Duas semanas após a invasão
Todas as quartas feiras o trem passa para o reino do gelo. Era para onde eu queria e deveria ir, se buscava o mínimo de segurança, seria lá. Precisava de sustento e abrigo. Não dava para fugir toda hora e viver apenas de coisas furtadas. Eu sou uma fugitiva, então qualquer coisa seria boa para mim.
Os moradores normalmente pegavam o trem para transportarem suas mercadorias, visitar familiares e trabalharem, não necessariamente nessa ordem.Peguei algumas moedas que estavam em meu bolso. Era o suficiente para comprar uma passagem.
Enquanto esperava o trem chegar, observei uma mãe vendendo seus produtos na feira, ao seu lado estava uma criança(provavelmente o seu filho) brincando com um carrinho de madeira e fazendo das cascas de banana uma enorme pista, tentando mostrar para a mãe um pouco de seu lado criativo. Senti uma lagrima escorrer de leve em meu rosto, mas eu não sabia se era ódio ou tristeza. Tristeza por não ter mais minha mãe aqui, e ódio por lembrar da cena que acabei sendo forçada a ver quando tinha 15 anos, minha mãe sendo açoitada até a morte. Eu sentia muito a falta dela. Desde que morreu injustamente, minha vida nunca mais foi a mesma. Não gostava de lembrar o porque de tudo isso...não fazia sentido, pelo menos não para mim.
Ouvi o barulho do trem nos trilhos junto de sua buzina, estava na hora. Coloquei o capuz de minha capa e caminhei até a bilheteria com a cabeça baixa.
— Boa tarde, quantas passagens? —Uma voz feminina de dentro da cabine da bilheteria perguntou.
— Apenas uma. —Joguei as moedas no balcão e a mulher analisou uma por uma. Em seguida peguei minha passagem.
Me infiltrei no meio da multidão de pessoas, não era o momento de ser pega de surpresa por nenhum guarda de um reino do qual eu nem pertencia. Observei dois homens altos, fui me esgueirando das pessoas e finalmente consegui ficar no meio deles.
Assim que subi no trem percebi que aquela seria a parte mais difícil, achar um lugar que estivesse vago.
Me dirigi ao final do vagão, finalmente um lugar vazio. Gostava de silêncio e paz, então sempre procurava me acomodar sozinha.
Ouvi passos em minha direção e enxerguei a silhueta de um homem, alto e aparentemente bonito. Usava um chapéu que fazia uma sombra em seu rosto, então não pude observá-lo direito.O homem se sentou ao meu lado, respirei fundo e me virei para ele.
— Poderia se retirar? —Perguntei educadamente, ainda com o rosto virado para a janela.
—Perdoe-me, senhorita. Mas eu faço questão de sentar-me aqui. —O homem respondeu. — Espero que minha presença não te incomode tanto. Quero apenas tirar um cochilo e me desconectar da multidão.—Observei pelo canto do olho enquanto ele ria e se espreguiçava exageradamente. Me esquivei de seus longos braços.
— Novamente, meu senhor, eu peço que se retire! —Repeti, com a voz firme.
— Por favor, não fale assim com o seu soberano. —O homem retirou o chapéu e eu finalmente o observei. Vi os olhos de um azul intenso fitando o meu rosto. Aquele era o príncipe Dimas, filho do Rei Mason, do reino do gelo.
Prendi a respiração ao sentir o peso em minha bolsa. A coroa. Maldita coroa!
Tenho certeza de que a vida quis testar-me a sorte.
Me levantei rapidamente e corri para a frente do trem, ouvi a risada do príncipe ecoar no fundo do trem.— Você ainda não me disse quem você é. —O príncipe dizia rindo com certo escárnio.
Merda. Minha máscara não poderia cair, pelo menos não agora. Continuei a correr e novamente me infiltrei na multidão de pessoas pertinho da porta. Percebi que o príncipe não fez questão de me seguir. Caso ele descobrisse meu nome e sobrenome logo saberia quem eu era. A ladra que deixou o seu reino aos pedaços.
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De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)
General Fiction+16 anos(contém gatilhos como: Violência, assassinato e problemas parentais) "Somos divididos por reinos. Nosso trabalho é afugentar o inimigo. Mas eu fiz outra escolha; eu mesma me tornei o inimigo." Agatha Moretti, após o injusto assassinato de...