Página XVIII

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Saí do banho me sentindo renovada, mas meu corpo ainda estava um tanto dolorido e minha cabeça latejava um pouco. Troquei de roupa, vestindo algo mais apropriado. Coloquei um vestido da coleção de primavera da minha marca favorita, de um tom verde militar um pouco mais claro. Era leve e confortável, um pouco acima do joelho. Arrumei meu cabelo e desci para a cozinha para continuar meu café com os meus pais e, estranhamente, com Julian.

Desci as escadas um pouco mais tranquila do que antes. Entrei na cozinha, mas meus pais não estavam lá, apenas Julian. Não sabia se deveria falar algo. Apenas passei por ele, peguei uma xícara e me servi de café preto. Seus olhos me seguiam por toda parte.

Julian então pigarreou, quebrando o silêncio.

— Seus pais tiveram que sair por um momento — ele disse, me encarando e me olhando por completo.

— Ah, entendi — respondi, tentando parecer casual enquanto tomava um gole do café.

Julian continuou me observando, e o silêncio entre nós começou a ficar desconfortável. Finalmente, ele falou novamente.

— Café preto é ?Parece mesmo que sua noite foi agitada — ele disse se levantando e levando a louça ate a pia parando em pé na minha frente, nossa diferença de altura era nitida, seus olhos estavam parados nos meus  

Franzi a testa, confusa e um pouco irritada com seu tom.

— O que você quer dizer com isso, Julian? — perguntei, colocando a xícara na mesa.

-Elle, eu só... - ele exitou por um breve momento, então pousou delicadamente sua mão em meu queixo fazendo eu olhar diretamente em seus olhos, seu olhar encontrou o meu por uns segundos, mas logo desceu até meus lábios.

Ele parecia travar uma batalha interna, como se estivesse tentando decidir o que fazer a seguir. Por fim, quando achei que ele se afastaria, seus lábios encontraram os meus, e sua mão em volta da minha cintura me puxou para mais perto. A mão que estava em meu queixo subiu delicadamente para o meu cabelo, me causando arrepios. Seu beijo era doce e sereno, mas com uma necessidade que parecia existir há tempos. Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, mas não queria largá-lo.O beijo continuou, cada segundo parecia uma eternidade. Meu coração batia acelerado, e todos os meus sentidos se mantinham focados nele. Quando finalmente nos afastamos, ficamos com as testas encostadas, respirando pesadamente, meus olhos estavam arregalados e minhas mãos tremiam, minha mente tentava entender o que tinha acontecido.

-Julian, o que foi isso ? - perguntei, ainda tentando entender o que acabara de acontecer.

Ele olhou nos meus olhos, com uma expressão mista de arrependimento e desejo. Eu podia sentir sua tensão e confusão, perceber que sua mente estava conflituosa e sem saber como reagir.

-Desculpe, Eileen. Eu... não deveria ter feito isso - ele pausou novamente, recuperando o fôlego que lhe faltava - Isso não pode acontecer - disse em tom firme, sua voz rouca e baixa, como se estivesse se convencendo.

-Julian, eu... - disse, olhando em seus olhos enquanto me aproximava e procurava suas mãos, mas ele se esquivou abruptamente, interrompendo-me.

-Eileen, você é apenas uma adolescente que não sabe o que quer da vida. Você não viveu o suficiente ainda. Isso foi um erro estúpido, não pode se repetir - ele atravessou a cozinha até o outro lado da bancada, deixando um espaço óbvio entre nós, como se não pudesse ficar ao meu lado.

Encarei-o por alguns segundos que pareciam anos. Quando finalmente reuni coragem para responder, meus pais entraram na cozinha e colocaram os sacos de compras no balcão.

-O que não pode se repetir? - meu pai perguntou, olhando para nós com ternura e preocupação, mostrando claramente que ouviu parte da conversa.

Um silêncio pesado pairou sobre o ambiente. Julian e eu nos encarávamos, com uma crescente sensação de medo. Nenhum de nós sabia o que dizer ou fazer. Mesmo com a cozinha cheia, podíamos ouvir a respiração pesada um do outro, o conflito interno e o arrependimento crescendo.

-Estava tentando trazer juízo à cabeça da sua filha, Eric - Julian quebrou o silêncio finalmente, virando-se para meu pai e ajudando-o com as compras. - Nessa idade, tudo é muito confuso, ela precisa de juízo.

-Não se preocupe com minha filha, Julian - minha mãe disse asperamente para ele, era evidente que não gostava dele. - Eu apoio o namoro dela com o Nick - ela sorriu satisfeita.

-Namoro? - Julian me olhou pesadamente, trincando o maxilar, como se estivesse contendo um grito, apertando a mão ao lado do corpo.

Apesar do ambiente carregado de tensão, meus pais pareciam não perceber a profundidade do momento entre Julian e eu. Enquanto Eric começava a arrumar as compras, minha mãe permanecia com um olhar penetrante sobre Julian, como se tentasse decifrar algo oculto em seus gestos tensos.

Julian permaneceu em silêncio por um momento, parecendo medir suas palavras. Seu olhar alternava entre mim e meus pais, como se buscasse uma saída para a situação delicada que se formava na cozinha. Finalmente, ele respirou fundo e enfrentou minha mãe com uma calma forçada.

-Elisa, eu valorizo muito a sua opinião. E, de verdade, respeito a maneira como vocês cuidam da Eileen - disse ele com uma voz firme, mas contida. - Eu só queria garantir que tudo o que aconteceu entre eles não vá prejudicá-la. Ela é jovem demais para compreender certas situações.

Minha mãe franziu as sobrancelhas, mas antes que pudesse responder, meu pai interveio com um tom tranquilo, tentando dissipar a tensão.

-Julian, entendo suas preocupações. Eileen é nossa filha, e nós a conhecemos muito bem - disse Eric, colocando as últimas compras na geladeira. - Acho que devemos deixar os jovens resolverem suas próprias questões.

Julian assentiu, parecendo aliviar um pouco a tensão em seus ombros. Ele então se virou para mim, com uma expressão mista de preocupação e desconforto.

-Eu preciso ir agora. Eric, a gente se vê no tênis. Até mais, Elisa e Eileen - ele nos acenou com a cabeça e saiu apressado pela porta. Eu assenti, sentindo um nó na garganta, sem saber exatamente o que dizer. Meus pais trocaram um olhar significativo antes de começarem a desfazer as sacolas de compras. Eu me sentia presa em um emaranhado de emoções e silêncios, sem uma direção clara para seguir naquele momento tenso na cozinha.

As lembranças não paravam de se misturar em minha mente: a noite de ontem com Nick, acordar na cama dele hoje de manhã, o beijo com Nick na cozinha. Tudo era confuso demais; eu não conseguia me lembrar de muita coisa da noite passada. Minha cabeça ainda latejava, agora por outros motivos, meu corpo estava dolorido e sentia uma sede incontrolável. Meus pais estavam entretidos conversando e desembalando as compras. Peguei uma garrafa d'água na geladeira e me encaminhei para fora, atravessei o jardim e fui até a clareira escondida.

Eu amava aquele lugar, a forma como a luz do sol batia nas árvores e fazia sombras bem desenhadas no chão, o barulho do riacho, o cheiro das flores e da terra. Eu amava a paz e a tranquilidade que aquele lugar trazia. Me deitei no chão, meus cabelos soltos pela grama, a brisa suave que vinha ao encontro. Fiquei por uns minutos observando as nuvens e seus formatos. O dia estava lindo, o sol brilhava amarelo ouro, o céu azul sem nuvens, a brisa suave, o silêncio sendo quebrado apenas pelo assobio das árvores. Por alguns momentos ali, minha mente se aquietou.

Fiquei ali inerte em meus pensamentos até que uma sombra conhecida apareceu diante dos meus olhos. Sophie estava parada me olhando, sorri para ela, que se deitou ao meu lado. Sua mão pegou na minha e ficamos ali por alguns minutos até ela quebrar o silêncio.

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