Capítulo Onze

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Conseguimos fugir sem ser percebidos (era o que eu esperava), e agora precisávamos ficar longe, muito longe dali, não queria me envolver nesse papo de tráfico, talvez aquilo fosse coisa da máfia, não sei, minha mente estava confusa, sou jovem para vivenciar isso, claro, sempre quis uma vida de aventuras, mas nesse caso já é diferente, está me deixando de pernas bambas, eu já estava roendo as unhas constantemente por causa do nervosismo, nós procurávamos algum modo de voltar para casa, mas era difícil pensar com uma coisa dessas acontecendo, então a melhor coisa a fazer era tentar achar o "aeroporto" de onde saímos, e pegar um vôo de volta para os Estados Unidos. Bem, Johnny e eu voltávamos para o mesmo lugar de onde chegamos e não devíamos ter saído, demorava muito tempo caminhando. Tomamos o caminho, até passamos pela praia de antes, então Johnny parou de me seguir e caminhou para a direita, então o perdi de vista e logo após ele veio com uma bicicleta de um cara que estava meio que fazendo xixi na árvore, ele disse que não sabia de quem era então pegou, meu amigo era idiota mesmo e eu não sabia o que fazer para mudar isso, talvez nada, acho que algum dia ele vai se dar mal com isso, nas por enquanto eu só aguardo ele tomar jeito na vida.
Eu pedalava suavemente pelo canto da estrada, tendo de carregar Johnny, a pedal tornava-se mais pesado a cada metro que passávamos, ele trazia o rastreador, que já havia se tornado inútil, como não apontava para mais nada. Johnny rodava e jogava para cima o rastreador, que as vezes pegava de raspão em minha cabeça. Chegamos a um ponto em que o lugar vinha a ser familiar, enquanto passávamos, olhei ao redor procurando algum terreno longo cheio de matos secos. O rastreador bateu em mnha cabeça novamente, me virei para trás reclamando com Johnny e pelo canto do olho vi um local meio acinzentado, um amarelo queimado, logo olhei diretamente e percebi que era o lugar certo, o caminho de matos secos, rapidamente dei uma meia volta pesada que fez Johnny se desequilibrar e acabar deixando o rastreador caindo, agora não teve muitas dificuldades em atravessar aquele percurso. Com a bicicleta fomos mais rápido e economizamos tempo, vi uma coisa passando pelo mato e me assustei, freiei, olhei atentamente e percebi que era algo pequeno e lento, então ouvi um choro de cachorro, acho que era algum filhote, mas, o que um filhote de cachorro fazia no meio do mato? Ele veio até nós mas parecia que ele não estava enxergando, e deu de cabeça no pneu da bicicleta. Após dar uma olhada nele, me surpreendi.
- Johnny, olha sua mochila.
- Ahn? - ele ficou confuso, mas logo pegou-a.
Olhei para trás e percebi que a mochila estava aberta, mas não vi o filhote de Beagle. É claro, deixamos HotDog cair enquanto andávamos, por isso que estranhei não ouvir latidos ou grunhidos de cachorro todo aquele tempo, esquecemos do pobre cãozinho e ele acabou pulando ou mesmo caindo da mochila, me senti culpado por deixá-lo sozinho. Desci da bicicleta, mas Johnny manteu ela em pé. Peguei HotDog e o coloquei na mochila de Johnny e ameacei um puxão de orelha se deixasse-o cair novamente.
Seguimos pelo caminho de vegetação seca enquanto o mato cinzento passava rapidamente por nossas pernas, as vezes chegando a arranhar.
Começa a chover sobre nós, mas em um momento durante meses, gostei de me molhar assim, eu não costumava ficar na chuva, havia sempre um "Matt, venha pra casa que vai chover" ou "Entre senão vai ficar doente", o básico cuidado de mãe, mas aqui não tinha isso, você poderia ser livre e fazer o que quiser, mas considerando o fato de que realmente não era muito bom ficar encharcado e com as roupas totalmente coladas no corpo não seria muito bom, concentrei a força nas pernas e pedalei o mais rápido que pude. A chuva ofuscava tudo ao nosso redor e todo o horizonte era cinzento, chuva forte por todo canto, a água batendo em nossos olhos também não ajudava muito. Eu pedalava fortemente, mas tomando cuidado com possíveis obstáculos, em meio a tudo em cinza que estava à frente, eu acho ter visto algo, era uma coisa larga e clara, reduzi a velocidade para poder ter uma visão mais ampla do que era, mas era tarde demais, aquilo estava a menos de dois metros e meio da gente, só então que percebi: era uma extensa grade de arames cruzados. Apertei o freio de jeito que doeu nos dedos, senti a bicicleta virando e deslizando na lama.
- Merda - foi o que deu para dizer antes que demos de cara no ferro.
Viramos com violencia e fomos jogados contra a grade, machuquei a parte direita do rosto e caí em cima do braço esquerdo. Tínhamos sido lançados no ar num movimento giratório, não posso dizer que ficamos feridos apenas em uma parte do corpo, o que poderia ser apenas uma queda da bicicleta, talvez tivesse levado a uma lesão na coluna ou algo do tipo. Para a minha sorte não sentia tal coisa, mas percebi que minha boca estava com o gosto um pouco metálico de sangue, com certeza havia me cortado. Me levantei com o apoio de um só braço, eu pingava lama e estava cheio de barro molhado, olhei para trás, a bicicleta se encontrava muito longe de nós, relmente estávamos indo rápido, mesmo desacelerando, logo me virei para o lado e vi Johnny no chão, mas ele não se levantava e nem ao menos se mexia, um pouco mais à sua frente vi que havia uma barra de ferro que sustentava a grade, então o desespero tomou conta, fui até ele mesmo mancando, eu não imaginava que causaria tanto dano assim. Me abaixei e o virei para que pudesse ver seu rosto, havia um enorme corte em sua testa, e o sangue escorria como um rio pelo nariz logo pingava pelo queixo, segurei o choro, balancei ele tentando fazer com que ele acordasse, mas nada, permanecia inconsciente. Coloquei seu braço sobre meu pescoço e tentei levantá-lo, meu corpo inteiro doeu, uma dor fina no braço e perna esquerdos, mas não desisti, Johnny era meu melhor amigo e eu não o deixaria abandonado. Ignorei a dor, me levantei, puxando ele comigo, grunhi bastante mas no final deu certo, comecei a dar passos lentos, a mais ou menos três metros tinha uma abertura na grade mas acho que dá pra passar nós dois, "eu consigo, vamos lá, um passo atrás do outro", mesmo de um jeito arrastado, andei um pouco para ao lado e segurei na grade, e assim fui, tive de caminhar com o apoio dos arames de ferro cruzados. A vida é confusa, primeiro você cai, mas depois tem que continuar o caminho com ajuda do que te tez cair. Passamos com dificuldade pela abertura, Johnny continuava desacordado, seus cabelos bagunçados e molhados balançavam e cobriam seu rosto, HotDog grunhia dentro da mochila, eu sentia a parte esquerda do corpo pulsando enquanto tentava enxergar apenas por um olho, o direito havia sido ferido e ardia sempre que tentava abrir. Uma forte dor preencheu toda a minha perna, gritei, não suportando tudo aquilo, me desequilibrei e quase caímos, então ergui a cabeça e logo á frente vi uma luz, é lógico que não estávamos morrendo e o céu estava abrindo, estreitei os... o olho, e vi, era o bendito aeroporto, tomei confiança e coloquei força nas pernas, foi de um certo modo "fácil" para que cheguemos lá, não era longe. Coloquei Johnny no chão, me desculpei primeiro e dei um tapa na sua cara, era um dos modos de se tirar alguém do desmaio, só não sabia se iria funcionar, ele gemeu baixinho, abriu os olhos levemente e perguntou o que estava acontecendo.
- Não importa ainda, primeiro temos que chegar no avião e sair da chuva - eu disse, um pouco alto devido à chuva.
Johnny sentou e logo ficou de pé, ele aparentava ter um pouco de dor nas costas, o que me fez ficar preocupado. Com Johnny consciente ficou melhor para caminhar, entramos num avião qualquer, e pedimos para ser algum que fosse para perto dos Estados Unidos.
Abri a bolsa e peguei o kit de primeiros socorros e outras coisas, fiz alguns curativos improvisados na gente, nos enxugamos com algumas roupas sujas, HotDog estava normal, ele já andava pelo chão do avião mordendo caixas. Eu estranhava o silêncio de Johnny, mas não fiz nada, me acomodei perto da parede e dormi profundamente.

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