Capitulo 11

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Ainda era madrugada quando acordei. O quarto não estava totalmente escuro já que na janela não havia nenhuma cortina ou qualquer coisa que pudesse tapar a luminosidade que a noite trazia. Minha garganta implorava por um pouco de água.

Saio da cama, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Abri a porta do quarto, nenhum criado a vista, nenhum guarda no andar. Caminho para perto da escada e percebo que vigias noturnos estão no primeiro andar, não tenho coragem de descer e pedir por água. Giro os calcanhares e volto para o quarto.

Assim que fico frente a frente com a porta, ouço sussurros vindo de longe, mas não tão distante o suficiente para meus ouvidos não captarem. Sinto uma dor na mão, olho para minha cicatriz, ela brilha. Perigo.

Uma luz no fim do corredor me chama atenção. Á medida que me aproximo os sussurros ficam mais claros, no meio deles, a voz de Henrique. Uma porta está entreaberta, ele está com os dois braços algemados, sentado no chão. Alguma magia me impede de correr, então, apenas fico assistindo e ouvindo.

— Pare de falar como se você se importasse com ela! – Consigo ouvir a voz de Henrique, baixa e nem um pouco calma.

— Eu me importo! Eu a salvei! – Diz a rainha.

— Ela nunca vai lhe dar nada em troca!

A rainha não o responde de imediato, isso de alguma forma faz a expressão de Henrique se tranquilizar.

— Amanhã, poderá procurá-la à vontade! Estará liberado. Mas já o aviso, ela não está mais aqui. – Ela caminha em direção a porta, me escondo em um outro cômodo ao lado. Quando ouço seus passos ficarem distantes, abro a porta devagar.

A rainha havia desaparecido de minha vista.

Volto ao quarto, Zion está acordado de pé olhando as estrelas que estão no céu. Ele não vira para me olhar, caminho e me sento no braço da poltrona para observá-las. As estrelas parecem mais próximas do que nunca, cintilando como diamantes espelhados ao acaso.
Algumas formam constelações conhecidas, enquanto outras brilham solitárias, cada uma com sua própria história, assim como eu e Zion.

— Onde estava? –Ele pergunta, enquanto me olha.

— Apenas fui beber água. – Respondo. – Partiremos ao alvorecer.

Saio da poltrona, me deito na cama e o diálogo retoma a minha mente. Fecho os olhos, mas não durmo.

                              [...]

Assim que desço as escadas junto de Zion, percebo que Henrique e a rainha estão a nossa espera.

— Tem certeza de que não querem se juntar para o café da manhã? – A rainha perguntou da mesma forma gentil que nos recepcionou.

—Não, obrigada. – Henrique foi o mais rápido na resposta.

O véu de magia da rainha nos envolveu e a porta se abriu. Ela, sorriu e acenou como quem queria dizer “até logo”, e não um adeus. Assim que atravessamos o portão, olhei para a colina que teríamos de descer, talvez seria melhor do que a subida.

Zion se distanciou de Henrique e eu, era a oportunidade perfeita para perguntar como ele estava.

— Do que se lembra agora?

— Muitas coisas. – Respondeu ele, forçando um sorriso.

— Me diga uma delas.

— Nesse reino, existe uma das melhores cozinheiras do mundo. É para lá que iremos.

A volta da memória de Henrique parecia ter o tornado diferente. Era como se agora, ele guardasse um grande segredo, e talvez realmente fosse verdade, pois ele não falou em nenhum momento sobre sua conversa com Morana.
                             [...]

De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)Onde histórias criam vida. Descubra agora