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Além do crepitar suave do fogo e das sombras que bailavam, percebeu Sarah colocando uma manta sobre ela.

— Relaxe. Se ela acordar durante a noite, eu a trago para você — ela falou, recolhendo sua taça.

Lá em cima, algo se chocou com o telhado. Seria o vento chicoteando as telhas com um galho?

Juliette afundou mais na poltrona e puxou a manta até o pescoço. Aquela nevasca estava ficando assustadora. Enquanto o vento uivava como um animal selvagem do lado de fora, elas assistiram às chamas dançando e estalando na lareira. A atmosfera era mágica... hipnótica.

— Está dormindo? — Perguntou Sarah, após algum tempo.

— Só estava viajando com as imagens do fogo.

— O que vê de tão interessante?

— Às vezes vejo animais. Em outras, rostos de pessoas.

— E esta noite?

Ela inclinou a cabeça e se perdeu mais uma vez no serpentear hipnótico das chamas.

— Estou vendo um bebê, mamadeiras... Decerto vou sonhar com tudo isso, também.

— Não pensei que estivesse tão preocupada.

Juliette baixou o olhar. Não era óbvio?

— Ela é uma gracinha. Não vai ser fácil dizer "adeus".

Com o canto dos olhos, ela viu Sarah rodar o vinho nas mãos e pôde sentir o cheiro do bouquet.

— Imagine como os pais dela ficarão felizes.

— Verdade. — Juliette tentou afastar as dúvidas, sua própria experiência era de uma criança perdida que nunca fora resgatada, e esboçou um sorriso. — Vou tentar.

Sarah manteve uma expressão neutra.

Mesmo assim, não podia ter se sentido mais abalada pelo comentário. Desde o início, Juliette Freire tinha feito coisas curiosas com seu natural equilíbrio; até mesmo ao pôr as garras de fora contra ela.

E ficar sentada ali, conversando e brincando com ela diante da lareira, só a tornara ainda mais consciente disso. Apesar de Juliette reprovar seu estilo de vida com base nas notícias daqueles tabloides, ela podia dizer que se sentia muito atraída por ela. Queria chegar mais perto, puxá-la para si. Maldição, ela queria beijá-la!...

E do modo mais lento e ardente. A expressão alerta nos olhos escuros de Juliette, o modo como ela baixava a guarda... Juliette iria objetar se ela a pegasse e arrastasse para a cama?

A tentação era real, porém ridícula. Ela já ficara intrigada com mulheres antes, mas não daquela forma.

Para ser franca, a consciência do que estava experimentando naquele exato momento era inquietante.

Sem dúvida devia ser resultado daquelas circunstâncias incomuns.

Afinal, elas estavam ali sozinhas, isoladas, compartilhando um imprevisto que envolvia uma alta dose de comprometimento emocional.

Sim. Devia ser essa a razão. Aquele instinto meio absurdo de proteção que as mulheres têm com bebês.

Por vários momentos, Sarah rodou a bebida nas mãos, os olhos fixos no fogo. Quando se recompôs física e mentalmente, pôs-se de pé e passou a mão pelo cabelo.

— Acho que vou tomar um banho.

Descansando contra os travesseiros e parecendo deliciosa no pijama enorme, Juliette esboçou um sorriso sonolento.

Mães Por Um Tempo  》Sariette || ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora