Pagina XVI

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(...) Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram;
assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo;
assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio. (....)
- Willian Shakespeare

A intensidade do momento nos envolvia em um silêncio carregado de expectativa. Seus lábios se aproximaram dos meus, o coração acelerado ecoando no meu peito. Eu desejava aquele beijo, mas hesitava, incerta do que aquilo significaria para nós.

— Nick, eu... — minha voz saiu em um sussurro, minha mente turbilhonando com sentimentos conflitantes.

Finalmente, seus lábios encontraram os meus num beijo suave e hesitante, como se estivéssemos testando as águas. Foi um momento breve, mas intenso, onde todas as perguntas e incertezas pareciam se dissolver. Nos separamos lentamente, nossos olhares se encontrando em meio à penumbra da noite.

— Eileen... — Nicholas sussurrou, buscando minhas mãos com as suas.

Eu não sabia o que dizer, mas as palavras pareciam desnecessárias naquele momento. Apenas sorri, sentindo um misto de nervosismo e felicidade. Nos deitamos juntos olhando para a lua. Não sabíamos como chegamos até ali ou quanto tempo aquele momento duraria, mas gravaríamos eternamente em nossa memória. Eu estava feliz, eu estava verdadeiramente feliz. Depois de um tempo deitados assim, sentamos novamente para comer. Minhas pernas estavam uma de cada lado de Nick, de forma que me deixava em seu colo.

— Você lembra da primeira vez que viemos aqui? — perguntei, quebrando o silêncio.

— Claro que sim. Estávamos explorando e nos perdemos por horas — ele riu, relembrando a aventura. — Mas você estava linda.

— Sim, foi assustador, mas ao mesmo tempo, foi um dos melhores dias da minha vida. Acho que é por isso que amo tanto esse lugar — confessei, sentindo uma onda de nostalgia.

Nick parou e me olhou nos olhos, o rosto sério. — Eileen, independente do que nossas mães querem, eu só quero que você saiba que você é o que mais importa para mim. Eu não quero que nada mude entre nós, a menos que seja algo que ambos desejamos.

Senti um calor reconfortante em seu olhar e sorri.

Eu o beijei novamente, dessa vez de forma ardente e urgente, como se cada parte do nosso corpo desejasse isso, como se cada partícula do nosso ser quisesse um ao outro. Cada toque, cada movimento, era uma promessa de desejo e entrega mútua. Queríamos aquilo, desejávamos aquilo. Beijamos como se o mundo fosse acabar ali, como se nossa vida dependesse disso.

Ficamos ali naquela toalha de piquenique sob a luz da lua e das estrelas. Eu não conseguia acreditar que Nick e eu realmente estávamos ali, desejando um ao outro com tanta sede, como se estivéssemos sem beber uma gota de água por anos. Meu corpo pedia por Nicholas, minha boca pedia por mais da sua, por mais da sua língua explorando-a como se a qualquer momento pudesse me perder.

Eu nunca fui muito de beber, mas nesses últimos dias eu sentia que precisava, eu precisava de um pouco de leveza e felicidade.

— Acabamos com duas garrafas — disse Nicholas com a voz entrecortada. Ele não parecia ter bebido mais que dois copos. — Bebemos bastante — ele riu baixinho.

— Provavelmente mais eu do que você — disse com a voz embargada e com a cabeça girando levemente. Eu gosto dessa sensação, a sensação de que o mundo é um concerto e ele está girando e dançando, e eu danço e giro junto. Meu corpo fica leve e minha mente descansada por breves momentos.

— Vou te levar para casa, você precisa de uma ducha e dormir — ele disse apressado, arrumando as coisas novamente na cesta. Eu só o observava sentada no meu lugar, como ele também dançava. Estávamos em um grande concerto de música, a lua era a única a assistir. Ele plantou um beijo em meus lábios e me ajudou a levantar. — Você exagerou, hein.

— Foi só dois copinhos — sorri com um sorriso frouxo e bobo nos lábios.

— Foram duas garrafas — ele riu, mas seu tom estava um pouco mais sério. — Vamos — ele me conduziu para o banco da frente e me colocou o cinto de segurança.

O caminho de volta para casa era feito de flashes. Eu me lembrava da luz da lua, das sombras das árvores dançando com o vento, da música suave que tocava na Heart London e de Nick me checando a cada 5 minutos para ter certeza de que eu estava bem. Acho que chegamos na minha casa, pois o carro parou de andar. Nick me ajudou a descer do carro. Eu ainda estava meio cambaleante e tonta. Entramos em casa devagar e sem fazer alarde. A casa estava escura, quase que irreconhecível nesses tons. Subimos as escadas em direção ao meu quarto. Ao entrar, apenas tirei os sapatos e me joguei na cama. Então, fechei os olhos por uns segundos e adormeci.

Acordei com o sol batendo em meus olhos, minha cabeça latejando, alguns flashes da noite anterior voltando e se movendo de forma confusa em minha mente. Não queria abrir os olhos. Possivelmente meus pais me viram chegar levemente alcoolizada e com Nick me carregando. O seu rosto, seu toque, seu cheiro vinham em minha mente. O que fizemos? Foi uma promessa? Estamos juntos? O que ele estava esperando daqui para frente? Sacudi a cabeça como se o ato fizesse meus pensamentos dissiparem. Finalmente tomei coragem e abri os olhos. Fitei o teto por uns segundos e só então percebi que aquele não era o teto do meu quarto. Me sentei, olhando as paredes pretas com pôsteres de bandas de rock e um ar vampiresco, a guitarra vermelha no canto do quarto, a cama king com lençóis cinza. Aquele não era o meu quarto, aquela não era minha cama, e definitivamente a camiseta larga preta sobre meu corpo não era minha. Meu corpo gelou por uns segundos, pude sentir meu coração errar míseras batidas. Aquele era o quarto de Nicholas Darkwood, aquela era a casa dos Darkwood.

Ainda confusa, me sentei na beirada da cama, tentando fazer sentido dos pensamentos embaralhados. O silêncio da casa dos Darkwood parecia amplificar o zumbido em meus ouvidos. Levantei-me devagar, com medo de fazer qualquer movimento brusco que pudesse aumentar a dor de cabeça latejante. Precisei me apoiar na parede para me equilibrar, o chão parecia instável sob meus pés.

Saí do quarto de Nicholas, tentando não fazer barulho. O corredor estava deserto e mergulhado em sombras, com apenas a luz fraca do amanhecer filtrando pelas janelas. Eu não queria acordar ninguém, especialmente os pais de Nick, que poderiam fazer perguntas desconfortáveis sobre a noite anterior.

Encontrei o banheiro e me olhei no espelho. Meu reflexo mostrava cabelos desgrenhados, olhos inchados e a camiseta larga de Nick pendendo sobre meus ombros. Lavei o rosto, tentando clarear a mente e me sentir um pouco mais humana. A água fria ajudou a despertar meus sentidos e a aliviar a ressaca.

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