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Fechou os olhos com força, contou até três, porém sua ansiedade só fez aumentar.

Droga. Dificilmente Sarah Andrade se sentia encurralada e abatida daquela maneira.

Soltou um grunhido, pegou a bolsa, deixou cair uma nota no banco da frente e ordenou ao motorista:

— Espere aqui enquanto for preciso. Eu voltarei.

Juliette Freire sabia no que tinha se metido. Seriam horas de espera e de preocupação em uma cidade onde não conhecia ninguém. No entanto, conforme andava sobre o piso de mármore polido a caminho do lindo balcão de madeira da recepção do hotel com a criança pesando no braço, não se arrependeu de sua decisão.

Os assistentes sociais faziam o melhor que podiam, mas, normalmente, era uma burocracia sem fim, e os recursos, muito poucos. Em um piscar de olhos, ela havia se candidatado a uma vaga naquele departamento, mas sua experiência pessoal em relação ao assunto lhe dizia que aquilo não iria dar muito certo. Existiam tantas crianças negligenciadas e abandonadas no mundo!... Ela iria querer levar todas para casa.

Juliette observou o bebê que dormia, e a emoção tomou conta dela, comprimindo-lhe a garganta. Ninguém pedia para ser abandonado. Ninguém merecia ser abandonado, muito menos aquele anjinho.

Isso se aquele fosse mesmo um caso de abandono.

Um ruído de passos ecoando no mármore soou atrás dela, e Juliette deu meia-volta. A mulher do táxi — a que tinha olhos tão verdes quanto mar oliva, a voz rouca e um sorriso que lhe parecera muito familiar — corria dificultosamente até ela, hóspedes e funcionários do hotel desviavam de sua silhueta se desculpando ao invés do contrário, a cauda do sobretudo voejando às costas. Quando parou, uma mecha de cabelo loiro caiu sobre suas sobrancelhas bem-feitas, e ela baixou os ombros definidos com um profundo suspiro.

Por um momento, ela ( Juliette ) se sentiu meio sem ar. Da cabeça aos pés, assim como em todo o restante, Sarah era um exemplo e tanto de espécime feminino.

E lá estava de novo: aquela impressão de que ela já a conhecia... e de que não devia confiar nela.

A mulher decidiu se apresentar e, de repente, todas as peças daquele quebra- cabeça se encaixaram como mágica.

— Eu me esqueci de dizer... — ela explicou, com um sorriso de lado. — Sou Sarah Andrade.

Juliette arregalou os olhos sentindo os músculos do estômago se apertar. Claro! Em pé sob a forte iluminação, quem poderia duvidar daquele corpo esculpido, daquela aparência hollywoodiana, daquele ar autoritário?

Pessoalmente, a srta. Andrade era um pecado de tão sexy. E, pelo que ela havia lido, também uma idiota, gananciosa e egoísta.

Mas não iria acusá-la disso tudo ali, naquele momento. Não era nem o lugar nem a hora de ela dizer a ilustre srta. Andrade o que pensava dela.

Tratou de respirar fundo, suavizar a expressão e se apresentar.

— Meu nome é Juliette Freire.

— Srta. Freire — Sarah murmurou, parecendo tão arrogante quanto em suas várias aparições como celebridade, fosse de biquini em seu iate ou toda sofisticada e invencível em terno feminino e gravata. — Pensei melhor na situação e decidi ajudar.

Juliette observou sua expressão solidária e perguntou o óbvio:

— Por quê?

Uma ponta de cautela cintilou nos olhos claros antes que ela voltasse a sorrir.

— Porque tenho algum tempo livre, e você precisa voltar para Nova York.

Juliette absorveu o sorriso inebriante, branco e convidativo. O mesmo sorriso que a intrigara dentro do táxi.

Mães Por Um Tempo  》Sariette || ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora