Capitulo 8

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O sono havia me tomado de uma forma ágil, rápida e brutal. Eu não sabia como.

— Agatha! —A voz me acordou. As palavras soavam baixas, mas com tom de perigo e alerta. Me perguntei se ainda estava presa em meu pesadelo, mas assim que abri os olhos percebi que Henrique estava em minha frente. —Vamos rápido, estão vindo atrás de nós!

O vagão estava aberto, Zion estava se segurando, o corpo totalmente encostado no trem, olhei para Henrique confusa. Ele apenas fez o mesmo que Zion e me estendeu a mão, em um sinal de que era apenas para eu segui-lo e não questionar nada por enquanto. Fechei o vagão e me agarrei na barra de ferro.

— Qual é o problema agora? — Perguntei por fim, me segurando para não cair nos trilhos.

– Zion e eu acordamos com passos e vozes. Logo percebemos que estavam vindo ao nosso encontro. Saberão quem nós somos...—Ele fez uma pausa. —Quem você é. — Sua voz praticamente falhou, seus olhos encontraram o horizonte em nossa frente.

A vista é deslumbrante, apesar do momento desesperador. Um rio cristalino corre ao longo do vale, refletindo o céu azul e as nuvens brancas. À distância, vilarejos pitorescos com casas de telhados de tons verdes e amarelos, pontuam a paisagem, enquanto campos de flores selvagens em vários núcleos se espalham até onde a vista alcança.

Estávamos cada vez mais perto de nosso primeiro destino.

                                                                                        [...]

Assim que o trem parou saltamos rapidamente. O vagão que estávamos era um dos últimos, fazendo com que as pessoas na estação não voltassem toda a atenção para ele. Fomos mais rápidos antes que o grande vagão repleto de lotes de caixas fosse aberto. Saltamos do trem e andamos como passageiros normais.

Uma pequena vila, determinava o começo do reino das flores.

Um lugar totalmente encantado, o cheiro da magia era forte, onde a natureza exibe sua mais pura beleza e exuberância. Ao adentra no reino, somos recebidos por um aroma suave e envolvente de diversas flores. As árvores têm folhas verdejantes e flores pendentes que formam um dossel colorido e perfumado. Borboletas de todas as cores, com asas translúcidas dançam pelo ar.

Uma música paira pelo ar, agitando os moradores do reino. Pessoas dançam, outras apenas ganham mais incentivo para continuarem o árduo trabalho do dia.

O clima é diferente, o sol escaldante, faz Zion desabotoar alguns botões de sua camisa. No coração do reino, no topo de uma colina, um majestoso palácio se estabelece. Respirei fundo, precisávamos ir para lá.

— Para onde iremos? —Zion é o primeiro a perguntar, despertando-me de toda aquela beleza natural.

Apontei para o palácio, Henrique é o primeiro a tentar contrariar.

— O que você vai fazer? – Pergunta Henrique, confuso. Seu olhar não está em nenhum de nós, apenas nas pequenas casas que passávamos.

— Conheço uma poção que fica no jardim secreto da rainha, ela te ajudará com a memória. – Respondo. Parece ser a coisa certa a fazer, talvez realmente seja.

Ele assente e continua a andar. Zion faz sinal para o seguirmos, meus pés doem devido a bota que visto a dias, sinto que estão inchados, mas isso não é o que importa agora.

Percebo que Henrique está sorrindo e pela primeira vez consigo reparar como ele é de fato. Sua pele é parda, os cabelos em um tom castanho puxados para o ruivo, mas que não se classificam como tal. Percebo que a manga de sua camiseta está puxada para cima, vejo pequenas cicatrizes em seus braços. Seu olhar que corre pelo reino tem nostalgia presente, torço para que esteja lembrando de algo.

Ele provavelmente percebe que está sendo observado, já que vira o rosto para mim. Seus olhos não me dão medo quando os observo, não me lembram mais fogo, não são de um tom laranja vivo, mas em seu interior vejo uma pequena chama.

— Obrigada. —Falo para ele, sou sincera. Ele me salvou.

Henrique apenas sorriu para mim e continuou a andar.

Zion estava a alguns metros de distância de nós dois. Suas palavras vinham em minha mente e ecoavam de um lado para o outro. Uma guerra. Uma ameaça. Um coração mortal em perigo.

— O que você viu? – Perguntou Henrique, ainda com o olhar fixo no horizonte, me afastando dos pensamentos. Franzi a testa, e ele apenas continuou. — Ontem à noite. Quem você viu? O que você viu?

A pergunta me atinge como uma pedra.

— Meu pai. – Henrique parece entender o peso de minha resposta. – Como sabe que vi alguém além de Dimas?

— Você paralisou. – Ele respondeu. – Pouco te conheço, Agatha. Mas sei que você lutaria com qualquer um...menos ele.

— Ele está morto! —Falo, querendo acabar com a conversa de uma vez.

Henrique olha para mim, sério.

— Para conhecer alguém é preciso saber os seus medos. Já sei o seu. – Diz ele, antes de adentrar na escuridão de um possível atalho que Zion acabara de achar.

Sigo mesmo sem saber como era possível existir escuridão naquele reino. 

De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)Onde histórias criam vida. Descubra agora