Capitulo 10

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Então, entramos. A rainha Morgana foi nos guiando para algum lugar, o único barulho que soava pelo salão era o de seu salto estridente.

— De onde a conhece? – Perguntei diretamente para Henrique.

— Eu não a conheço. – Disse ele, olhando em meus olhos.

Não falei mais nada.

Adentramos exatamente onde eu queria, a sala das poções, ou melhor, o jardim das poções. No centro do jardim, há uma grande árvore antiga, cujos galhos estão repletos de poções penduradas. Não era exatamente frascos de vidros com um líquido colorido borbulhante dentro, mas sim flores coloridas da qual cada uma havia sua magia.
Me perguntei como a rainha sabia que procurávamos aquele lugar, ou melhor aquelas flores. Como se ignorasse a nossa presença, a mulher com cabelos repletos de fios grisalhos, pegou uma flor com toda a delicadeza e entregou para Henrique.

— Coma. – Disse a rainha enquanto observava Henrique decidir se era uma boa ideia ou não comer aquela flor. – É para sua memória, talvez se lembre quem eu sou.

Então, Henrique fez exatamente como a rainha mandara, apenas comeu. Ele não falou nada e não se mexeu, ficou parado olhando para qualquer ponto fixo. Minutos se passaram, e ele continuou da mesma forma.
Criados com roupas verdes musgo entraram empurrando uma maca, um deles pegou o corpo de Henrique e o deitou ali.

— Mas que porra... – Começou Zion.

— Para onde estão o levando? Você não pode fazer isso! -Exclamei para a rainha, enquanto ela dava algum comando para os criados.

— Não só posso, como também devo! Eu forneço as poções, eu decido. Estou ajudando-o, não só ele, vocês também!  –Observei os criados levarem Henrique para algum lugar que eu desconhecia. – Ele precisa descansar..., mas em um lugar longe de vocês, assim a memória dele estará recuperada.

Como se aquilo não fosse nada, a rainha saiu do jardim das poções. Para fechar sua entrada, ela apenas estalou os dedos e magia dourada envolveu todo o lindo lugar, tornando-o apenas uma parede normal. Olhei ao meu redor na tentativa de achar qualquer sinal de Henrique.

Zion, parecia sem saber o que fazer. Eu não poderia deixar que Henrique ficasse aprisionado novamente. A rainha estava sendo muito gentil desde a hora que chegamos...eu deveria desconfiar de algo.

Chegamos a uma pequena sala. As paredes são adornadas  com trepadeiras floridas, exalando um perfume doce e suave. O teto é de vidro, permitindo que a luz natural ilumine o ambiente, criando um efeito mágico ao refletir nas pétalas coloridas.
Um balcão de mármore branco exibe uma variedade de doces e pães artesanais. Uma mesa com cadeiras confortáveis, feitas de vime, nos aguarda.

— Sentem-se. – Disse Morgana, já em seu lugar na ponta da mesa. Um bule rosa com detalhes brancos foi segurado pelas mãos de uma criada, que servia chá para a rainha. — Sirvam-se a vontade. –Ela sorriu e tomou um gole do líquido que continha em sua xícara.

Zion levantou-se e serviu-se de pães, bolos, doces, tudo o que a cozinha real havia preparado. Permaneci sentada, encarando-o comer com tanto gosto. Era uma armadilha.

— Porque não come um pouco? – Os olhos de um verde cristalino estavam fixados em mim.

— Estou bem. – Respondo.

— Não tem veneno. – Dessa vez ela desvia o olhar para Zion e o volta para mim.

— Como sabia? Sobre a necessidade de Henrique. – Perguntei.

Ela bebericou mais um pouco de seu chá, antes de responder minha pergunta.

— Eu sei muito mais sobre vocês três do que imaginam... – Ela sorriu levemente. — Imagino que precisem de um quarto para ficar, meus criados arrumarão algo especialmente para vocês.

— Obrigada, Vossa Majestade. É muito gentil de sua parte. –  Respondeu Zion enquanto uma criada o servia de chá.
Continuei sentada, observando os dois conversarem. Morgana estava sendo muito gentil o tempo inteiro, oferecendo comida, estadia, poções. Mas tudo tem um preço, e eu nem conseguia imaginar o quão alto deveria ser.
                              [...]

Chegamos ao quarto. O chão é coberto por um tapete espesso e macio, de padrões intricados e cores vibrantes. Em um canto do quarto, uma lareira em mármore, frequentemente acesa nas noites mais frias, aquece o ambiente com seu brilho reconfortante. Em frente à lareira, uma poltrona de couro. Apenas uma cama de casal.

Zion tirou o par de sapatos e sentou-se na poltrona.

— Pode dormir na cama...aqui também é confortável. – Lanço um sorriso para ele, que em seguida fecha os olhos para tentar descansar um pouco.

Caminho até a cama e tiro minhas botas. Uma pequena porta ao lado de onde Zion estava sentado dava acesso a um pequeno banheiro. Eu precisava urgente de um banho. Abri a porta e a tranquei.

Entrei na banheira e meu corpo relaxou quando a água quente tocou a minha pele. Molhei meu cabelo e abracei minhas pernas. Esse com certeza é o único momento tranquilo que tive depois de tanto tempo.
Depois que termino de me banhar, coloco uma roupa que estava em cima da cama me esperando. Uma blusa branca, uma calça de couro e um par de botas novo.

— Porque ela está sendo tão legal? – Disse Zion me fazendo levar um leve susto.

— Eu também não sei.

— Foi uma pergunta retórica. – Zion levantou-se indo em direção ao banheiro. —  Ela é viúva, Agatha. Não tem tanta companhia desde que o marido falecera, não tem herdeiros. É uma pena.  — Completou ele fechando a porta.

Minha mente preferia pensar que aquela seria a primeira noite sem muitas preocupações. Torci para que Henrique estivesse bem. 

                          [...]
Dessa vez eu não estava em uma floresta. Estava no vilarejo do reino das flores. Um homem, alto, com pouca barba, e olhos castanhos que lembravam mel, estava em minha frente. Ele se virou. Em sua mão, estavam várias cartas.

— Entregue-a! – Ele falou.

— Ela? – Pergunto.

— Você sabe quem.

Ele me empurrou e senti que havia caído dentro da escuridão.

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Mais um capitulo concluídooo! Espero que tenham gostado.
Um beijinho da autora❤️


De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)Onde histórias criam vida. Descubra agora