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— Fiquei surpreso ao saber que não estava no escritório hoje. Aconteceu alguma coisa?

Sarah havia aberto a porta e se deparara com o pai a sua espera. Sem seu sorriso despreocupado de costume, ela se pôs de lado.

— Eu não estava me sentindo muito bem.

— Claro. Não teve um só dia de folga desde que começou a trabalhar na empresa. Talvez eu deva chamar um médico.

— Eu só precisava de algum tempo para pensar.

Sarah atravessou a sala de estar e foi para a varanda com o pai logo atrás.

— Por acaso isso tem a ver com aquela garota por quem estava toda encantada na festa de noivado da sua irmã?

Ela sentou-se no ambiente ao ar livre.

— Eu parecia encantada?

— A ponto de eu me perguntar se teria de anunciar um segundo noivado dos Andrade naquela noite.

Desde que vira Juliette outra vez, Sarah pensara ter feito um bom trabalho disfarçando sua frustração, mágoa, culpa e desejo. Havia tido tantos casos sem importância que, sinceramente, perdera a conta. Rompimentos nunca tinham sido seu ponto forte, contudo ela não se lembrava de ter se envolvido por tempo suficiente ou o bastante para sofrer daquele modo quando a cortina caía.

Juliette estava certa. Ela era teimosa e egoísta. Apenas relacionamentos íntimos, sem exigências e responsabilidades, lhe interessavam até então.

No entanto, Juliette era muito diferente das outras. Muito. Ela havia perdido a única mulher de quem realmente gostara, e essa verdade a estava consumindo.

— Não vou poder vê-la de novo — murmurou, ao ver o pai puxar uma cadeira.

— Embora seja óbvio que era isso o que queria.

Sarah se recusou a responder. Preferiu desviar o olhar para a paisagem, imaginando as famílias que desfrutavam o Central Park naquele dia perfeito de primavera.

Perguntou-se onde estariam Juliette e o bebê naquele momento, e se elas sentiam sua falta, assim como ela sentia a delas.

O que mais poderia fazer?

Sentiu o peito se apertar, fechou os olhos e soltou um gemido baixo. Que diabos Juliette queria dela?

— O coração é uma coisa engraçada — comentou o pai dela, após algum tempo. — Há algumas forças poderosas neste nosso mundo, mas o amor supera todas elas.

Sarah franziu o cenho.

— Está tentando me dizer que ainda ama a mamãe?

— Mesmo que ela decida que é hora de nos separarmos, nunca vou me arrepender de ter me casado, de ter formado nossa família. Não sou mais tão moço, você sabe... Acho que, quando se chega aos sessenta, a gente começa a ver a vida sob uma perspectiva diferente. Suas ideias a respeito de sucesso mudam. Você percebe que as pessoas que têm as melhores contas bancárias são as mais solitárias. — Ele olhou para baixo e balançou a cabeça para si mesmo. — Muitas vezes me pergunto onde eu estaria agora se não tivesse ficado perdidamente apaixonado por sua mãe. Talvez eu tenha, mesmo, passado muito tempo longe; mas ficava sempre tão agradecido por poder voltar para casa e para todos vocês! Todos os aniversários, Natais, nossas férias no Colorado...

Sarah esboçou um sorriso.

— Eu nunca vou me esquecer.

— Quando se está na contagem regressiva, esses são os momentos que mais contam, e não se você conseguiu fazer uma aquisição em cima de um pobre coitado...

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⏰ Última atualização: Jul 12 ⏰

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Mães Por Um Tempo  》Sariette || ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora