Capítulo Treze

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Bom, parece que nos envolvemos até com a máfia chinesa, o que significa que estávamos bem ferrados. Johnny continuava deitado de bruços no mesmo lugar que caiu quando saltou do carro. Ele ficava repetindo "Quase morri", sua voz abafada por causa da grama. Fui até ele, ainda com as pernas bambas. Eu poderia dizer "está tudo bem, Johnny", "Johnny, já acabou", mas não estava com muita paciência.
- Levanta logo - dei-lhe um cascudo -, você poderia ter morrido sabia? Idiota...
Então ele parou de soluçar e se calou. Johnny levantou rapidamente do chão e se pôs de pé, limpando o barro e pequenos fiapos de planta em sua roupa. Ficou à minha frente e olhou para mim, apesar de seu olhar estar bem mais longe. Johnny cuspiu na mão e colocou novamente o cabelo para trás, bem nojento. Simplesmente começou a andar, me ignorando completamente, ele voltava à calçada de concreto desbotada e virou à esquerda, planejando ir para o mesmo avião de onde saímos.
Imagino se naqueles aviões haviam várias coisas falsas, já que era um aeroporto clandestino. Assim que percebi que estávamos na Ásia lembrei do clássico "Made in China" que eu via sempre nos brinquedos que mãe dava à minha prima pequena. Voltei à realidade quando Johnny travou quando virou à esquerda e correu para trás rapidamente. Ele veio até mim ofegante.
- Jesus Cristo... eles-eles... metralh-metralhadora... CHIN-CHINESES!
Contornei o muro que tapava a vista do que acontecia e brechei pelo canto do olho. Havia uns treze chineses de preto e com fuzis (Johnny errou um pouco) olhando para o aeroporto e falando com civis que faziam gestos com as mãos mostrando um caminho que provavelmente foi o que o carro onde nós estávamos fez, outros vinte vindo em nossa direção. Eu sabia que não daria para sair correndo porque eles iriam perceber e nos encher de bala. Então me veio uma idéia na cabeça, expliquei ao Johnny e pegamos nossos celulares nas mochilas. Logo percebi os caras caminhando em nossa direção. Eu coloquei um boné, Johnny achou uma boina e teve de colocá-la mesmo não gostando. Nós fingimos tirar fotos e mostrar um ao outro, então saímos lentamente cochichando baixo o suficiente para eles não perceberem que não era chinês.
- Se o plano não funcionar e eles nos descobrirem eu te mato.
- Alguma idéia melhor? - retruquei, com raiva.
Prosseguimos calados, não ouvi passos atrás de nós, então provavelmente eles caíram. Posso garantir que éramos dois caras sortudos por isso, tirando o fato de que embarcamos num avião contrabandista por engano, fomos ao Brasil, quase nos pegaram e por fim viemos parar na China.
Logo achamos um lugar calmo para descansar um pouco e comer. Parece que aquela fuga do carro atingiu os ferimentos de lá do Brasil, quando fomos jogados da bicicleta. Johnny sentia a coluna doer assim como minha perna voltou a latejar.
- E aí, o que vamos fazer para darmos o fora do Japão? - ele disse, mastigando um sanduíche se presunto.
- É China.
- Tanto faz!
Estávamos comendo ao ar livre,achamos uma pequena lanchonete não tão longe dali e peguei um bloco de notas e lápis na mochila de Johnny e comecei a desenhar nossa situação para explicar ao dono do lugar que não tínhamos o dinheiro local e queríamos trocar algumas coisas por comida. O cara entendeu e aceitou, por sorte ele tinha três sanduíches de reserva, peguei um e Johnny o resto.
- Bem, acho que o mesmo que fizemos antes, voltar ao aeroporto e tentar pegar um avião que nos leve de volta para casa. Tentar...
- Mas antes nós demos uma volta para só depois voltar para lá, aqui não podemos fazer o mesmo?
- Johnny, acho que Pequim não deve ter muitos lugares bons para visitar, você sabe de algum?
- Matt, acho que não é que você não saiba que não vai ter - ele imitou o jeito que falei -, mas não tem problema, quanto antes chegarmos nos EUA, melhor.
Pagamos ao homem com um relógio e alguns trocados americanos. Então demos meia volta e caminhamos em direção ao aeroporto clandestino, tendo cuidado para não esbarrar denovo com os asiáticos armados.
Por sorte passamos pelo lugar do "acidente" e chegamos lá sem nem sinal de mafiosos de olhos puxados. Mas para acabar com nossa sorte, chegamos à entrada e lá estavam os caras, de guarda, talvez nos esperando, talvez não. Fomos andando silenciosamente pela lateral, indo por meio dos carros e cortando o caminho onde estavam os chineses. Johnny como sempre fazendo barulho a cada passo que dava, evitar isso era meio que impossível já que o chão era completamente coberto de pedras, mas com certeza tinha como deixar a pisada mais leve e consequentemente fazer menos barulho.
- Matt, socor...
Olhei para trás assustado e vi Johnny imobilizado, sendo levado por um cara não muito forte, ele havia calado Johnny com uma mão e o puxava com a outra. Percebi o pânico na expressão dele, arregalava os olhos e se debatia, tentando se livrar dos braços do mafioso. Nesse momento a raiva me subiu a cabeça, juntamente com uma grande quantidade de adrenalina pulsando por todo o meu corpo.
- Não. Se mete. Com meu. Amigo!
Peguei a maior pedra que vi no chão e corri em direção à eles, pulei para a parede, levantei a perna para chutar o muro e pegar mais impulso para frente e acertei a pedra na cabeça raspada do homem, que amoleceu na hora, caindo inconsciente no chão. Assim que me virei para ir novamente em direção ao avião, Johnny, já solto pelo chinês, me segurou pelo punho e largou a mochila no chão.
- Vamos logo, o que vai fazer? - balbuciei.
Ele me ignorou e abriu o zíper, tirando de dentro da bolso um pacote com shurikens e duas kunais, separou as estrelas ninja entre nós dois, pegou as suas e se levantou.
- Os caras já nos viram e provavelmente estão vindo para cá, então é bom você saber atirar shurikens.
- Mas, isso não iria cortá-los para valer? - eu estava preocupado com as intenções de Johnny.
- A escolha de entrar na máfia foi deles, não minha, que arquem com as consequências - agora eu via uma cena rara: Johnny sendo sério.
Ele tirou as estrelas de ferro no chão e colocou em cima de um veículo caro, então pegou uma e atirou com bastante força num dos homens, que grunhiu e caiu no chão. Foi nesse momento em que eles comecaram a atirar contra o carro. Eu nunca soube dessa habilidade de Johnny em arremessar armas ninjas.
- Agora é sua vez, é só pegar numa das pontas e fingir que é uma pedrinha - ele parecia me ensinar como usar um ataque de videogame -, você mira nele e joga um pouco mais alto, com bastante força.
Então tentei fazer o que ele disse, ainda me sentindo mal ( mau também), por estar fazendo isso com pessoas na vida real, porque com no videogame não tinha o menor problema, muito que pelo contrário, era viciante. Arremessei a shuriken que girou no ar e acertou no ombro de alguém que vinha na frente, apesar. Apesar de tudo, eu até senti um pouco naquilo, exatamente porque parecia com os games que eu jogava, embora nunca tenha jogado Naruto tanto quanto Johnny, que aprendeu até como manusear estrelas e facas de arremesso. Continuamos lançando mais e mais estrelas bc , errei uma, mas meu amigo aqui do lado parecia ter prática, pegava,quase não mirava e arremessava com velocidade. No fim apenas dois sobraram, acho que foi por isso que Johnny separou duas Kunais, provavelmente uma para cada um, deixando para o final, como se fosse para o boss. Me agachei para pegar uma das facas no chão e Johnny me interrompeu.
- Opa, essa é minha - ele pegou a que estava em minha mão e me deu a outra.
Só aí percebi que elas eram diferentes, uma tinha a lâmina no formato de um losango e era preta, com o cabo enrolado de um tipo de tecido, tendo algo parecido com um anel na parte inferior. Já a que Johnny pegou era muito diferente, a lâmina me lembrava um sai, só que menor, sua lâmina era mais extensa e fina, também tinha algumas escrituras em japonês no cabo de madeira lisa. De primeira não entendi porque eram diferentes e nem o motivo da preferência de Johnny, até que ele se preparou.
- Não acredito que realmente estou fazendo isso... - ele falou baixo, então colocou o dedo no "anel" da kunai e a girou loucamente, depois apoiou e lançou com toda dua força no chinês musculoso da direita - Uhu! ESSA É PARA VOCÊ, MINATO!
Com essa fala concluí o pensamento de que Johnny não só jogava, mas via muitos animes, pena que não estamos no Japão, ele ficaria doido para conhecer o mundo dos mangás. Então sem muito intusiasmo, segurei firme o cabo da faca negra e relusente, lançado num movimento giratório, o que me fez lembrar as vezes que jogava caneta na sala de aula quando alguém pedia emprestado. A kunai acertou a barriga do cara, que caiu no chão ainda com o dedo no gatilho, atirando para tudo quanto é lado. Do meu lado Johnny soltou um grunhido alto, então deu um passo para trás, pôs a mão na bochecha esquerda e gritou, gritou desesperadamente. Ele trouxa a mão de volta e a olhou. Sangue. Pôs denovo e tirou. Sangue. Johnny não parou de gritar, eram berros de dor que eu não ouvia dele desde que seu priminho jogou seu nitendo pela janela do primeiro andar. Fui até ele e me inclinei para ver o que era. Alguma bala havia pegado de raspão em seu rosto, que estava com um corte meio fundo da região perto do nariz até um pouco antes da orelha. Tinha mais ou menos cinco centímetros e sangrava muito. Puxei rapidamente a gase da bolsa e um pouco de fita, fiz um curativo simples enquanto ele grunhia de dor. Então antes que mais homens chegassem, saímos correndo à procura de um avião para finalmente sentar um pouco e dormir.

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