Ainda era madrugada quando acordei. O quarto não estava totalmente escuro já que na janela não havia nenhuma cortina ou qualquer coisa que pudesse tapar a luminosidade que a noite trazia. Minha garganta implorava por um pouco de água.
Saio da cama, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Abri a porta do quarto, nenhum criado a vista, nenhum guarda no andar. Caminho para perto da escada e percebo que vigias noturnos estão no primeiro andar, não tenho coragem de descer e pedir por água. Giro os calcanhares e volto para o quarto.
Assim que fico frente a frente com a porta, ouço sussurros vindo de longe, mas não tão distante o suficiente para meus ouvidos não captarem. Sinto uma dor na mão, olho para minha cicatriz, ela brilha. Perigo.
Uma luz no fim do corredor me chama atenção. Á medida que me aproximo os sussurros ficam mais claros, no meio deles, a voz de Henrique. Uma porta está entreaberta, ele está com os dois braços algemados, sentado no chão. Alguma magia me impede de correr, então, apenas fico assistindo e ouvindo.
— Pare de falar como se você se importasse com ela! – Consigo ouvir a voz de Henrique, baixa e nem um pouco calma.
— Eu me importo! Eu a salvei! – Diz a rainha.
— Ela nunca vai lhe dar nada em troca!
A rainha não o responde de imediato, isso de alguma forma faz a expressão de Henrique se tranquilizar.
— Amanhã, poderá procurá-la à vontade! Estará liberado. Mas já o aviso, ela não está mais aqui. – Ela caminha em direção a porta, me escondo em um outro cômodo ao lado. Quando ouço seus passos ficarem distantes, abro a porta devagar.
A rainha havia desaparecido de minha vista.
Volto ao quarto, Zion está acordado de pé olhando as estrelas que estão no céu. Ele não vira para me olhar, caminho e me sento no braço da poltrona para observá-las. As estrelas parecem mais próximas do que nunca, cintilando como diamantes espelhados ao acaso.
Algumas formam constelações conhecidas, enquanto outras brilham solitárias, cada uma com sua própria história, assim como eu e Zion.— Onde estava? –Ele pergunta, enquanto me olha.
— Apenas fui beber água. – Respondo. – Partiremos ao alvorecer.
Saio da poltrona, me deito na cama e o diálogo retoma a minha mente. Fecho os olhos, mas não durmo.
[...]
Assim que desço as escadas junto de Zion, percebo que Henrique e a rainha estão a nossa espera.
— Tem certeza de que não querem se juntar para o café da manhã? – A rainha perguntou da mesma forma gentil que nos recepcionou.
—Não, obrigada. – Henrique foi o mais rápido na resposta.
O véu de magia da rainha nos envolveu e a porta se abriu. Ela, sorriu e acenou como quem queria dizer “até logo”, e não um adeus. Assim que atravessamos o portão, olhei para a colina que teríamos de descer, talvez seria melhor do que a subida.
Zion se distanciou de Henrique e eu, era a oportunidade perfeita para perguntar como ele estava.
— Do que se lembra agora?
— Muitas coisas. – Respondeu ele, forçando um sorriso.
— Me diga uma delas.
— Nesse reino, existe uma das melhores cozinheiras do mundo. É para lá que iremos.
A volta da memória de Henrique parecia ter o tornado diferente. Era como se agora, ele guardasse um grande segredo, e talvez realmente fosse verdade, pois ele não falou em nenhum momento sobre sua conversa com Morana.
[...]
VOCÊ ESTÁ LENDO
De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)
General Fiction+16 anos(contém gatilhos como: Violência, assassinato e problemas parentais) "Somos divididos por reinos. Nosso trabalho é afugentar o inimigo. Mas eu fiz outra escolha; eu mesma me tornei o inimigo." Agatha Moretti, após o injusto assassinato de...