— Erick. – Henrique sussurra para si mesmo e parece pensativo.
— Você o conhece? – Pergunto.
— Sim...ele e Helena tinham um envolvimento. – Antes que eu pudesse questionar mais Henrique, um barulho se fez presente no salão inteiro. Olhamos ao mesmo tempo, sorrateiramente o que era: nada. Erick havia sumido. — Vamos. – Henrique começou a me puxar.
— Onde pensa que estamos indo?
— Não sei, preciso achá-lo, ele sabe de algo! Com certeza sabe! – Ele fala.
A porta de um cômodo está entreaberta, pelo pouco que consigo ver está totalmente bagunçado, com vários papéis jogados...como se fossem cartas. Não parece ter alguém no momento, então arrisco entrar. Assim que entro, sinto uma energia pesada, como se algum tipo de magia pairasse no ar e dificultasse até mesmo a minha respiração.
— Agatha? – Ouço a voz de Henrique me chamar, quase como um sussurro.
— Estou aqui, venha! – Falo, e fico com o corpo entre a porta e o cômodo. Observo meu aliado se aproximar e franzir a testa pouco a pouco.
— Como você fez isso? – Pergunta Henrique, com uma expressão incrédula, esfregando os olhos para ter certeza do que via.
Franzo a testa e saio totalmente de dentro do cômodo, me sentindo mais leve de repente. Sinto algo arder na palma de minha mão e olho a cicatriz brilhando. O que aquilo queria dizer?
— Do que você está falando? – Perguntei.
— Você acabou de praticamente atravessar a parede. – Henrique fala.
— Você só pode estar delirando...acabei de entrar em um cômodo, totalmente vazio. Espera, você não consegue ver? – Passo a mão para dentro da porta e logo a tiro.
— Sua mão... acabou de atravessar a parede. Como isso é possível?
— Não faço ideia... -Continuo encarando a porta, aparentemente nenhum véu de magia aparente está revestindo-a.
Vejo Henrique continuar a andar reto, então apenas o sigo, passamos pelo quarto em que fiquei durante uma noite com Zion, e chegamos ao final do corredor, consigo ouvir soluços. Eu e Henrique nos entreolhamos, e vamos em direção ao som silenciosamente. Conforme nos aproximávamos, começo a sentir um calor que faz parecer irrespirável, o cheiro de fumaça era intenso. Então achamos uma sala e entramos. Estava tomada por um círculo de fogo.
— Por que esse fogo não queimou tudo? – Pergunto baixo, olhando a situação.
— Magia. – Henrique responde sem tirar os olhos do fogo.
Foi então que meus olhos se fixaram em seu meio, uma mulher loira, encostada em uma das paredes, seu rosto marcado pelas lágrimas que escorriam em um contraste gritante com o desespero ao seu redor.
— Calma...nós vamos consertar. - No entanto, havia alguém ao lado dela, um homem que parecia interessado em ajudá-la. Erick. Eu o reconheci imediatamente, apesar da confusão que dominava o ambiente. — Faça parar.
Ele estava falando suavemente, tentando acalmá-la, enquanto tentava apagar as chamas que ameaçavam consumir tudo ao redor. O contraste entre sua serenidade e a desolação dela era quase surreal. Era como se o caos tivesse criado um espaço sagrado entre eles, onde ele se tornava seu porto seguro em meio ao desespero. Eles ainda não haviam percebido a nossa presença.
Mas, então a mulher tirou a peruca, mostrando seus longos cabelos ruivos.
— Helena. – Henrique falou, seus olhos emanando desespero e emoção. A garota virou para ele, mas não atravessou o fogo. Henrique coloca meu corpo para trás do seu, na tentativa de me proteger.
Helena era a garota da qual eu sonhava todas as noites, com ameaças e destruições. Helena era o meu pesadelo em forma real.
O mundo ao nosso redor parecia desaparecer enquanto nossas histórias se entrelaçavam de uma maneira inesperada. As lágrimas que ela derramava não eram apenas pela situação, mas por uma dor que eu ainda não havia conhecido. Em meio ao fogo e à fumaça, percebi que o que estava no jogo era mais do que uma simples catástrofe; era uma luta pela sobrevivência, pelas memórias e pelo que restava da própria Helena.
— Isso é culpa sua. – Helena fala para Henrique, os olhos refletindo o fogo a sua volta. Então as chamas aumentam e ela se levanta. Erick a segura. Percebo que está usando um vestido, pronta para ir ao baile.
— Não! Não é culpa de ninguém. — Erick fala e segura o rosto dela. — Precisa se acalmar. Se gritar perceberão que estamos aqui...preciso voltar para me juntar á orquestra. — Ela o ignora. Percebo de repente que Helena não estava com raiva de Henrique, e sim de mim.
Então Helena atravessa as chamas, mas surpreendentemente não se queima. Sua presença é totalmente intimidadora. Ela vem até mim, os fios de cabelo grudados na testa enquanto me olhava. Com uma mão ela afasta o corpo de Henrique, e fixa o olhar em mim novamente.
— Você abriu o portal. Você é a chave para a minha destruição. – Ela pega a minha mão e nós duas olhamos para a minha cicatriz, sinto ela brilhar e doer. Então, fogo envolve apenas eu e Helena, sinto meu vestido e minha pele queimar. A fumaça embaça minha visão, e não vejo mais nada.
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De fogo e Ruínas (Uma vida em troca de outra)
General Fiction+16 anos(contém gatilhos como: Violência, assassinato e problemas parentais) "Somos divididos por reinos. Nosso trabalho é afugentar o inimigo. Mas eu fiz outra escolha; eu mesma me tornei o inimigo." Agatha Moretti, após o injusto assassinato de...