometi o tal bolo, Eric? - Minha mãe disse áspera ao meu pai. - Aliás, eu nem concordei com essa festa.

- É o aniversário dela, Elisa. Ela está animada e queria que você fizesse o bolo para ela. Qual o problema nisso, querida? - Meu pai indagou, dando a volta na mesa e indo ao lado da minha mãe.

- O problema, Eric, é que se ela tivesse me pedido, eu diria não. Você sabe que não sou o tipo que cozinha ou que faz festa infantil.

- Por favor, Elisa. Você se lembra como é ter a idade dela, ela está animada, quer convidar os amigos, comer bolo e se divertir. Não vai tomar muito tempo, só faz o bolo, brinca com ela e ela ficará feliz. - Meu pai pegou em suas mãos como se pedisse um favor.

- Está bem, farei o possível. - Minha mãe sorriu ligeiramente e meu pai lhe deu um beijo delicado.

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