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O silêncio pairou por um momento enquanto eu processava a informação. Era estranho pensar que Julian tinha uma conexão tão próxima com meu pai, mas ao mesmo tempo isso explicava por que ele parecia tão familiar. Continuei com mais perguntas, curiosa para entender melhor.

— E ele vai se mudar em breve, não é? — perguntei, lembrando da conversa no carro com Julian.

Meu pai assentiu, dando um sorriso compreensivo.

— Sim, ele está planejando seguir adiante com sua carreira médica. A vida é assim, pessoas entram e saem, mas algumas deixam marcas significativas mesmo que por pouco tempo.

-Você parece gostar muito dele, papai. Você conhece a namorada dele também? Ele parece feliz - continuei com minhas perguntas, tenho muitas delas.

-Ele é um bom menino. Conheço sim, fazem um lindo casal, espero que eles se casem logo, o amor precisa ser celebrado. Julian merece isso. Você está muito curiosa, Moranguinho - minha mãe se movimentou na cadeira enquanto meu pai falava.

-Entendi! Fico feliz por ele, só achei estranho você pedir para ele ir me buscar - falei calmamente tentando não transparecer minha curiosidade. - Também acho que o amor deve ser celebrado, quero isso para mim um dia, quero um casamento como o de vocês - olhei para eles e sorri.

-Você terá muito tempo para isso, moranguinho. Você é muito nova e não quero nem imaginar você com um namoradinho - meu pai disparou, transparecendo um pouco de ciúmes.

-Fique tranquila querida, você terá um ótimo casamento. A família Darkwood são nossos amigos mais próximos e o pequeno Nicholas será um ótimo rapaz - ela disse, levantando-se e retirando nossos pratos; meu pai lançou um olhar que não consegui decifrar.

Não consegui entender o real significado do comentário da minha mãe. Ela sempre teve suas preferências com a minha amizade com Nick e sempre fez muito gosto da nossa proximidade, mas ela realmente espera que sejamos algo a mais no futuro, ou pior, ela e a família Darkwood realmente têm esse plano? Definitivamente, um casamento no futuro entre mim e Nicholas não passa pela minha cabeça, mas seria muito legal ter a Soph como cunhada. Dispersei os pensamentos e fitei minha mãe.

-Como assim, mamãe? Eu e o Nick somos grandes amigos, mas... - ponderei as palavras, mas minha mãe me cortou.

-E a amizade é a base para um casamento bem-sucedido, e isso vocês já têm - ela sorriu e bagunçou meu cabelo; tentei procurar o olhar do meu pai, mas ele encarava o prato agora vazio.

Eu respirei fundo, tentando processar o que minha mãe acabara de dizer. A ideia de casamento, especialmente com Nick, meu melhor amigo de longa data, parecia tão distante e inesperada que eu mal sabia como reagir. Olhei para minha mãe, ainda buscando entender suas intenções por trás das palavras, enquanto meu pai permanecia em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos.

— Mamãe, eu nunca pensei nisso... - comecei, mas ela me interrompeu com um sorriso gentil.

— Claro, querida, eu entendo. Vocês são jovens e têm muito pela frente. Mas é bonito ver a amizade de vocês, e quem sabe o que o futuro reserva, não é? - ela disse, tentando amenizar a situação.

Eu assenti, ainda perplexa. Era estranho pensar em Nick não apenas como meu melhor amigo, mas como alguém que poderia um dia ser mais do que isso. O pensamento de mudar a dinâmica de nossa amizade tão especial me deixava confusa e um pouco desconfortável.

Meu pai finalmente quebrou o silêncio, sua voz carregada de seriedade e carinho:

— Elle, o que sua mãe quer dizer é que nós só queremos o melhor para você. Seja lá o que o futuro trouxer, nós estaremos ao seu lado. E Nick sempre será bem-vindo aqui, como parte da nossa família.

Aquelas palavras me acalmaram um pouco. Saber que meus pais estavam lá para me apoiar, independentemente das minhas escolhas, era reconfortante. Eu sabia que teria muito a refletir sobre tudo aquilo, mas por enquanto, decidi deixar o assunto de lado e aproveitar o resto da noite com minha família.

Enquanto minha mãe voltava para a cozinha e meu pai recomeçava a conversa, eu me perdi novamente em pensamentos. Nunca tive tantas perguntas e tanta curiosidade sobre minha família antes; é incrível como um pequeno momento pode mudar todo o curso de uma vida.

— Moranguinho, você não tem lição de casa para fazer? - meu pai colocou sua mão sobre a minha e me olhou com carinho. Eu sabia o que ele queria dizer: ele queria que eu saísse da cozinha para que eles pudessem conversar. A cozinha era um espaço neutro para eles; meus pais não levavam discussões para o quarto. Assenti e me levantei, saindo da cozinha.

Mais uma vez meu estranho hábito me pegou; encostei-me na parede e esperei para ouvir a conversa dos meus pais. Meu coração estava pesado; eu sabia que não aguentaria mais uma conversa como aquela, mas também sabia que minha família tinha muitos segredos e eu só os descobriria assim.

— Elisa, meu amor, fico muito feliz que você e Elle estejam em harmonia novamente. Mas vai continuar tentando fazer nossa filha gostar do filho Thorne e da Elara? - meu pai se levantou para ajudar minha mãe com a louça.

— Você sabe que gosto muito dele, faço muita questão de uma possível união deles. E você sabe, quando eu e Elara éramos jovens, prometemos que se tivéssemos filhos, eles seriam melhores amigos e se casariam. - Minha mãe disse lavando os pratos; meu coração deu um pulinho. - E por sorte foi ainda melhor, ela é melhor amiga da Sophie e do Nicholas, e existe a esperança de eles ficarem juntos.

— Não estamos no século 16, Elisa - meu pai riu. - Não podemos escolher um casamento para a Elle, e ela só tem 14 anos.

— Não estou arranjando um casamento, só estou a induzindo para o caminho certo. Elara concorda e faz o mesmo, e o Nick aceita melhor essa ideia do que a Elle. - Ela ponderou.

Eu escutava a conversa dos meus pais com um nó na garganta. Não era a primeira vez que ouvia sobre esses planos de casamento entre mim e alguém, e sempre me deixava desconfortável. Eu não entendia por que eles insistiam tanto nisso, como se fosse algo que já estivesse decidido desde o meu nascimento.

Ponderei por um momento se deveria intervir ou apenas deixar que a conversa seguisse seu curso. A presença de Nicholas na discussão me intrigava profundamente. Ele sempre foi meu amigo mais próximo, mas pensar nele como um futuro marido era algo que eu não conseguia sequer imaginar. Ri mentalmente só de imaginar. 

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