Uma enfermeira estava de pé diante de minha cama.
Recuei com um sobressalto, me chocando contra a parede, com a visão ofuscada pela luz do cômodo.
— Fique calma, não estou aqui para te fazer mal nenhum. – A mulher vestida de branco disse. Suas mãos geladas me fazem deitar novamente. – Precisa descansar...
Pisco algumas vezes para tentar assimilar o lugar, mas não consigo. Ouço um barulho, Henrique acabara de abrir a porta eufórico. Parecia um pouco pálido. Ele olha para a enfermeira que logo abre espaço para nós dois.
— Como se sente? — Ele pergunta, e de repente toda a noite passada passa em minha mente como flashs.
— Nós realmente a encontramos? — Pergunto e ele apenas assente. Vejo Henrique deslizar na parede até chegar ao chão. – As pessoas sabem de ontem? — Pergunto, enquanto encaro o teto.
— Não. Mas tenho certeza de que a rainha desconfia. Só está sendo uma boa pessoa para nos enganar e fingir que nada aconteceu. — Ele diz. — O fogo era magia, por isso não está queimada...pode até ter se sentido de tal forma, mas, era momentâneo. A rainha chegou um pouco depois, mas Erick e Helena saíram correndo e acredito que conseguiram se esconder. Assim que a viu desmaiada, falei que a comida não a fez bem, e viemos fugir um pouco da multidão. Ela não me pareceu desconfiada, mas acredito que não aparentaria estar assim em nossa frente. Então só a encaminhou para enfermaria.
Ficamos em silêncio por um bom tempo.
— O que Helena me falou ontem sobre...
— Abrir o portal. — Ele completou, como se já soubesse que a qualquer momento eu iria falar sobre. Só estava esperando. Ele se levantou e tirou um papel do bolso. Várias letras miúdas formavam uma profecia.
Nos dias em que os reinos se tornarão sombras,
E a terra clamar por um salvador,
Surgirá uma criatura de pele escamosa,
Guardião do fim, portador do terror.
Quatro coroas, de poder e sabedoria,
Forjarão seu destino nas chamas do passado.
A Coroa das Flores, que outrora brilhava pura,
Ficará manchada pela esperança desfeita.
A Coroa do Gelo, com mistério profundo,
Rasgará os véus dos mundos esquecidos.
A Coroa da Terra, que um dia curou,
Agora espalhará as raízes da dor.
E a Coroa do Fogo que um dia trouxe coragem. Agora restará somente o medo.
Juntas, elas despertaram a fúria,
Desfazendo o que estava unido.
A criatura, ao levantar as coroas,
Trará a ruína e o desespero.
Mas cuidado, pois os corações desiguais,
Desejarão o poder para si, de forma voraz.
Somente o verdadeiro amor, em pureza,
conseguirá resistir à sombra da incerteza.
Assim, o destino dos reinos será selado
Quando a criatura e as coroas se unirem,
Num ciclo de trevas e maldição,
No fim de tudo, todos sucumbirão.
— Essa é a profecia de Helena. As coroas são mais poderosas do que imaginam. Elas não têm vida própria, mas sentem quando o salvador está por perto. — Ele disse enquanto pegava minha mão lentamente e passava o polegar em minha cicatriz. — Essa sua cicatriz, é especial...você tem poderes fortíssimos...e que chegam ao nível de Helena. É por isso que você é a chave para a destruição dela. Helena precisa juntar os seus dois elementos...que são fogo e gelo, mas você já juntou um consigo mesma...o que só desperta a criatura. Por que acha que o rei não gostou nem um pouco do roubo e tentou matá-la? Se a coroa não significasse nada, já teriam feito outra. Ela nunca é trocada. Os reis e rainhas fazem de tudo para isso não acontecer. — Henrique concluiu, e fez sinal para que eu me levantasse.
Estava totalmente sem reação. Não sabia o que pensar, muito menos o que dizer. Um acidente fez com que a vida de Helena começasse a acabar, para a criatura despertar.
— Levante! — Despertei do transe com a voz de Henrique.
— A enfermeira disse que preciso descansar.
— Não precisa de descanso quando se trata de Magia, é só esperar ela se desgastar. – Então o obedeci e me levantei, aproveitando que a enfermeira estava distraída.
— Mocinha! Não pode ir... precisa descansar. — A enfermeira chamava.
— Estou me sentindo ótima! – Digo, enquanto passo pela porta. Vejo Henrique pegar o papel de minha mão e guardar.
— Isso é de um livro. Beatrice rasgou essa folha e deixou comigo, ela que me explicou.
Saímos da enfermaria e paramos em um corredor que eu nunca havia passado. Henrique já conhecia o caminho, então me guiou, afinal havia precisado passar por ali para chegar até mim.
— Mas e a parte do portal de destruição? – Perguntei, enquanto descíamos a escadaria.
— Isso Helena deve explicar...se acharmos ela novamente.
Não esbarramos com a rainha em nenhum momento, o que foi bom, havia pouquíssimos criados pelo caminho. Repassei toda a história em minha mente novamente. Então me lembrei do que Zion havia me dito quando me contara toda a história; " Eu não sei de quais reinos essa criança provém, mas sei que uma possível guerra pode acontecer." Gelo e fogo, eram os reinos.
— Quem são seus pais? – Pergunto a Henrique.
— Meu pai, era apenas um pobre mercador, nada mais que isso. Minha mãe já tivera o título de princesa, mas fugiu dessa vida para dar à luz a Helena. O pai da minha irmã... nunca soube quem é, e acredito que nunca saberei. – Ele disse enquanto atravessamos o portão do palácio, e começamos a descer a enorme colina.
— Posso fazer outra pergunta? — Digo, envergonhada já que não parava de falar.
— No seu lugar eu também estaria cheio de perguntas. — Ele disse ao invés de um simples "sim".
— Como Helena sabia que eu carregava a cicatriz, que eu poderia destruí-la? – Henrique parou para observar minha expressão enquanto falava.
— Ela te sente, Agatha. Sempre que você está por perto.
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Meus xuxus! Desculpem a demora! Autora estava com problemas e sem tempo. Mas aí está um capitulo novinho em folha!! Espero que tenham gostado! Beijinhos da Miss❤️
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De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)
General Fiction+16 anos(contém gatilhos como: Violência, assassinato e problemas parentais) "Somos divididos por reinos. Nosso trabalho é afugentar o inimigo. Mas eu fiz outra escolha; eu mesma me tornei o inimigo." Agatha Moretti, após o injusto assassinato de...